Xavier

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– Vai ser uma festa básica, Suz. Apenas para conhecermos melhor nossos colegas de classe.

– Conheço você muito bem para saber que não vai ser uma festa básica.

Reviro os olhos para Suz. Eu jamais seria capaz de aprontar alguma coisa, onde já se viu?

– Minhas intenções são as melhores possíveis, maninha.

– Suas intenções nunca são as melhores – diz enquanto digita alguma coisa no celular. – Ainda mais quando quer convidar todos da classe para vir aqui, especialmente os prodígios.

– Minha aura de vilão é mesmo tão explícita quanto você sugere? Porque eu acho que nem tenho.

Rolo na cama dela e me levanto, seguindo até sua escrivaninha e sentando-me, girando a cadeira para ficar de frente para ela.

– Quem está falando isso é você. Estou apenas comentando que é no mínimo suspeita essa sua vontade de dar uma festa e convidar pessoas que você não gosta.

Dou um sorriso. Suz me conhece melhor que ninguém, e o fato de sermos gêmeos ajuda ainda mais seu senso crítico sobre mim – o que me deixa um pouco frustrado. É muito difícil esconder dela meus reais motivos, e muito raro conseguir. Mas não custa tentar burlar essa regra, não é?

– Poxa, só quero me desculpar com eles. Admito que fui um babaca, estou aqui admitindo para você, e o que você faz? Joga na minha cara que estou tramando um plano mirabolante para ferrar alguém. Sinceramente...

– Pare de colocar palavras em minha boca, Xavier – ela se levanta e me encara. – Nem você acredita nessas palavras.

Uma sombra de sorriso passa por seus lábios e sei que estou quase conseguindo que ela aprove a ideia. Teremos a casa totalmente para nós durante o final de semana, mas não posso fazer uma festa sem que minha irmã concorde, porque se algo der errado papai não vai dar bronca na filhinha favorita.

Mudo de expressão, contraindo as sobrancelhas e os lábios na melhor descrição de cachorrinho sem dono, e desvio o olhar.

– Você sabe que as coisas só funcionam se me ajudar – choramingo. – Ninguém vai vir se você não convidar.

Claro que todos viriam se eu convidasse, porque eu sou Xavier Franco. Mas tenho dúvidas se quem eu mais quero que esteja aqui, aceite o convite.

– Não sei – ela suspira. – Irei me sentir culpada, caso algo aconteça. Algo acidentalmente aconteça.

Tento esconder meu sorriso maquiavélico dela antes que perceba, girando a cadeira para a escrivaninha. Não que eu esteja planejando mesmo algo, mas vai que alguma coisa ruim aconteça com alguém e a culpa caia sobre mim, seria péssimo, certo?

– Sempre acontece algum imprevisto em festas, maninha. Essa é a graça da vida. Ela é como um show que você não pode controlar.

– Uma festa pode até ser controlada, se você, não estiver à frente dela – Suz olha o celular novamente e depois para mim. – É uma boa ideia, concordo. Mas o problema é que ela veio de você.

Ponho a língua entre os dentes e balanço a cabeça negativamente. Suz está resistente a ideia, muito mais do que eu achei que ela pudesse. O que está me deixando meio irritado. Por que toda essa cautela? Sempre tivemos as melhores festas da escola, partindo das de aniversário até as de final de semestre, e ela sempre amou.

– Tudo o que eu quero é me redimir, Suzane – minto.

Suz ergue uma sobrancelha e balança a cabeça para mim, seus cabelos cacheados balançando sobre os ombros lisos. Ela abre um sorriso e discretamente olha para a tela do celular. De quem é a mensagem que está esperando? Caminho até ela e tiro o celular de suas mãos.

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