• nota 1

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Ele ficava andando de um lado para o outro no quarto, procurando sabe-se lá o que. Fios de cabelo molhados, pingando pelas costas nuas, sumindo no tecido da calça que ele vestia. A respiração estava lenta, confortável para o peito dele, junto com suas piscadas de olho confusas. Levava vez ou outra a mão na testa, querendo saber onde tinha metido aquilo que tanto procurava e não encontrava. Parou de repente de frente para mim, deitada na cama entre os lençóis.

— Viu onde coloquei meu carregador?

— Na sala.

Seu olhar foi até a porta do quarto, e voltou pra mim. Até a porta, depois pra mim uma outra vez. Deu de ombros. Pegou a toalha jogada na cadeira e foi secando o cabelo molhado até pendurá-la em algum lugar no banheiro. Sumiu a silhueta por uns instantes, depois voltou. Seus três passos o trouxeram para mim, e bem devagar ele se deitou na cama. De barriga pra cima ele encarava o teto, tão curioso quanto eu. A única diferença era que eu não olhava para o teto, mas sim para ele, lendo seus poucos poros aparentes devido ao banho quente que tomou. Respiração lenta e profunda. Fechou os olhos, sorrindo fraquinho. Ele estava sentindo alguma coisa nova. Parecia um pedaço precioso de algo mais precioso ainda, ainda não descoberto. Talvez uma energia secreta, não sei. Só sei que ele sorria, e sorria tão bem. E enquanto ele sorria, imaginei que ele estivesse pensando nos abraços dessa manhã. Sei que não está, ele quase nunca pensa em nós. Mas permito me enganar assim.

Deixei meu dedo contornar a covinha ali no canto da boca dele. "Tu fica tão bonito quando sorri...", eu disse. Ele de nada respondeu, só continuava a sorrir.

Sorrir.
Sorria.
Sorriu.
Me olhou.
Segredou:

Espero que se lembre de mim quando ler meu sorriso.

Segurou minha mão por cima da minha palma, chegou mais perto. Eu ouvia seu coração. Sentia seu calor, sentia os olhos marejando, a calma saindo de perto da gente, o contorno da mentira virando verdade. Ele é tão bonito. Os amores mais profundos lembram ele. A maresia dos toques, a leveza do beijo, sequência bonita de movimentos. Mãos entrelaçadas. O sol foi embora, exibir-se na outra parte do planeta.

Eu lia seu sorriso.

Garoto bonito,

Me contorna tão bem.

Pele arrepiada. Arte em sussurros, prometendo estar aqui na manhã seguinte. Cabelo ainda úmido, celular ainda descarregado. "Você sorri tão bem", eu disse pra ele, outra vez. Ele de nada respondeu. Só me abraçou com cuidado, e sussurrou que gostava da textura da minha pele. Embebedado nos detalhes da lua de madrugada, entrava por dentro dos meus lençóis e transformava o meu corpo em matéria bonita ao passo que seus olhos brilhavam junto ao furacão do peito. Estrelas caindo lá de cima, dança das nuvens no céu: chorando por ele, chorando por nós. Para que ele sinta o que eu sinto. Raios do sol na Terra que brilhavam no meu corpo.

E então, segredando a madrugada,
Dormiu.

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