Aprendendo a se enganar.

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Capítulo 6

Para falar a verdade, ainda estou confuso!
Eu conheci a Ana faz muito tempo (apesar dela não se lembrar), e na época não tivemos a oportunidade de conversarmos muito, então é claro que não teria motivos para ela ter me contado que tinha uma irmã gêmea.
Mas quando eu pedi para chamá-la, a Nicole disse que a irmã tinha saído. Saído! A Ana tinha ido para o segundo andar e não desceu mais, ela simplesmente pulou a janela? Isso não faz sentido algum!
E é perfeitamente normal duas irmãs terem tatuagens combinando (por mais diferente que o desenho pareça).
E eu teria aceitado o que a suposta irmã me disse e ido embora mas... o jeito transtornado que ela estava... sei lá, só não achei certo! E quando toquei no nome da Raquel, a expressão que ela fez apenas me deu a certeza que: eu realmente não deveria deixá-la sair.
Porém, agora sentado no sofá de frente para ela, ainda não tenho certeza! Quem é ela? Nicole a "irmã gêmea" ou a Ana tirando uma com a minha cara?
É claro que elas são completamente iguais como todas as gêmeas idênticas. Mas são tão diferentes no modo de ser! Se realmente for a Ana brincando comigo, tenho que admitir: ela é uma ótima atriz! Aqui estamos esperando a Raquel enquanto várias latinhas de cerve...

- Eu sei que eu sou lindíssima, mas será que você poderia parar de me encarar? – diz Nicole interrompendo meus pensamentos.

- Er... desculpe! Só estou tentando me lembrar se a Ana falou algo de você... – minto.

- Fica tranquilo, ninguém lembra... é como se eu não existisse de verdade – ela dá uma risada, mas parece tão triste, vira o resto da cerveja, levanta do sofá meio cambaleante, vai até a geladeira e grita:

- Inferno! Acabou as bebidas! – bate a porta da geladeira com força enquanto fala meio enrolado, o álcool já estava fazendo efeito - Agora sou obrigada a aguentar o senhor tornozeleira eletrônica sóbria – ela claramente não estava sóbria – ninguém merece!

-Então – digo enquanto me encosto no batente da porta da cozinha - agora ninguém me merece? – não sei o porquê, mas eu não resisti em provocá-la – Trinta minutos atrás eu era "Uau! Só... uau" – digo tentando imitar seu jeito.

- Cala a sua boca – ela vem andando na minha direção e aponta o dedo no meu rosto – ou eu vou calar e aposto que você não vai achar nada legal – a raiva nos olhos dela, o jeito de me ameaçar... me lembrava algo.

- Espera – digo tirando com delicadeza sua mão da frente do meu rosto – por acaso você já foi na escola no lugar da sua irmã?

- Escola – ela fala cada vez mais arrastado – como assim?

- Eu estudei com a Ana no ensino médio – confesso enquanto a encaro – mas eu tenho quase certeza que vi você várias vezes por lá.

- Você... se lembra... de mim? – ela lentamente tenta assimilar o que eu acabei de falar, depois arregala os olhos como se estivesse muito surpresa, então rapidamente desvia o olhar – Que seja! Cadê essa Raquel que não chega? - passa por mim e vai em direção ao sofá andando de uma maneira muito engraçada - Já deu de você por hoje.

- Já cansou de mim? – vou atrás dela e a vejo deitar no sofá – Você enjoa fácil de uma pessoa que acha "lindo"? – eu a provoco novamente, mas ela não se enfurece dessa vez, apenas levanta um pouco a cabeça, me analisa e diz:

- Seus olhos – ela fala sonolenta – qual a sua ascendência?

- Hum? – definitivamente ela vai dormir a qualquer instante – Meu avô por parte de pai é coreano.

- A Kim vai adorar! – ela dá um sorriso e então a cabeça dela cai no sofá, Nicole adormece.

Não passa muito tempo até a Raquel chegar, temos uma longa conversa. Com alguma relutância ela me conta a verdade.

Agora estou aqui olhando para a Ana/Nicole dormir enquanto a Raquel foi na farmácia buscar uma cartela de aspirina para quando sua filha acordar. E eu só consigo pensar em: múltiplas personalidades.
Estranhamente isso fez sentido! A Ana não parece ser alguém que fica pregando peças nas pessoas ao ponto de inventar uma irmã gêmea. No ensino médio eu tinha tido a sensação que a "bad girl" parecia ser outra pessoa... então foi por isso que ela largou a escola! Realmente é um motivo válido. E aquele grito enquanto segurava a cabeça, era por isso que...

- André? – Ana acorda de repente, senta e olha no relógio – Nossa aula já acabou faz tempo – ela ainda fala lento, amanhã a ressaca dela não vai ser nada legal – eu bebi?

- Deita de novo, Ana! – eu falo gentilmente – A Nicole bebeu muito você deve estar...

- Então foi isso – ela me corta, parece envergonhada – ela apareceu. Desculpa eu...

- Não precisa se desculpar, sua mãe já me explicou tudo. Está tudo bem! – ela me olha desconfiada – É sério! A Nicole é... engraçada! – agressiva mas legal eu penso - Eu gostei muito de conhecê-la!

- É claro que você gostou... – ela vê meu olhar confuso e explica – Todos os homens gostam da Nicole, todos me acham bonita quando ela está no controle – Ana dá um sorriso tímido.

- Eu acho você bonita dos dois jeitos, Ana ou Nicole, tanto faz! Você está sempre bonita! – olho para a Ana e ela está sem graça, me dou conta do que acabei de falar – Er... eu quis dizer – Raquel abre a porta me salvando daquela situação constrangedora, levanto do sofá em um pulo – hora de ir embora! Tenho faculdade amanhã cedo. – vou em direção a porta e aceno – Tchau! – e fujo como um covarde.

Entro no ônibus e meus pensamentos correm descontrolados.
Eu não sou mais aquele adolescente nerd que se apaixonou pela primeira garota que foi gentil com ele.
Eu acabei de fazer aquele elogio (de maneira vergonhosa, admito) porque... quando uma pessoa está se sentindo mal, não custa nada tentar o seu melhor para reverter a situação.
E eu falei para a Raquel que vou continuar a dar as aulas porque... eu preciso do dinheiro, oras!
Está tudo certo! Eu não estou me apaixonando de uma maneira patética de novo, eu posso parar de pensar nela quando eu quiser!
Tudo resolvido, penso aliviado... mas na metade do caminho para a casa pego o celular, abro o Google e digito no pesquisar "TDI".

Minhas 8 NamoradasOnde histórias criam vida. Descubra agora