Linha Tênue

Capítulo 20

All we need,
all we need is hope
And for that we have each other
- Rise up, Andra Day

POV Rose

Uma semana havia se passado desde a cena que eu causei no hotel.
Lissa esteve hospitalizada a semana inteira, mas mesmo mantendo contato por mensagem eu não consegui vê-la.

Nos primeiro dias tive crises horríveis de abstinência. Dores de cabeça, suor frio e tremores pelo corpo... Dimitri esteve ao meu lado o tempo todo se certificando que eu bebesse muita água e comesse coisas leves. Eu não conseguia dormir, as vezes, eu não conseguia nem respirar.

O pior eram os devaneios. Vira e mexe eu fantasiava com Dimitri se distraindo e eu indo beber alguma coisa. O desejo era tão latente que eu sonhava com isso. Via-me com uma garrafa na mão e bebendo até a última gota, saboreando daquele veneno. De repente, eu acordava com a boca seca de desejo e coberta de vergonha ao perceber por onde meus pensamentos me levaram.

Eu lembro de ir até o restaurante do hotel no terceiro dia após as crises abrandarem. Dimitri dizia que seria bom ver aquele lugar com outros olhos e que eu deveria começar a tentar comer algo mais substancial. As pessoas dali pareciam não me reconhecer e os garçons eram gentis.
Tirando isso a maior batalha se desenrolava dentro de mim.

Foi uma noite tão longa. Eu ouvia os copos tilintarem e as pessoas rindo me sentindo completamente desesperada vendo bem ali diante dos meus olhos como elas pareciam felizes. Como o álcool dava aquela sensação de falsa felicidade que eu queria tanto. Lutei contra as lágrimas nos meus olhos vendo uma mulher da mesa ao lado que deveria ter a minha idade levando uma taça de vinho a boca.

Aquele copo parecia me chamar, como um canto de sereia enganando minha mente me fazendo pensar "se eu me controlar e tomar apenas uma taça eu posso dormir melhor essa noite"

Dimitri me encarava e perguntava se eu estava bem vendo meus olhos desfocados. E era nesses momentos que eu me sentia sozinha, ele queria entender mas não acho que podia.

Naquela noite, mesmo sem acreditar, eu implorei por um poder maior. Algo que me ajudasse. Fosse algum Deus ou o universo. Se ele existisse e se pudesse fazer algo por mim que me ajudasse a passar por aquilo. Eu só precisava passar aquela noite no mundo real.

Eu lembro de comer da forma mais rápida que pude, engolindo tudo sem parar. Dimitri me acompanhou até meu quarto e após ele ir embora eu corri para a cama e chorei. Não lembro como sequer peguei no sono, só lembrava do choro e de esgotar todas as forças que tinha pensando em como não descer naquele momento e beber.

No dia seguinte acordei feliz por ter vencido aquela batalha comigo mesma, agradecendo a aquele novo poder superior por ter me ajudado no meu pior dia sóbria.

Acho que naquela noite encontrei em mim algo que há muito havia perdido... Uma fé que funcionava.

E foi essa crença que me impulsionou a ir hoje no grupo de apoio de AA.

Eu me senti estranha na reunião. Admitir para mim que eu era alcoólatra foi muito difícil. Era como um atestado de que eu havia falhado completamente. Mas eu pensava em todos os motivos para estar ali. Ter o controle da minha vida novamente e poder ver Lissa e o bebê. Ver meus pais. Ser alguém que eu me orgulhasse e eles também.

Eu via pessoas aparentemente normais e todas elas tinham sua história de como iniciou a bebida.
Era engraçado que mesmo sendo um grupo que variava tanto em idade e gostos tudo começou do mesmo jeito.

Todas elas passaram por uma situação difícil de suportar e o álcool serviu de fuga. Fosse um ente querido morto, problemas financeiros ou até traumas não superados.