Capítulo 5 - Interpretar ⊽

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LIANA

"Senti sua falta, porra..."

Seria uma grande mentira se eu dissesse que as suas palavras não me balançaram. 

Balançaram, sim. 

Demais

Mas e daí? 

Ele nunca tomava qualquer iniciativa.

— Não seja exagerado, bonitão. Uma semana sem mim não é nada. Você sobreviveu — brinquei para descontrair.

Dei um passo para trás, porque sua proximidade me abalava além da conta, e puxei a minha mão da sua pegada, prendendo os cachos em um rabo baixo.

Tom apenas me olhou feio.

— Não tem nada para me contar mesmo? — Cruzou os braços sobre o peito, o semblante impassível. — Sobre o porquê de ter se afastado.

— Não, já disse. Andei ocupada... Com coisas do trabalho. Nada de importante.

— Está de carro? — Olhando ao redor, analisou os veículos iluminados pela luz amarelada dos postes.

— Não, vim de Uber.

— Perfeito. — Apertou o controle do seu Mercedes esportivo, o destravando do outro lado da rua.

Segurou no meu cotovelo de maneira levemente bruta e, juntos, atravessamos a rua. 

Tom abriu a porta do passageiro para mim, sem falar mais nada. 

Agradeci, me sentando no banco de couro macio e perfumado, já prendendo o cinto de segurança.

— Onde você estava antes? — perguntei a ele, que se acomodava atrás do volante, retirando a jaqueta de couro.

— Em casa — disse, ligando os faróis e, depois, o motor barulhento.

— Mas você disse que tinha um lugar para ir hoje...

— Sem vontade — murmurou com os olhos no espelho retrovisor e partiu com o carro, acelerando rápido.

— Aham. E onde vamos? — Levei as mãos à barriga, que roncava mais uma vez. 

Por sorte, o estrondo do motor era bem mais alto, disfarçando o barulho do meu estômago. Queria saber quais eram os "melhores lanches da madrugada", como ele havia falado.

— Vai ver. Acabou a porra do interrogatório?

Meu coração afundou com a sua grosseria e, bem trouxa, percebi os meus olhos se encherem de lágrimas. Não respondi nada, mordendo a boca em desconforto. Continuamos em silêncio por dois ou três minutos.

Tom não me olhou nem uma vez, nem quando parou em um sinal vermelho. 

Observei seu perfil sério, fechado, com um vinco de irritação entre as sobrancelhas espessas.

— Tom... Se quis me buscar no trabalho para me tratar mal, pode me levar direto para casa.

— Melhor mesmo — resmungou, apertando o volante com tanta força que parecia que iria o quebrar.

— Ei... — Pousei uma mão no seu antebraço, apreciando o contato com a pele quente, coberta por pelos macios. — O que foi, hein? Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu. — Expirou com força, apertando os olhos ao parar em mãos um sinal vermelho. Quando os reabriu, suas íris verdes exibiam um brilho triste, me amolecendo no mesmo instante. — Te conto se me convidar para subir na sua casa, preciso de um café. Por favor.

Amor Por Uma Noite [RELANÇAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora