Prólogo ⊽

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QUINZE ANOS ATRÁS

LIANA

— Pêssegos. Não. Ameixas. — Apalpei meus seios minúsculos em frente ao espelho, desanimada.

Tantas meninas de 15 anos — a minha idade — pareciam mulheres formadas, cheias de curvas, enquanto eu era obrigada a me ver em um corpo mirrado, que teimava em aparentar no máximo 13.

Inspirei fundo, limpando a maquiagem do rosto com um chumaço de algodão.

Depois, enquanto tirava a roupa, liguei a televisão do quarto para disfarçar o silêncio esquisito. Era sábado, mais de onze horas da noite, e eu estava sozinha em casa.

Deixei na Globo, notando que já havia terminado o programa Zorra Total. O filme no ar, "O Mistério da Libélula", tinha uma musiquinha de fundo horripilante. Desliguei o televisor depressa, me tremendo inteira.

Droga, Leo. Cadê você?

Meus pais tinham ido viajar em comemoração aos 20 anos de casamento e o meu irmão, para variar, tinha saído. Leonardo era dois anos mais velho do que eu e não parava em casa, com os infinitos compromissos com os amigos e com os grupos de estudo. No último ano do Ensino Médio, se matava de estudar para prestar o vestibular de Medicina. Do jeito que era esforçado e inteligente, eu acreditava que conseguiria de primeira.

Com o estômago ainda embrulhado da pipoca, praguejei por ter pedido manteiga extra ao atendente do cinema, horas antes, melando a minha boca e fazendo com que o beijo com Bruno se tornasse ainda mais estranho.

Sua falta de jeito só não era maior do que a minha falta de vontade. Era a quarta ou quinta vez que a gente se beijava e as coisas não melhoravam. Pelo contrário...

A nossa química ia ladeira abaixo.

Se bem que, pensando melhor, ele devia gostar dos beijos. Afinal, o garoto de cabelos castanhos havia me pedido em namoro, ao me deixar em casa de táxi. Indecisa, fiquei de pensar.

Liguei para as minhas amigas assim que cheguei e todas disseram que eu seria louca em não aceitar. Bruno era bonitinho, inteligente, engraçado. Parecia o Rodrigo Santoro, da novela "Mulheres Apaixonadas", mas...

Namorar na adolescência era isso? Essa coisa sem graça, sem sal, sem emoção?

E as borboletas no estômago? E o frio na espinha? E o coração disparado?

Eu queria o pacote completo.

"Não seja ingênua, Liana... Essas coisas das novelas e filmes não existem na vida real."

"Você precisa namorar alguém, ou vai se tornar a encalhada da escola."

"Bruno é legal! Estuda na nossa turma e, como é amigo do meu namorado, podemos sair em casal."

Elas falaram, tentando me convencer. Insegura, combinei de tomar um sorvete com ele amanhã cedo para dar a minha resposta.

Para tanto, eu precisava dormir logo. Não queria já chegar com olheiras no meu possível primeiro dia de namoro.

Após vestir a camisola da Hello Kitty, prendi os cachos em um coque e, espalhando o hidratante de morango pelos braços, desci as escadas para pegar um copo de água.

Assim que pisei no hall, dei um pulo para trás com as primeiras pancadas na porta. Meu Deus...

Quem poderia ser a essa hora?!

Nem morta que eu abriria a porta, sozinha em casa.

— Leo! Sou eu, cara! — Mais pancadas fortes, rápidas, descoordenadas. — Abre!

Amor Por Uma Noite [RELANÇAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora