Um novo dia, uma nova oportunidade de reclamar.

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Capítulo 2

Já reparou que andar de ônibus é um dos piores lugares para ignorar você mesmo?

Por exemplo, assim que eu sai de casa para o meu primeiro dia de trabalho falei para mim mesmo:

- André, você vai andar até o ponto, entrar no ônibus, se tiver sorte ele vai estar vazio e você vai conseguir ir sentado, colocar seu fone de ouvido e não vai ficar se lamentando pelas coisas que não deram certo na sua vida.

Mas aqui estou eu, me lamentando pelas coisas que não deram certo na minha vida!

Tudo bem, eu assumo que tem muita gente em uma situação pior que a minha, mas poxa vida, estou tendo um mês péssimo, será que não posso ser reclamão por alguns minutos?

O começo do meu ano foi incrível, parecia que ia ser o meu ano. Consegui uma pontuação excelente no Enem e ganhei 50% de bolsa na faculdade dos meus sonhos!
Só que a faculdade em questão é muito longe da minha casa (para falar a verdade é em outra cidade), teria que arrumar um lugar para morar, foi aí que conheci o Jeferson, meu colega de quarto! Bem, ele é... legal.
Depois, com muita sorte, consegui um estágio que pagava razoavelmente bem e era perto de casa, o que fazia eu economizar na passagem e até me sobrava um tempo para fazer academia!
Assim que consegui o emprego, recusei o dinheiro que minha mãe me dava para as despesas, agora eu conseguia me virar e ela podia gastar com ela mesma, nada mais justo!

Só que quando eu menos esperava, o filho do chefe que não ia com a minha cara, fez o pai dele me demitir sem razão alguma, um otário!

Liguei para avisar a minha mãe que talvez precisaria de uma ajuda até conseguir outro estágio, só que antes que eu falasse algo ela me contou uma novidade: ela iria se casar de novo.

Sinceramente, eu adorei ouvir ela tão feliz, fazia tanto tempo que estava solteira... ela continuou com as novidades:

- Você sabe que não estou namorando a bastante tempo, mas mesmo assim resolvi aceitar! Estamos pensando em juntar nossas economias e fazer uma grande festa e... comprar uma casa! Ainda bem que você conseguiu um emprego e não precisa mais de dinheiro, graças a isso tenho certeza que vamos conseguir! E você como está? Ligou para contar algo, não é?

- Er... nada não, mãe, só estava com saudades!

É claro que não tive coragem de falar nada para ela, resolvi ser honesto com o Jeferson...

- Então, cara, foi isso que aconteceu. Você sabe que adoro morar aqui, mas se eu não conseguir outro estágio na próxima semana... realmente não sei o que vou fazer!

- Porra, mano! Se tivesse falado antes eu já teria te ajudado! Eu sei de uma vaga de emprego!

- Sério? Onde? Como? Sério?

- Você disse "sério" duas vezes...

- Fala logo! - falei sem paciência.

- Como estamos ranzinza hoje... - lancei um olhar feio, deu certo, isso fez ele prosseguir. - Minha chefe tem uma filha que precisa de aulas particulares, parece que ela ficou doente e não conseguiu terminar o ensino médio. Não é um estágio, mas com certeza paga bem!

- Aulas particulares? Para filhas de chefes? Não tenho boas experiências com esse tipo. - me lembrei daquele otário que fez o pai dele me demitir, que raiva!

- Bem, a outra opção é admitir a derrota e arrancar o dinheiro da nova casa da sua mamãe e do seu padrasto. - ele juntou as mãos e falou como se tivesse uma câmera o gravando. - Já até vejo sua pobre mãe segurando o choro, tendo o sonho de sua festa de casamento tirada a força de suas mãos pelo seu filho ingrato e ranzinza...

- Chega! Qual o número que tenho que ligar?

Fiz uma entrevista, de fato muito longa. Acho que só faltou a Raquel (chefe do Jeferson) me perguntar se o certo era biscoito ou bolacha.
Não vou negar que fiquei com um pouco de medo da filha dela quando ela disse:

- Bem, minha filha sempre foi muito inteligente, mas teve que largar a escola por conta da... doença dela. Você não vai ter problemas, ela é uma menina que pega as coisas muito rápido e são pessoas divertidas... digo, ELA É UMA PESSOA divertida! - mexeu-se desconfortável na cadeira. - É uma menina fácil de lidar... - pegou seu copo de água e deu um gole, pareceu que estava muito nervosa. Depois disse muito baixo, distraidamente. - Pelo menos na maior parte do tempo.

E aqui estou eu, indo trabalhar em algo tão desinteressante!
Um trabalho que fez eu mudar o horário da faculdade porque aparentemente a mimadinha acorda tarde! Um trabalho no outro lado da cidade que não vai me deixar tempo nenhum disponível...

Merda! Quase perdi meu ponto.
A Raquel disse que era só dois minutos de caminhada para chegar na casa da filha dela, ela estaria me esperando (claro, se a mimadinha não estivesse dormindo).

Chegando lá, preparei meu sorriso mais falso e apertei a campainha, a porta se abre e meu sorriso desaparece na hora...
Ali, na minha frente, está ela.
Alguém que eu não esperava ver de novo.

A garota dos meus sonhos...

Minhas 8 NamoradasOnde histórias criam vida. Descubra agora