Por um mundo mais vegano!

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Capítulo 3

Finalmente! Depois de um bom banho, uma aspirina, três litros de água e 8 horas de sono... voltei a me sentir eu mesma de novo!

"Eu mesma" era algo falado normalmente por outras pessoas, mas tinha um significado maior para mim... fazia tanto tempo que eu não sabia mais o que era ser eu mesma!

Bem, pelo menos não depois do dia que fui diagnosticada com TDI (transtorno dissociativo de identidade), ou como muitos conhecem: dupla personalidade.
Sinceramente esse nome me faz rir... "dupla", quisera eu ser só duas!
Além de mim, Ana, "vivem" dentro do meu corpo outras sete personalidades. Ou seja, um só corpo e oito pessoas! Oito!

Tem dias que realmente é um inferno.
Eu simplesmente apago e não lembro mais do que aconteceu. É claro que sempre sei qual delas veio me fazer uma visitinha, é só dar uma olhada em volta e ver o que a "querida" da vez deixou de bagunça, somos muito diferentes, então é fácil distinguir.

Por exemplo, hoje acordei em meio a uma "festinha", fedendo a álcool, vestindo uma calça justíssima e um belo decote. E para finalizar, uma tatuagem nova de brinde, é claro que só podia ser a Nicole, a mais aparecida!
Digamos que ela é a minha maior rival, não acho que as outras e eu temos a melhor amizade do mundo, apenas tentamos nos respeitar na medida do possível.
Já ela... não segue nenhuma regra!
De todas as maiores burradas que já fiz na minha vida, ela com certeza é culpada da metade!

Tudo começou aos quinze anos, digamos que a Nicole resolveu ser a minha fase rebelde, todas as noites ela dava um jeito de fugir. Minha mãe já foi me buscar em cada lugar... pois eu não fazia ideia de como voltar para casa.
Para tentar ajudar, minha mãe contratou um segurança para ficar em frente à nossa casa, é claro que Nicole não ficou nada feliz com isso.
Ela simplesmente começou a aparecer durante o dia, que era quando eu estava na escola, foi o ápice da minha vida escolar!
Ela começou a matar aula várias vezes por semana, arrumava brigas no intervalo e nem vou falar quantas advertências já levei por culpa dela!
Minha mãe, coitada, já não sabia mais o que fazer para ajudar, então ela utilizou seu último recurso... me tirou da escola.

E por anos venho fazendo tratamento para me livrar delas, infelizmente sem resultado.
Resolvi parar de perder tempo e fazer algo por mim. Faz muito tempo que não faço o que quero!
Vou terminar o ensino médio, minha mãe até já contratou alguém para me dar aulas particulares.
Ele deve estar chegando...

E exatamente às 18 horas a campainha toca.
Abro a porta e me deparo com um cara que deve ser da minha idade, alto, com traços asiáticos, o cabelo arrepiado e uma cara de bobo.
É sério, ele está me olhando com os olhos arregalados e com a boca meia aberta, isso era para ser um sorriso?
É claro que não posso negar... ele é muito bonito.
Me dou conta que nunca vi esse cara na minha vida. E aqui está ele na minha porta, parecendo que viu um fantasma, então isso só quer dizer que... Droga, Nicole!
Eu implorei para ela nunca passar o nosso endereço! Respiro fundo, dou uma ajeitada no cabelo, abro um grande sorriso e falo:

— Oi, lindo! — ele arregala ainda mais os olhos, então começo a me explicar. — Olha, honestamente eu gostei muito da nossa noite juntos, sério! Ela foi maravilhosa... — o queixo dele caiu na hora. Claramente eu não estava indo bem, então me desesperei e comecei a falar muito rápido. — Desculpa se você se sente usado, não foi minha intenção te magoar, mas qual é? Nós dois somos adultos! Uma noite de sexo não significa que teremos que nos casar e...

— Ana? — ele pergunta com as sobrancelhas levantadas e com as mãos tentando me fazer parar de falar.

— Sim, sou eu! — respondo rápido e continuo me explicando. Olha, eu te prometo que nunca mais... — paro de falar e o encaro. Ele disse "Ana"? Não "Nicole"? Falo com uma voz fraca. — An... Oi?

— André! — diz apontando para si mesmo. — Você sabe quem eu sou, né?

— Claro! — eu digo me segurando para não levantar os braços com a esperança de Deus me puxar e me tirar daquela situação, que mico! — Você é a pessoa que minha mãe contratou para me dar aulas particulares... — eu falo com uma voz de choro e com um sorriso falso no rosto. Pode entrar!

— Er... sim, sou eu. —  parece estar decepcionado. Não é de se admirar, olha como eu o recebi! Meu nome é ANDRÉ... Não nos conhecemos de algum lugar? — ele pergunta esperançoso.

— Não que eu me lembre. — respondo analisando o rosto dele, depois falo mais baixo. — Eu realmente espero que não...

— O que disse? — reparo que ele está chateado com algo.

— Nada não! — abro um sorriso. Desculpa te confundir com outra pessoa... — falo envergonhada. — Eu imaginava você de uma maneira diferente.

— Como? — pergunta me olhando nos olhos.

— Como o quê?

— Como você me imaginava? — ele definitivamente está curioso.

— Ah, sei lá... não tão jovem. — e bonito, grita a minha mente. Vai saber o que eu imaginava! — dou uma risadinha.

— Hum... — ele ainda está me encarando.

— An... eu separei alguns livros, eles estão alí. — digo apontando para a mesa. Pensei que a gente poderia começar pela matéria que eu sou péssima: matemática! — digo tentando deixar o clima mais leve e falhando miseravelmente. Sério, alguém me ajuda?

— Tudo bem. — ele se resume a responder isso. Vai até a mesa, pega um dos livros e senta na cadeira que está mais próxima. Podemos começar?

— Você... você quer beber algo?

— Água, por favor. — responde sem tirar os olhos de mim.

— Tá! — digo aliviada por ter um motivo para sair da vista dele. Me viro e vou andando em direção à cozinha.

— Espera! — paro e o olho. Ele se levanta e vem andando em minha direção. — Sua tatuagem me chamou a atenção. — droga! Ele estica o pescoço e olha minha tatuagem com um olhar confuso. — É um... gato? Comendo uma maçã?

— É! — tiro o lacinho do rabo de cavalo, meu cabelo cai e esconde a tatuagem. Quem sabe assim ele para de olhar!

— Eu sei que é chato perguntar, não precisa responder, é claro... — fala com delicadeza. — Qual é o significado?

— An... — você acha que eu sei meu anjo?! Pergunte à Nicole! O gato está comendo uma maçã porque... — vou tentando improvisar. É um gato... vegano? — ele levanta as sobrancelhas. Tá legal isso foi péssimo! Vou pegar sua água!

Saio da sala quase correndo, tem como esse dia piorar?

Minhas 8 NamoradasOnde histórias criam vida. Descubra agora