Capítulo 1 - Inovar ⊽

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LIANA

— Gostou? — Abri a cortina e dei uma voltinha dentro do provador, exibindo o sutiã preto de renda para a minha amiga.

A loja de lingerie estava vazia. Apenas nós duas ocupávamos o longo corredor com as cabines de provadores.

— Hum... Lingerie nova e esmalte vermelho. Uma combinação interessante. Entendi tudo, Li. — Sentada em um pufe do outro lado da cortina, Carla exibia um sorriso malicioso. — Hoje é terça-feira.

— Não começa, Carlinha. Eu só quis inovar... — Levantei a mão, observando o brilho escarlate nas minhas unhas recém esmaltadas.

Acostumada a usar cores neutras — o que inclusive era uma das exigências do hospital em que eu trabalhava —, o vermelhão me causava um pouco de estranhamento e, ao mesmo tempo, uma ansiedade gostosinha que agitava meu estômago.

— Ficaram lindas. Combinou com seu tom de pele — elogiou, sorrindo. — A Casa de Saúde agora permite que as enfermeiras usem unhas vermelhas?

O esmalte forte realmente valorizava a minha pele, que tem uma tonalidade marrom quente. Quase uma Beyoncé no clipe "Haunted".

Espera um pouco. Quase uma Beyoncé? Não, não. Só no tom de pele e nas unhas vermelhas. Mas quem me dera ter também aquela autoconfiança da diva.

— Não. Mas depois do último plantão de hoje peguei folga de dois dias — expliquei. — Só volto para lá na sexta.

Tirei o sutiã preto, recolocando o meu antigo, um modelo branco. Depois, coloquei o meu vestido, deixando o provador com a calcinha e o sutiã novos em mãos.

— Lingerie nova, esmalte vermelho e, ainda por cima, folga no trabalho? — Ela se levantou e ampliou o sorriso, me conhecendo bem demais. — Entendi o motivo de tudo.

— Motivo? — repeti a palavra distraidamente, entregando as peças rendadas à vendedora do caixa.

— São para presente? — a moça quis saber, registrando a compra. — Forma de pagamento?

— Não. No crédito, por favor. — Entreguei o cartão a ela, que o passou na maquininha.

— Motivo. — Carla voltou a falar, cutucando meu ombro. — Motivo que tem nome e sobrenome, e quase um metro e noventa de arrogância. Antônio Medeiros. Ele vai hoje?

A simples menção do nome do meu melhor amigo fez um calor subir pelo meu corpo, aquecendo as bochechas.

— Vai. — Tentei ao máximo soar indiferente. Guardei o cartão de crédito na carteira, a jogando na bolsa. — Como em todas as terças. Exceto quando estou trabalhando. E o Tom não é arrogante...

— Você sabe que eu não vou com a cara dele, amiga. — Quando passou as mãos pelos cabelos loiros, suas pulseiras balançaram, e o som metálico atraiu ressoou pelo ar. — O advogado fodão que se acha a última bolacha do pacote. Vocês são amigos há... O quê? Dez anos?

— Quinze. — Soltei um suspiro, pegando com a vendedora a sacolinha com a compra. — Quinze anos. Desde o Ensino Médio.

— Uma década e meia, Li! E por que vocês nunca ficaram? Até parece que o espertinho não notou seu crush por ele...

— Porque... Se a gente tivesse ficado... Não existiria mais a amizade de uma década e meia. Simples assim. Fora a questão do meu irmão... Eles eram melhores amigos. Desde crianças.

Eu não havia contado a ela sobre aquele beijo com Tom, naquela noite em que ele bateu na porta da minha casa, tanto tempo atrás.

Foi um beijo filho único.

Amor Por Uma Noite [RELANÇAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora