Capítulo 2 - Investigar ⊽

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LIANA

— Quer café? — ofereci a Tom.

Eu estava na entrada da cozinha, ao lado da cafeteira italiana chique que moía os grãos na hora.

Presente dele, lógico.

Tom lavava a louça com tranquilidade, cantarolando uma música que não identifiquei qual era.

— Quero. Sempre — respondeu, virando o rosto para trás, sorrindo para mim. — O risoto estava sensacional, Li. Um dos melhores pratos que já fez até hoje.

— Jura? Já posso casar? — brinquei, sem pensar, fazendo seu sorriso morrer na hora. Droga.

O clima leve se evaporou instantaneamente, dando lugar a uma tensão incômoda, como uma nuvem espessa pairando no ar.

— Quer me contar alguma coisa? — questionou, sério, fechando a torneira.

Tom enxugou as mãos fortes no pano de prato, quase com raiva, e se virou de frente para mim para completar:

— Está saindo com alguém?

— Não, não. — Dei um risadinha para tentar descontrair, fugindo do seu olhar.

Mexi nas xícaras coloridas de café, as ajeitando em cima dos pequenos pires. Acrescentei:

— Pode deixar que, quando eu encontrar alguém, você será o primeiro a saber.

— Certo. — Relaxou os ombros, sem soltar o pano, expirando o ar pela boca. — E você falou em "encontrar". Quer dizer que está procurando?

— Talvez — murmurei, levemente desconfortável com o assunto.

A gente nunca falava sobre relacionamentos.

Era um tema que o deixava estressado, o fazendo falar mal da mãe, da instituição falida que era o casamento, etc.

Eu entendia que se tratava de um ponto delicado para ele, traumático até, e havia lhe indicado que fizesse terapia mil vezes.

Tom assentiu, em silêncio, com a cabeça baixa. Torceu o pano de prato com as mãos, aborrecido, sem me olhar.

— Ei... Se anima, garotão. Seu café ficou pronto — avisei, com leveza.

Ele levantou o rosto, esboçando um sorriso sutil.

— Obrigado.

— Só você mesmo para tomar café agora, quase meia-noite... Aqui está.

Me aproximei, com o café fresquinho em uma bandeja pequena.

O aroma estava uma delícia e fiquei com água na boca, mas resisti bravamente e não preparei uma xícara para mim.

Eu não podia tomar cafeína à noite.

Já bastava a ansiedade, minha companheira fiel, para me tirar o sono.

Tom finalmente largou o pano na pia, pegando o café comigo.

Tomou o líquido quente em dois goles, sem açúcar, nem nada, e já lavou a xícara na sequência.

"Eficiência" poderia ser seu sobrenome.

— Pronto. Está limpa a louça. — Meneou com a cabeça na direção da pia e desceu os olhos para o relógio de pulso. — Preciso me trocar.

— Obrigada por lavar tudo.

— São as regras. Um cozinha, o outro lava. — Tom abriu um sorriso bonito, que deu aquela aceleradinha gostosa no meu coração.

Em seguida, saiu e voltou para a cozinha, trazendo a sua sacola, a apoiando sobre a mesa. Retirou de dentro dela uma camisa social azul, em um tom forte, quase anil.

Amor Por Uma Noite [RELANÇAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora