5 | ᴏʟʜᴏs ᴠᴜʟɢᴀʀᴇs

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M E E R A

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M E E R A

          Entrevia-me pelo reflexo que o espelho proporcionava.

          As sardas esparramadas por minha face disfarçavam as olheiras que se estendiam no contorno de minhas pálpebras inferiores. A íris prateada de meu olho emanava uma tristeza profunda; intensa como a água de um oceano em desordem. Meu espírito estava desolado e acanhado. Há anos não me sentia tão desmotivada como situo-me hoje.

          Deslizava com um pente sobre os fios de cabelo negrume e rebeldes no intuito de deixá-lo baixo, mesmo que não obtenha sucesso. Suspirei demasiadamente, buscando em meu interior, uma única razão para revigorar minhas forças, e não me deixar ceder aos impulsos nervosos e ansiosos.

          Observando meu retrato, minha aparência não era tão desgastada, mas em minha índole sentia-me destruída. Como se agulhas perfurassem cada tecido de meu corpo, e uma rosa de espinhos cortantes ploriferasse em meu âmago. Era uma horrível sensação que tomava proporções irremediáveis.

          - Carol, já estou de partida, tranque as portas com muito cuidado. - A alertei, aproximando-me da porta de madeira, com tintura branca e puída. - Se algo acontecer, não se esqueça de ligar para mim. - Ela assentiu, e me despedi, saindo do apartamento.

          Não gostava da ideia de deixá-la sozinha com o ritmo que as coisas estão sendo levadas, porém, infelizmente, é um dos preços a se pagar por esconder a verdade. Todos os dias perco-me em devaneios melancólicos; em como eles poderiam capturá-la, torturá-la e até a matar. Esse tipo de pensamento me corrói e é disso que tenho mais medo: de a machucar por causas que remetem a mim.

            Todos os dias mudo minha trajetória para o trabalho, precaução caso alguém esteja me perseguindo por locais estratégicos. É um pouco mais distante e gasta-se um tempo maior, contudo, não é nada impossível. Detroit é a cidade dos sonhos, e a mais famosa e prestigiada do estado de Michigan.

          Às vezes penso que ainda deveria morar com meus tios, e que talvez nada disso teria acontecido se eu ainda residisse com eles. No entanto, como um pássaro juvenil que se desprendia de uma gaiola, conquistei minha independência. Quando nossa mãe desapareceu, eles foram os únicos que nos aceitaram e nos acolheram. E, por isso, sou eternamente grata.

          Recordo-me de minha infância e os bons momentos que tive ao lado de minha figura materna, são pequenos lampejos, pois já esqueci de quase tudo. Diziam que eu me assemelhava a ela, que os cabelos negros e bagunçados eram idênticos. Eu sinto sua falta à cada segundo e a cada suspiro; amargura-me saber que esses momentos com ela não retornarão e, nesse momento, não ultrapassam lembranças de uma mulher angustiada e solitária com a vida.

O SoberanoOnde histórias criam vida. Descubra agora