Ele se deixou levar. Sentou na beira do sofá da sala e relaxou a postura. Permitiu o ar ir embora de seus pulmões e bebeu um gole do café na xícara. As pernas estavam jogadas de qualquer jeito no tapete enquanto ele organizava as almofadas atrás de si. Provavelmente estava muito concentrado na televisão para reparar que eu venho o observando.
Li recentemente que sorrisos são a janela da alma. A alma dele é linda, disso eu sei. Mas mesmo que ele venha me sorrir do jeito mais belo que saiba, ainda não consigo entender o mundo dentro dele. Conheço apenas uma parte reluzente que me mostra, como se fosse imbatível e nada o pudesse derrubar. Sei que você é mais que um sorriso bonito, Joon. Sei que há aí dentro mais do que essa fachada feliz e adorável que diz tanto ter. Sei que chora, mas não me conta. Por quê não me conta?
Ele é humano, é forte. E o amo por isso. E por amá-lo, de alguma forma me amei também. Não sei como, mas isso significa muito. Só não sei até quando esse "muito" ainda vai respirar pela gente.
— Joon-ah?
— Sim?
— Quem é você?
Ele me olhou. Meu peito bateu forte e um arrepio correu por mim.
— Por quê quer saber?
— Não consigo ler você. Por mais que eu tente, não consigo.
Ele deixou a xícara de lado. Trouxe uma perna para seu peito e levou uma das mãos para os fios de seu cabelo, bagunçando um pouco mais ali. Respirou fundo, provavelmente pensando em algum motivo pelo qual eu insistia tanto em saber sobre aquele mundo dentro dele. Fixava os olhos no quadro do canto da sala, onde as costas nuas de alguém com os cabelos cacheados andava na praia. Ele respirou fundo e abriu a boca algumas vezes. Os olhos curiosos me encararam em seguida.
— Não sou completo de lados bons.
Pessoas morrem. Isso não é segredo pra ninguém. Seja a morte dos sentimentos enquanto estamos vivos, ou a morte de verdade e obscura no fim das contas. Não sei quanto tempo me resta até essa morte. Mas sei que dependo dele para continuar viva por sentir, e por mais que eu o ame, isso é uma merda.
— Ninguém é. — Meu sussurro quase inaudível chegou até ele.
— Sei disso. Sei muito bem disso... — Ele coçou os olhos, cansado. — Acho que não sei sentir as coisas. Digo, eu sinto, mas ao mesmo tempo, não sei sentir. É estranho.
Eu gosto de jogar baralho, Joon. Gosto do ar, gosto de viver. Tenho medo de estar perdida. Mas saiba que se sua pele continuar me abençoando com seu toque sagrado, ainda me rendo perante você e me perco de mim.
— Joon-ah?
— Sim?
— Você pode me sentir?
Há trovões lá fora. Ouvi sussurros do que ele disse, mas não compreendi suas sílabas. Suas mãos começaram a viajar pelo meu corpo e de repente, eu já não lembrava o que tinha perguntado. Precisava saber, mas não me lembrava.
Respirar. Cheiro de terra molhada. Corrida pelas nuvens em um lugar lá fora. Dança bonita da madrugada; aurora boreal. De repente, galopes de um cavalo fazendo eco por aí. As flores nunca pareceram tão coloridas.
Água que não dá para beber, garoto que não dá pra tocar.
— Joon-ah?
— Sim?
— Sorrisos são a janela da alma. — Olhei para ele. — Não sinto sua alma quando você sorri pra mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Que Seja Válido • Joon
FanfictionEle tocou a versão mais crua de mim. Não existe história a ser contada, não existe perdão a ser pedido. Só existe sangue para suar na carne, e uma pele bêbada e solitária pedindo o abraço dele de volta. Talvez seja por isso que eu morri de mim mesma...