Muito prazer, eu!

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Capítulo 49

Cinquenta e oito.
Cinquenta e nove.
09:00 horas.
Faz três horas que estou acordada, sinto-me exausta, porém não sinto sono.
Falta-me o ar e meu corpo está pesado, parece que estou afundando no colchão.
Quero levantar da cama e não consigo, esse sentimento não é uma novidade, mas nos últimos tempos estava um pouco mais fácil de lidar.
Fecho os olhos e inspiro profundamente, tenho que conseguir!
Abro os olhos e sento.
Um pé e depois o outro.
Levanto, vou direto ao banheiro, tiro as roupas e enfio-me debaixo do chuveiro. Preciso urgentemente fingir que meu rosto está molhado pela água do banho e não pelas lágrimas.
Dizem que a procura pelo CVV no final de ano tem um aumento significativo.
Os motivos são diversos: decepção pelos planos não cumpridos, a falta de alguém para as comemorações, a perda de algum ente querido e muitos outros.
Muito estranho. Não possuo expectativas, não quero me conectar com alguém e não tenho ninguém para perder.
É inconcebível eu estar decepcionada com algo.
E já é fevereiro!

Arrumo-me e desço a escada.
Não tenho afazeres e também não sinto vontade de fazer algo.
Resolvo alimentar-me, honestamente mal sinto o sabor dos alimentos.
Chego na cozinha e vejo minha mãe alimentando-se enquanto mexe no celular.

— Acordada antes das 13:00 horas em um sábado? — aproxima-se, coloca a mão na minha testa como se eu estivesse doente e ri. Fico sem reação, contato físico deixa-me desconfortável. Repentinamente ela fica séria e retira a mão do meu corpo. — Desculpa, Emily. Pensei que fosse a Ana.

— Quer que eu a chame? — pergunto com esperança.

— Não precisa! — infortúnio. — Quer comer o quê? — pergunta com uma animação quase infantil. Vai começar.

Nossa mãe prepara-me um misto-quente enquanto tagarela, quando percebe que o assunto não está rendendo, pega o celular e finge que está mexendo. Sei que está me observando, sinto-me em um reality show, é enervante.
Retiro-me e vou até os livros.
Olho por cima do ombro e vejo que ela acompanhou-me até a sala.

— Não vou trabalhar, podemos fazer algo juntas! — uma workaholic quer ficar em casa para fazer-me companhia. Devo ser muito preocupante.

— Tenho uma dúvida. — ela olha-me em expectativa. — Deixaria de trabalhar se fosse qualquer outra aqui? Não precisa responder, está claro que não.

— Emily, não quis...

— Me deixar desconfortável? interrompo-a. — Não deixem a depressiva sozinha, ninguém sabe o que pode acontecer, certo? — subo a escada. — Fique tranquila, a porta ficará destrancada para você me vigiar a cada cinco minutos.

Costumo pensar: eu me deixaria sem supervisão?
Mas é difícil, escolhem as palavras cuidadosamente, observam cada gesto meu, tratam-me como se eu fosse quebrar a qualquer momento!
Vou para o headspace, elas irão trucidar-me por voltar rápido?
O gazebo está vazio, ouço gritos vindo da tenda da Ana, estão discutindo?
Corro antes que me notem, paro em frente à minha tenda, encaro os pontos de interrogação e sorrio.
Brisa deu-me esse apelido. Entro e sento no sofá.
Ela é especial, sei que integrou-se por mim, só de dar-me aquele apelido mostra o quanto é empática.
Muitas pessoas pensariam em mim como a "depressiva".
Isso não é uma característica, por exemplo, o TDI não resume a Ana.
Ela é divertida, organizada, gosta de jogos e de fazer exercícios. É errado pensar nela apenas como a mulher que tem oito identidades.
Já a Brisa apelidou-me por ser misteriosa, sou tão grata!
Não importo-me com o apelido, desde que não me obriguem falar sobre o passado...
Fecho os olhos e respiro fundo, não acredito que pensei em "passado". Tento impedir as imagens de brotarem na minha mente. É inútil, sempre perco essa batalha...

Minhas 8 NamoradasOnde histórias criam vida. Descubra agora