• nota 2

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Pela manhã, percebi a luz do mundo lá fora entrando lentamente pela janela. Ela me beijou o rosto e depois beijou o rosto dele, que dormia ao meu lado. Procurei no meu interior um pouco de sorriso vivo, alguma chama acesa. Mas tudo ainda estava morto; a grama estava recém-cortada.

- Amanheceu rápido. - Disse ele ao acordar. - Acho que sonhei contigo.

- Sonhou? O que houve por lá?

- Não sei se posso dizer. É segredo.

- Tão secreto assim?

- Tão secreto assim.

Se aconchegou mais nos travesseiros, e ainda meio sonolento, ele sorriu. Me perguntei o que seu sorriso significava. Talvez o sonho realmente fosse alguma coisa boa ou, quem sabe, a gente finalmente estivesse vivendo através dos sonhos dele. Mas ele nunca me diria. Guardaria para si, deixando isso ser seu segredo profundo, costurado na sua mente com linha grossa. Tudo para manter aquela sensação ainda viva e forte no peito.

Sua mão costumava ser pesada, mas agora me contornava em um abraço com delicadeza. Suas costas se repousavam no amontoado de travesseiros, e minha cabeça estava em seu peito nú. Eu ainda usava sua camiseta e me deixei entreter pelo cheiro dele, até que não houvesse escapatória para fugir de seus braços. E eu bem sabia que meu rosto ainda me entregava o medo. Talvez as bochechas coradas o fizessem pensar que eu estava envergonhada demais para olhá-lo nos olhos, mas na verdade eu só estava sufocada.

A ponta do meu dedo contornou o queixo dele. Nossas pernas enroscadas e a pele transpirava em contato. Sua boca estava vermelha pelos beijos da madrugada, e eu só pude sentir o peito bater mais rápido, me afogando nas memórias daquilo que vivemos ontem.

A Lua trocou de lugar com o Sol, sua testa se encostou na minha. Todos os apertos, todos os arrepios, a pele tremendo, as mãos juntas. Beijos inseguros e medrosos, temendo ser a última vez. Já não me lembrava se era para ficar ou se era pra correr dele. Eu o trouxe entre os braços para poder sentir o quão real ele era. Poderia jurar para qualquer um que nossos mundos nunca sumiriam dali, que ele sempre seria eu e eu sempre seria ele.

- Tive medo de sumir. - Sussurrei.

- Eu também. Mas não precisamos disso. Você sabe. - Fez um carinho na minha cintura e beijou minha testa. - Vamos ficar bem.

Devagar e com cuidado, me soltou. Se levantou e andou calmamente até o canto do quarto, vestindo uma outra camiseta e falando que iria nos passar um café. Por fim, quando ele se foi, pude soltar o ar dos pulmões e ter ideia do quanto eu queria gritar.

"Me desculpe, amor. Eu discordo de você". - Eu queria dizer. - "Me perdoe anjo, mas é que a gente precisa do medo."

Eu não iria querer levantar questão atoa. Nós podemos virar pó a qualquer momento, precisamos correr. Acho incrível como ele tenta ignorar que tudo isso está morrendo. Lindamente, morrendo. Sufocando e brilhando.

Tudo morre um dia, amor.
Não nos deixe morrer também.

Que Seja Válido • JoonOnde histórias criam vida. Descubra agora