Linha Tênue

Capítulo 10

I'm jealous of the rain

- Jealous, Labrinth

Ethan Hernandez – Março, 2012

Olho para a chuva da janela do meu quarto com o pensamento longe. Estava pensando nela. Sempre foi ela.

Todos os anos em que voltava para casa eu encontrava uma Sofia diferente. Vi quando ela era uma criança pestinha que sempre estava metida em confusão e eu tomava para mim a responsabilidade de assumir sua bagunça.

Vi quando ela cresceu e se tornou uma adolescente rebelde me usando de escada para fugir pela janela do quarto. Eu sabia que ela fugiria de qualquer forma, eu só ajudava para ela não terminar torcendo um pé na tentativa de fugir dos pais para alguma festa. E então, eu a vi se tornar uma mulher. E essa foi a transformação mais difícil, pois nessa eu não pude estar ao seu lado. Tive que assistir de longe enquanto ela caminhava para a vida adulta sem mim.

Encosto minha cabeça no vidro e fecho os olhos lembrando de quando a vi de novo após todos esses anos. Se a Sofia de 18 anos já me atormentava, essa Sofia de 25 era para acabar comigo definitivamente. Ela estava tão linda que eu não tinha palavras para descrever isso. Seus traços agora mais maduros, seu corpo com mais curvas.

Mas se por um lado seu corpo floresceu, sua personalidade murchou. Sofia era uma mulher triste e isso qualquer um poderia ver.

Atormentada demais por tudo que aconteceu e pelo que teve que passar. Deus sabe que eu era culpado por parte dessa tristeza.
Vejo meu celular vibrar ao meu lado e um número que eu nunca apaguei apareceu com uma mensagem na tela.

"Me encontre no bar. Precisamos conversar."

Suspirei cansado e rumei para o bar do Hotel. Sofia não sabia, mas eu estava hospedado aqui, eu sabia que se dissesse isso ela iria embora no segundo seguinte, e eu não conseguia deixá-la ir. Mas eu sabia no fundo que deveria.

Cheguei no bar e vi Tom sentado no balcão já bebendo sua tradicional cerveja. Sentei ao seu lado e pedi uma dose de tequila.

- Como ela está? - Perguntei sem rodeios. Eu sabia sobre quem ele queria conversar.

- Tem certeza que quer saber? Você não pareceu se importar todos esses anos. - Disse afiado. Eu merecia isso.

- Eu tenho. - Respondi simples.

Tom me avaliou, pensando se eu merecia saber ou não. Por fim, ele assentiu levemente com a cabeça antes de derramar a informação que eu queria.

- Ela está uma merda. O que ela passou foi duro demais. Para mim e Anne foi difícil, mas Sofia... Aquilo a destruiu. Ela levantar da cama depois de tudo é um milagre - respondeu ele.

Fechei os olhos com raiva. Eu imaginava que tinha sido ruim, mas eu ainda tinha uma esperança idiota de que não fosse tanto. De que ela sendo a Sofia seria forte mais uma vez e se recuperaria.

- Como ela tem lidado depois que... Você sabe. - Perguntei sem conseguir mencionar o que aconteceu e Tom pareceu entender. Eu não sabia se queria a resposta.

- Com um copo o tempo todo na mão, bêbada demais para sentir qualquer coisa. - Disse Tom - Ela tem saído muitas noites sem rumo, com corpos estranhos e muito álcool, se Anne não chega a tempo para arrastá-la de algum bar ela some por muitas horas, às vezes dias, e a cada vez que isso acontece vai ficando pior -