Capítulo 17

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O que eu bebi por você
quase sempre era ruim
E bem antes do fim
eu já tava à mercê

O que eu bebi por você
me fazia tão mal
Que já era normal
acordar no bidê

- O que eu bebi, Clarice Falcão

POV Rose

O sol estava se pondo no horizonte da cidade do pecado, mas ainda me fazia suar, eu quase podia me sentir doente.

Eu passei o dia com o Adrian e ouvir ele falar da sua irmã me fez pensar em Mason... Passei o dia tentando esquecer mas bastou um momento de fraqueza pras memórias voltarem com força total.

Eu queria dizer que eu só lembrava do sangue e dos incontáveis dias no hospital, mas era pior... Eu lembrava do sorriso dele cheio de sardas nas bochechas. Lembrava quando ele fazia voz de palhaço pra me fazer rir.

As vezes quando eu estava quase acordando de manhã por um segundo antes de abrir os olhos eu podia ver seus cabelos ruivos completamente amassados no travevesseiro apontando para todas as direções enquanto ele ainda dormia. Por um segundo tudo parecia normal. Mas eu abria meus olhos e a realidade me atingia. Eu sozinha dormindo no sofá da nossa casa incapaz de deitar na cama que dividimos.

Era por isso que doía tanto. Se fosse só a morte e a dor eu conseguiria esquecer algo tão ruim com o tempo, mas como esquecer tudo que tornava Mason tão incrível? Como esquecer que eu nunca mais teria aquilo de volta?

Antes de Vegas essas memórias vinham e voltavam, eu achava que estava conseguindo controlar e que o álcool me ajudava com isso. Agora, com Dimitri parecia que tudo tinha voltado pra estaca zero.
O álcool já não tinha o mesmo efeito que antes e o meu controle era menor.

Isso me fez pensar na solução mais rápida... Mais álcool. Eu já tava na merda que diferença faria me afundar mais um pouco?

Foi com isso em mente que antes de voltar para o hotel eu parei no caminho em um posto de beira de estrada pra comprar algumas cervejas. Provavelmente seria minha última, Lissa ia querer que eu prometesse algo assim, eu tinha certeza.

O plano era tomar um banho, colocar algo no meu estômago vazio para me recuperar e me trazer alguma sensação de normalidade antes de encontrar Lissa, eu não queria que ela me visse assim.

Mas como a vida era uma vadia comigo logo na porta do prédio eu a vi parada com seus olhos de águia me perseguindo... Lissa via meu estado com decepção estampada no rosto.

Se a forma como eu me sentia refletia minha aparência então eu podia confiar que eu estava horrível. Meu cabelo desgrenhado grudava na minha pele de uma forma quase nojenta, meu vestido amassado e o cheiro de cerveja barata impregnado em mim. Para piorar eu ainda me sentia tonta, com um zumbido no ouvido que dificultava pensar.

Lissa veio em minha direção e eu me encolhi automaticamente. Pra quem afirmou horas atrás que ela não era minha mãe eu obviamente tinha medo dela como se fosse.

- Lissa eu... - Comecei e parei. Eu não sabia o que dizer. Eu travei por que o que mais eu iria inventar?

Engoli em seco sentindo um gosto amargo na língua e calando a minha boca da tentativa ridícula de me desculpar.

Lissa me encarava parecendo um anjo vingador, não demonstrando absolutamente nenhum sentimento de misericórdia. Mas foi ouvir sua voz que eu percebi o quanto ela estava sofrendo.

- Você o quê, Rose? Sente muito?

Assenti fraca me apoiando na porta sentindo os joelhos tremendo.

Linha TênueOnde histórias criam vida. Descubra agora