Capítulo Trinta e Nove

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Theo estava nervoso. Nos últimos dois meses, não tinha estado assim tão nervoso. Já quase nem se lembrava da sensação que era o nervosismo, por ter conseguido estar tão calmo desde o fatídico dia em que fez a sua confissão em público. Desde esse dia, ele mudara de casa, subira finalmente ao cargo de copresidente da Fundação Saint, ao lado do seu pai, e tinha uma rotina completamente diferente. Sentia que estava a ser útil para a sociedade, para um problema que lhe era tão próximo e importante. Então, porque é que ele estava nervoso?

Eram duas da manhã e ele estava à porta do prédio de Arden Kallis.

O Inverno estava, em teoria, a terminar, mas as noites ainda eram incrivelmente frias e ele não sabia o que é tinha na cabeça quando pegou no seu carro – que, mais de cinco anos depois, finalmente podia conduzir livremente – e conduziu até ao prédio da jornalista. Tinha adormecido normalmente, naquela sexta à noite, mas, quando acordara, fora trespassado por uma sensação imensa de saudades dela. Quase como um robô, ele tinha vestido uma roupa quente e, quando se apercebeu do que estava realmente a fazer, já estava a ligar o motor do seu carro. Theo nunca tinha sido assim tão impulsivo em toda a sua vida – com exceção da altura em que fingiu a sua própria morte para não ter que enfrentar o mundo – mas parecia-lhe ser absolutamente necessário naquela altura.

E se ela não estiver acordada? Claro que não está, é madrugada! Idiota, idiota, idiota.

Theo ignorou os seus próprios pensamentos melhor do que nunca e ganhou finalmente coragem para clicar no botão da campainha. Ele esperava que ela estivesse sozinha em casa, porque definitivamente não queria passar pela experiência de descobrir que ela se tinha cansado de esperar por ele. Mas, assim que pensou naquilo, obrigou os seus pensamentos a alterarem de caminho, porque Arden não deveria ser julgada se se aproximasse de outra pessoa. Eles estavam livres e solteiros e tinham todo o mundo à sua disposição – ela mais que ele, porque sempre o teve.

- Arden Kallis. – ouviu uma voz rouca pelo pequeno altifalante junto das campainhas individuais de cada apartamento.

- Arden.

Em dois segundos, a porta do prédio estava a ser destrancada. Theo sorriu e apressou-se a chamar o elevador. Ela vivia num andar demasiado alto para ele não preferir esperar, então demorou perto de cinco minutos a chegar ao andar correto. Quando saiu do elevador, sentiu o seu peito esvaziar na totalidade ao ver Arden, a apertar o seu pijama no seu corpo, encostada à ombreira da porta como costumava fazer quando estavam juntos. Em quatro passos largos, Theo aproximou-se da sua figura e puxou-a para perto do seu corpo, abraçando-a com todas as suas forças. Não demorou mais que três segundos até sentir os braços dela a rodearam o seu tronco e a sentir o seu coração a acalmar, ao mesmo tempo que o seu.

- O que é que estás aqui a fazer?

- Tive saudades tuas. – admitiu honestamente, sem se preocupar em mostrar-se vulnerável.

- Às duas da manhã?

- A toda a hora. – corrigiu, rindo e coçando a parte de trás do seu pescoço. Arden sorriu-lhe.

- Entra.

E, agarrando na sua mão, puxou-o para dentro do seu apartamento. Assim que o aquecimento interior da casa da jornalista o atingiu, ele retirou o casaco e a camisola que tinha vestido e ficou apenas de t-shirt. Arden envergava o seu robe de seda normal e ele sabia que, por baixo daquilo, estariam uns calções e um top igualmente de seda, de cor vermelha, porque ela usara aquele conjunto algumas vezes quando ele dormira com ela, naquele mesmo apartamento. Tudo parecia diferente, no entanto, porque o corredor outrora vazio do apartamento de Arden estava decorado de pessoas que ele não conhecia. Ao observar tudo aquilo, Theo sentiu arrependimento por nunca ter querido tirar fotografias com ela, enquanto estavam juntos, mas não se martirizou porque a razão era óbvia. Não podia haver registo fotográfico recente de um Theo Levi vivo no mundo.

Equilibrar a VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora