Capítulo Quinze

57 10 47
                                    

- Arden Kallis. – Arden atendeu o telefone com o cumprimento do costume.

- Arden.

A jornalista paralisou ao ouvir a voz da sua mãe. Há perto de seis anos que elas não falavam, depois de cortarem definitivamente relações quando ela mudara de cidade. Inicialmente, ela ainda tivera esperança de que a sua mãe tentasse contactar a sua única filha mas, depois de um ano à espera, percebeu que isso nunca iria acontecer. O poder do seu pai sobre ela era demasiado forte para ela alguma vez o desafiar. Felizmente, nunca soubera de maltratos físicos, nem mesmo psicológicos, mas a personalidade do seu pai era naturalmente dominante – tal como a sua – e a sua mãe sempre preferiu submeter-se a contestar.

- Olá, mãe.

Arden olhou à volta, já cansada do quarto privado de hospital em que tinha sido colocada, apesar de só lá estar há pouco mais de cinco horas. Dali a meia hora, viria uma enfermeira buscar o tabuleiro com o jantar que deixara com ela e, depois, seria esperado que ela fosse dormir. Arden nunca conseguiria dormir sabendo que era precisa a presença de não apenas o Holand como de dois agentes da polícia para a proteger. O homem que a tinha atacado estava bêbado e revoltado. Claro que isso não justificava o que ele tinha feito – principalmente porque o braço ainda lhe doía -, mas Arden percebia a sua revolta. Se alguém lhe tivesse tentado roubar o emprego, ela também teria ficado zangada. Não ao nível de bater em alguém, mas talvez bem perto.

- O que é que aconteceu? Todas as notícias são sobre ti!

- Fui atacada. – respondeu curtamente, como era habitual dela. Ouviu o suspiro da sua mãe do outro lado da linha e sentiu uma pequena pontada no seu coração.

Estava a tornar-se igual ao seu pai.

- Por causa daquele artigo que escreveste?

- Leste-o?

- Sim, Arden. Claro que li.

A informação chocou Arden. Desde que tivera a maior e última discussão com o seu pai, sobre a sua carreira, sempre fora um dado adquirido de que nenhum dos dois iria alguma vez apoiá-la. O seu pai acreditava mais facilmente numa carreira como professora ou como médica do que no jornalismo, puramente pela sua mentalidade mais retrógrada. Desde criança que Arden era apaixonada por contar as histórias à sua volta, por divulgar aquilo que acontecia, e ela tinha espera que o seu pai acabasse por apoiar as suas escolhas. Estava errada, e ela lidara com isso na melhor maneira que pôde. Afastando-se completamente deles.

- Dizes isso como se fosse algo óbvio. Pensei que não falassem de mim.

- Falamos de ti a toda a hora, querida. – Arden ignorou a alcunha carinhosa. – Foste atacada por quem?

- Um polícia. Ele culpou-me pelo facto de a sua mulher o ter deixado e levado os filhos. Encontrou-me na rua e estava completamente bêbado, eu achei melhor ouvi-lo a irritá-lo mais ao fugir. – Arden suspirou, olhando para o teto. – Partiu uma garrafa no meu braço.

- Oh, meu deus! – ela conseguia imaginar na perfeição a expressão que a sua mãe deveria estar a fazer. Ela sempre fora muito emotiva e protetora, era exatamente a definição de mãe galinha. – Ouvi nas notícias que irias ficar no hospital para tua segurança. Arden...o que é que está a acontecer por aí?

- Mãe, eu estou bem. – refutou, cansada daquela conversa. – Muitos polícias estão revoltados por terem sido expostos, mas esquecem-se que a culpa disso não é minha e sim deles próprios. As vítimas têm-se sentido mais confiantes para dizer a verdade, todos os dias há um novo testemunho a aparecer.

Equilibrar a VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora