– Nos encontramos em minha casa no sábado, ou preferem em outro lugar?
– Por mim tudo bem – Dan responde.
– Tanto faz – Eric diz.
– Se preferir pode escolher outro local – digo tentando não soar grossa ou coisa parecida.
– Não, tudo certo. Mas tem que ser depois das cinco – ele gira o lápis nos dedos e depois escreve mais alguma coisa em seu caderno. – Tenho que ajudar meus pais na padaria.
Soube mais coisas a respeito de Eric na última semana sem me esforçar do que quando estava paranóica em busca de informações. Ele não é tão chato, afinal. Tivemos algumas tarefas em grupo que nos ajudaram com a "falha de comunicação", e Dan foi essencial para isso por que agiu como uma ponte entre a gente.
– Suz e eu podemos começar, se quiser – Dan sugere e uma voz interna grita para que ele não dê essa ideia, porém não falo em voz alta.
– Dou meu jeito, relaxa.
– Sem querer ofender – digo já com medo do que ele irá pensar –, mas não é perigoso você voltar a noite sozinho?
Ele meneia a cabeça.
– Desde que não dê uma tempestade e que eu perceba quando dois caras numa moto se aproximarem, até que não.
Não me contenho quando ele sorri e faço o mesmo, ainda que não tenha tido graça. Sinto um certo aperto no peito ao imaginá-lo em uma situação de perigo iminente, então balanço a cabeça para espantar o pensamento.
– Dan e eu podemos ir para sua casa, se quiser. Estamos abertos a qualquer opção.
– Fica tranquila – diz.
Eu concordo com a cabeça, só que ficar tranquila ao lado de Eric me parece uma tarefa quase impossível. A verdade é que estou pisando em ovos com ele. Tenho que admitir que é uma situação um pouco claustrofóbica para mim, mas sinto medo de falar com ele e ofendê-lo sem querer. Quero ser sua amiga, muito mesmo, entretanto se for para estar sentido essa aflição sempre, é preferível que mantenha uma distância aceitável.
– Por que está tão tensa? – ele me pergunta como se tivesse acabado de ler minha mente.
– Não estou, não – minto.
– Parece que você tá segurando a respiração.
– Você que está vendo coisa onde não tem.
– Também acho a mesma coisa – Dan murmura.
– Agora que os dois se voltaram para mim, com certeza estou tensa – os dois pares de olhos me encarando fazem com que eu dê um sorrisinho nervoso.
Dan volta sua atenção para o caderno e Eric continua me olhando como se examinando alguma coisa. Fico meio sem jeito porque até a alguns dias atrás não sabia que se ele me olhasse assim, eu me sentiria tão incomodada, como se ele fosse uma ameaça da qual devo correr. O que é um pouco engraçado, se compararmos nossa situação atual com a de antes. Há uma inconstância no que está acontecendo neste exato momento, pois é estranha a forma como chegamos aqui.
Para falar a verdade, não faz sentido. Dias atrás Eric mal se dava o trabalho de olhar em minha cara e agora age como se sua resistência em se comunicar comigo ou com qualquer outro daqui não tivesse acontecido. Me recordo de Joana falar algo sobre a vida de Eric e que isso influenciava em sua personalidade de vez em quando. Talvez tudo esteja bem em casa, afinal de contas. Espero que sim.
– Pare de me encarar – digo com a voz baixinha e desvio o olhar.
– Daniel, ei – ele cutuca Dan. – Suzane fica dessa cor toda vez que alguém olha para ela?
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Herdeiros
Teen FictionSuzane é doce, simpática, calma e uma garota de coração gigante. E, embora seu coração esteja em pedaços, ela sabe que tem que ser forte, mas às vezes não consegue isso e depende do irmão para se manter de pé. Xavier é o completo oposto da irmã. Tem...