Entro em seu quarto desesperada por não ver o que queria. Tento conter o pânico, enquanto meu lado lógico grita que que ela só sumiu por poucos minutos.
Meu celular apita.
"Achei, está na árvore."
Solto o ar aliviada e vou direto para o jardim. Lá no alto, erguida orgulhosamente está minha casa da árvore parecida saída de outra vida.
Subo as escadas que estão mais firmes do que nunca depois da reforma que passou 5 anos atrás.
Escuto sua risada desleixada antes de ver seu rosto.
- Eu tenho certeza que não está escrito isso, papai -
Minha garotinha olha para o livro pousado em suas pernas enquanto suas costas estão apoiadas contra o peito de Dimitri.
- Não me culpe, culpe o livro. Está bem aqui. - Dimitri aponta para um trecho da página rindo.
Seu rosto infantil se contorce em uma careta e eu sei que ela não vai parar até ter a resposta que quer.
- Não papai, isso não está certo. Essa palavra não é chulé, eu sei como é a palavra chulé e não é essa - Ela responde olhando em seus olhos esperando.
Dimitri aponta de novo para o livro.
- Aqui claramente diz que crianças de seis anos que somem sem avisar os pais desenvolvem chulé permanente -
Preciso dar um crédito para quão sério ele parece dizendo isso. Eu sei de quem ela puxou essa determinação. Dimitri me avista mas não dá sinal de que me viu, está esperando ela levar seu tempo na construção do seu argumento sem interrupções.
Sua cabeça balança furiosamente de um lado para o outro, seus cachos castanho avermelhado batendo em seus ombros.
- Não papai, mamãe me ensinou sobre suor, não é assim que funciona -
Nesse momento ela me vê parada na escada, sorrindo lindamente.
- Que bom que você chegou, mamãe... Agora explica para o papai que eu sempre vou ter pés com cheirinho gostoso -
Rio da sua saudação e entro na casa de cabeça baixa por conta da altura do teto.
- Querida, não posso garantir isso, você ainda pode ser uma adolescente fedida. - Digo tampando o nariz de brincadeira enquanto dou um beijo em seu cabelo.
Ela ri e suspira passando os dedos pela folha.
Já se perdeu em seus pensamentos.
Por quê você está aqui, bebê? É seu primeiro dia, achei que estava animada - pergunto.
Por um tempo ela continua brincando com as folhas do livro, sem olhar para cima.
- Não quero ir mais. Estou com medo - Responde.
Desde que minha mãe morreu e meu pai não poderia mais se cuidar sozinho, Dimitri e eu decidimos voltar para nosso antigo bairro e morar na minha antiga casa, por sorte sua mãe ainda é nossa vizinha. O ruim de tudo era começar em uma escola nova, por isso o medo da minha pequena.
- Eu sei que é assustador mas você já fez uma porção de outras coisas com medo meu amor, isso não é diferente... - respondo pacientemente.
- Como quebrar seu braço tentando subir aqui quando tinha 4 anos - zomba Dimitri.
- Ou quando roubou doce da dispensa e achou que eu não sabia - Revelo para seus olhos arregalados de espanto.
- Pois é mocinha, eu vi - cutuco sua barriga fazendo-a rir.
- Isso não é doce ou a casa da árvore, eu conheço os dois... Eu não conheço essa escola nova. Eu não sei se vou gostar -
- Mamãe vai estar lá com você e qualquer problema que tiver você pode pedir pra alguém chamar ela - lembra Dimitri.
- Eu vou estar ensinando pertinho de você para as crianças mais velhas meu amor, não tem com o que se preocupar -
Foi uma sorte e um alívio eu conseguir emprego na mesma escola.
Ela assente ainda meio incerta - Podemos comer pipoca hoje a noite? -
Pisco confusa enquanto Dimitri sorri. Crianças e suas crises passageiras são engraçadas.
- Se você for uma boa menina hoje, nós podemos fazer melhor - respondo tendo uma ideia.
Seus olhos brilhantes piscam para mim em curiosidade.
Que tal irmos para o parque? Acho que você já é grandinha o bastante pra andar de roda gigante -
Ela grita feliz, sempre quis ir nos brinquedos maiores, eu com medo, não deixava. Mas ela estava crescendo, eu precisava relaxar um pouco.
- E quando estivermos lá no alto seu pai vai te ensinar algumas filosofias de vida - digo zombeteira soprando um beijo para Dimitri.
Escuto Dimitri gargalhar e me puxar para um beijo.
- Fisolofia de quê? - pergunta ela trocando as letras. Minha garotinha linda.
- Filosofia de vida da mamãe - responde Dimitri com sua voz profunda.
Vejo ele guardar o livro que estava jogado no chão e se levanta com ela em seu colo. Sua altura não permite que ele se estique por completo mas é o suficiente pra ele manobrar a descida com ela apoiada.
Já no chão aliso seu uniforme enquanto Dimitri pega minha pasta e uma pequena mochila roxa com lancheira combinando.
Esperamos por ele dentro do carro e quando ele entra me viro para minha garotinha.
- Pronta para hoje, Mase?
Seu sorriso banguela e seu polegar pra cima apontam que sim.
***
[NOTAS FINAIS]
Minhas últimas notas, eu nem tenho palavras. Foi uma honra escrever essa história. Apesar de tudo, amei cada pedacinho dela, de vocês.
Beijinho de Luz, amoras, me aguardem que esse não é um adeus.
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Linha Tênue
RomanceAfter a traumatic event, Sofia's life collapses, filled with endless problems. In order to help her find a new perspective, her friends decide to take her on a unique journey. However, during this journey full of surprises, Sofia encounters ghosts f...