Capítulo Quarenta

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Sentado no banco do passageiro do carro de Arden, Theo estava quase colado ao vidro, apreciando a paisagem que os rodeava. Arden conduzia a uma velocidade moderada, sabendo que Theo, embora fosse muito viajado, nunca tinha passado por aquelas estradas. E, para um rapaz que vivera fechado em casa cinco anos e passara os outros cinco entre hotéis e arenas, ela compreendia que fosse chocante passar em sítios em que os únicos seres vivos eram as plantas e alguns esporádicos animais. Olhando para ele, de vez em quando, ela sorria, completamente feliz.

Tinham passado um fim de semana juntos, depois de passarem horas a falarem e decidirem tentar reatar. Passado uns tempos, Arden fizera-lhe o convite de ir com ela na próxima visita que fizesse aos seus pais. Ele, inicialmente, mostrara-se nervoso, mas queria conhecer os pais da jornalista - estava profundamente curioso sobre as duas pessoas que a tinham criado e moldado. Arden já lhe tinha explicado a situação do seu pai e avisado de todos os possíveis assuntos que fossem mais sensíveis e Theo começava a sentir-se cada vez mais calmo. A cada quilómetro que ela conduzia, ele sentia-se mais pacifico apenas pela paisagem por que o carro atravessava. Quase não conseguia acreditar que Arden vivera ali grande parte da sua vida e ainda assim conseguia preferir viver na cidade.

- O que achas, até agora?

- Se fossem os meus pais, eu nunca saía desta zona.

- Diz isso à frente do meu pai, ele vai adorar-te.

Arden conduzia há mais de uma hora e ainda não estavam sequer a metade do caminho, portanto parou na estação de serviço do costume e compraram comida para os dois. Comeram pacificamente, com Theo a encher Arden de questões sobre os seus pais e sobre a sua vida lá. Theo queria que ela lhe mostrasse a vila, fotos dela em mais nova, para ele conseguir imaginar todas as pequenas histórias que ela lhe contava. Ela respondeu a tudo de bom grado, gostando do entusiasmo de Theo para conhecer uma outra parte de si. Nas últimas semanas, ele já tinha conhecido Natalie e David – e dito que eles seriam um ótimo casal -, assim como falara com Joslin ao telefone.

Juntos, tinham ido visitar as campas de Helen e do seu filho, numa espécie de homenagem à protagonista da série de eventos que tinha feito as suas histórias cruzarem. Theo não se fartava de ouvir Arden contar histórias sobre todas as pessoas que ela tinha conhecido devido a todos os artigos e, em contrapartida, ele contava-lhe de situações que lhe tinham acontecido no estrangeiro. Aquelas semanas ajudaram Theo a largar efetivamente toda a mágoa que pudesse sentir e, aos poucos, ele estava a conseguir olhar para trás e lidar com todo o sofrimento que passara enquanto era Levi Saint. Olhando para trás, já não conseguia arranjar em si forças para odiar o artista que vivera dentro de si durante tantos anos, porque tinha sido por ele que Theo tinha concretizado o seu sonho.

O tempo ajudou o coração de Theo a ficar mais leve.

Voltaram para o carro com sorrisos no rosto e comida nas mãos, Theo segurava garrafas de água e algumas sandes, para comerem pelo caminho se fosse preciso, e Arden levava uma chávena reutilizável cheia de café para se manter acordada. Tinham acordado perto das nove, mas dormiram pouco durante a noite, com Theo nervoso por ir conhecer finalmente os pais de Arden. Horas depois e todo esse nervosismo já estava praticamente desaparecido porque, ao olhar para as árvores e para as paisagens verdes à volta, tudo lhe dizia que não havia razão alguma para ter medo. Arden conhecera os seus pais cedo na sua relação, em circunstancias menos que confortáveis, e tinha aguentado e mantido os seus pés firmes no chão. Ele faria o mesmo.

Theo oferecera-se para conduzir, mas Arden ignorou-o completamente, preferindo ligar o rádio para preencher os pequenos silêncios. Por segundos, os altifalantes transmitiram uma música demasiado pesada para qualquer um deles àquela hora e Theo remexeu pelos discos que Arden guardava numa das pequenas gavetas do carro. Quando encontrou o seu próprio álbum, começou a rir, até Arden exclamar que queria ouvir exatamente aquele. Theo abriu então o seu segundo álbum, o preferido da jornalista, e inseriu-o no leitor de CD. Ouvir a sua própria voz era estranho, mas Theo conseguiu distanciar-se e limitou-se a observar Arden, que sabia todas as letras de cor, assim como as mudanças de tom e o comprimento de cada nota.

Equilibrar a VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora