– Tudo bem, turma, quero todos sentados em grupos – Bruna fala. – Os trios selecionados.
Como Dan e eu já nos sentamos na mesma mesa, não fazemos muito esforço para organizar nossas carteiras. Mas há Eric. O primeiro impulso que tenho é de chamar Dan para irmos até ele, mas controlo esse sentimento de dever e fico em minha carteira apenas lançando um olhar em sua direção que diz "Você que venha até mim, se quiser". Talvez seja um pouco autoritário demais ou extremista, mas não quero que ele pense que irei ser submissa a todas as suas atitudes.
– Não é melhor irmos até ele? – Dan pergunta olhando de Eric para mim.
Quando abro a boca para recusar, Eric se levanta, então só dou um sorrisinho para o meu amigo.
Como estamos no laboratório de artes as mesas tem espaço para três pessoas, o que significa que irei ficar muito próxima a Eric por bastante tempo. Não faço ideia de quais sejam os planos de Bruna para essa aula, mas com certeza precisaremos de três cabeças pensantes e três realidades diferentes.
– Todos em seus lugares... – a professora observa. – Maravilha. Peguem seus cadernos e escrevam uma redação para cada colega do grupo. Eu quero que vocês criem a sua realidade a partir das informações que já tem deles. Se não há informações, então observem os parceiros fixamente e permitam que suas mentes lhes deem uma direção. Ao final, irei sortear uma das redações de cada grupo para o mesmo lê-la aqui na frente. No mínimo trinta linhas.
Caramba. O que eu sei sobre Eric, além de ele ser um grosso? Consigo escrever facilmente um livro sobre Dan, mas a respeito de Eric? Não sei nada dele. A ideia de ter que ficar encarando-o me parece constrangedora demais, então devo criar algo sem nem ao menos tentar ver através dele? É isso. Irei escrever coisas totalmente aleatórias a respeito de Eric, afinal, todos estaremos fazendo suposições sobre quem não conhecemos.
E se eu tiver que ler justamente a dele lá na frente?
Meu Deus, me sinto perdida e apavorada. Olho para o lado e vejo que Dan escreveu ERIC DUARTE como título de sua redação e já ultrapassou as quinze linhas, deixando-me de queixo caído. Me aproximo um pouco mais dele e o cutuco.
"Como você sabe tanto sobre ele?" eu pergunto sem pronunciar as palavras e ele faz a leitura labial.
– Nos falamos um pouco por mensagem – Dan sussurra dando de ombros e volta a escrever.
– É só me perguntar, se tiver alguma dúvida – me espanto quando Eric diz.
– Dúvidas? N-não tenho nenhuma – minto.
Ele dá um sorrisinho e balança a cabeça, e eu sinto minhas bochechas arderem. Noto que Eric também já começou a escrever sobre Dan, enquanto eu nunca fiz uma linha sequer os dois já estão quase finalizando suas redações.
– Acho que tem sim – ele escreve enquanto fala. – Relaxa, porque também tenho. Você me disse que o que está em seu Instagram não é real, então minha referência a seu respeito é fake.
– Há mais coisas a meu respeito pela internet, além das minhas redes sociais – é uma sugestão, mas soa como uma resposta áspera a ele. – Digo, as pessoas estão sempre comentando sobre o que eu faço ou deixo de fazer.
– Parece que ser uma celebridade não é tão bom quanto pensei.
– É, pode apostar que não.
O que aconteceu com ele? Nenhuma patada, sem acusações ou qualquer outro tipo de agressão... Cadê o Eric neurótico da semana passada? Ficar feliz pela súbita evolução dele é comemorar a vitória antes do tempo com certeza, então vou tentar não demonstrar qualquer sentimento de gratidão.
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Herdeiros
Novela JuvenilSuzane é doce, simpática, calma e uma garota de coração gigante. E, embora seu coração esteja em pedaços, ela sabe que tem que ser forte, mas às vezes não consegue isso e depende do irmão para se manter de pé. Xavier é o completo oposto da irmã. Tem...