Capítulo 9 - Esquecer ⊼

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*** GATILHO: CENA DE ABUSO FÍSICO (MASOQUISMO) ***

TOM

— Doutor Antônio. — Matheus entrou na minha sala sem bater, daquele seu jeito folgado, expansivo. — Ainda por aqui?

Colega de faculdade, Matheus Rezende havia fundado comigo a "Medeiros Rezende Advogados Associados" há cinco anos.

Não chegávamos a ser amigos, com trocas de confidências e afins, mas a nossa dinâmica profissional funcionava bem.

— O que você acha? — Debochei, desanimado, girando a cadeira de rodinhas para o lado, lhe dando as costas.

Pela ampla janela de vidro, que descia do teto ao chão, observei a Avenida Paulista toda acesa, com as luzes contrastando com o céu escuro, sem estrelas. Desci os olhos para o meu relógio de pulso e, inspirando fundo, me dei conta de que já passava das oito da noite.

Nos últimos dias, eu trabalhava como um condenado, de manhã cedo até tarde da noite, procurando ocupar a cabeça para que, invariavelmente, eu não ficasse pensando nela.

— A minha reunião terminou só agora. — Ele se jogou na cadeira do outro lado da minha mesa, bagunçando os cabelos loiros. — Foda. Das dezoito até agora para concretizar um único acordo de divórcio. A casa de praia estava sendo disputada a unhas e dentes... A mulher venceu, é lógico.

— Elas sempre vencem... — murmurei, desligando o computador. — Por essas e outras não faço Família. Cada processo é uma dor de cabeça.

— Ainda bem que eu faço. Ou perderíamos uma boa parcela de clientes. Enfim, mais um caso encerrado com sucesso. — Cruzou os braços, abrindo um sorriso satisfeito. — Vamos tomar uma cerveja saindo daqui?

— Não vai dar — respondi, sem vontade alguma de confraternizar com ele.

Ou com ninguém.

Me levantei, vesti o paletó e, em seguida, recolhi meus objetos da mesa. Chaves, carteira, celular.

Chequei rapidamente se havia alguma mensagem de uma certa pessoa e... Nada. Ela não tinha me procurado mais, desde aquela fatídica noite.

Pensei que com o decorrer dos dias ficaria mais fácil, menos dolorido, mas... Pelo contrário. Aquele seu silêncio estava me destruindo.

Os motivos da nossa discussão permaneciam turvos para mim. Sim, eu fui desonesto, porém ela também foi. E, se não queria que a gente finalmente fizesse sexo, por que marcou a porra do encontro?

Mulheres eram contraditórias, indecisas, confusas. O melhor que eu poderia fazer, para não foder com a minha cabeça, era fodê-las do jeito que eu estava acostumado. Sem compromisso, sem apego, sem nada. Me propor a fazer sexo com uma amiga ou, até mesmo, conhecida? Nunca mais.

— Ah, hoje é terça! — Matheus comentou, animado. — É o dia que você janta com aquela sua amiga de infância... Liana.

Cacete. A simples menção do seu nome me dava nos nervos.

— É... Tenho compromisso. — Não desmenti a afirmação dele porque não queria que fizesse mais perguntas.

— Vai direto para o apartamento dela? — Quis saber, enquanto eu trancava o escritório. — Me dá carona? Não vim de carro. Lembra... Eu moro na mesma quadra que ela.

— Ok. — Assenti. Não me mataria ter que me desviar um pouco do meu caminho de casa. — Só não fuma na minha Mercedes.

Impaciente, apertei duas vezes o botão do elevador, como se isso fosse fazer alguma diferença.

Amor Por Uma Noite [RELANÇAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora