Capítulo Catorze

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- Como assim? – Theo encolheu os ombros e deixou a sua cabeça cair. – Theo, tu sabes que...

- Eu sei, mãe. Mas não ia deixar que ele a matasse. – Linda suspirou, aceitando perfeitamente a justificação.

- Eduquei-te bem, não foi? – a sua mãe piscou o olho, fazendo-o rir.- Como estás?

- Abalado.

Theo não contou de como Arden queria que ele a acompanhasse ao hospital e da ansiedade que apenas ouvir o nome de um sítio como aquele lhe fornecera. Queria guardar isso para si próprio, mais um segredo para encher o seu interior. No entanto, aquele não era um segredo tão pesado como o maior segredo da sua vida. Ele gostava de estar a começar a ganhar uma vida além daquela que partilhava pelos seus pais e, apesar de todo o nervosismo que sentia quando a jornalista olhava para ele, Theo sabia que, aos poucos, a ansiedade estava a ser substituída de novo por adrenalina. Arden Kallis era perigosa mas, milagrosamente, ele estava a começar a gostar do perigo.

Sentado no sofá da sala de estar, como sempre, a sua mãe ligou a televisão e aumentou o volume. No canal de notícias, o primeiro em que qualquer um dos três preferia ter a televisão, antes de verem filmes ou séries, a cara de Arden ocupava grande parte do ecrã. Ao seu lado, estava o apresentador do noticiário, sentado como estava todos os dias, com ambas as mãos sobre a mesa. Era um homem com cabelos pretos e cinzentos, de fato azul escuro – o apresentador de sempre.

- A jornalista Arden Kallis foi hoje, por volta das cinco horas, atacada por um agente da polícia. Testemunhas disseram que o viram intoxicado, a gritar com ela, e que partiu uma garrafa de cerveja no braço da jornalista. Kallis foi levara para o hospital, mas fontes dizem-nos que ela está estável, embora tenha que ficar durante a noite para sua própria segurança.

- Oh, não. Pobrezinha. – Theo não respondeu à sua mãe.

- Este ataque aconteceu no seguimento da publicação de um artigo de Arden Kallis em relação ao homicídio de Michael James, de dezasseis anos, que revelava o facto de o jovem ser fruto de uma violação por parte do agente Leonard Whitt, agora encarcerado. Este foi há dias condenado pela morte da sua mulher, Helen, e do seu filho de dez anos, Henry. Testemunhas reportaram às autoridades que o atacante, identificado como Paul Farmer, culpara Kallis por aparentemente ter sido suspenso do trabalho, embora ainda estivesse a usar a sua farda.

Theo mudou de canal, não querendo arriscar ver imagens de si próprio na televisão. A sua mãe nada disse, preferindo observar a forma como o seu filho lidava com toda a situação. Surpreendentemente, apesar de Theo estar assustado com tudo o que acontecia sempre que ele encontrava Arden Kallis na rua, não sentia a necessidade intrínseca de se refugiar no seu quarto como acontecera das últimas vezes. Naquele momento, a única coisa que o preocupava era a própria Arden. Se ela tivera que ficar durante a noite no hospital, era porque as suas feridas eram mais graves do que o que pensavam e porque receavam pela sua segurança. Ele estava aliviado por não ter cedido ao seu pedido de ir com ela porque, se o tivesse feito, estaria rodeado de polícias por todo lado e isso era exatamente o que ele não queria. Um detetive mais observador e notar-se-ia logo que ele usava cabelo, sobrancelhas e bigode falsos.

Levantou-se, anunciando que queria ser ele a cozinhar o jantar naquela noite. A sua mãe encolheu os ombros, aproveitando que tinha mais espaço no sofá para esticar as pernas. Theo sorriu para a sua mãe e virou costas, caminhando até à cozinha. Abriu o frigorífico cinzento-claro e tirou todos os ingredientes frescos de que precisava para fazer a salada com massa que estava a planear fazer. De seguida, abriu os armários e foi colocando, um a um, tudo o precisava na bancada. Num instante, correu para ir buscar o seu telemóvel e os fones de ouvidos e, quando voltou à cozinha, distraiu-se a cozinhar enquanto ouvia música.

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