– Espero que esse ano as coisas fluam melhor para mim, porque se continuar como no ano passado... – Adélia suspira. – Tudo deu errado, amiga. Apenas Júlio e eu estarmos juntos é algo que pode ser definido como bom.
– Mas você conseguiu passar de ano – digo com um pouco de dó dela, mas dou um sorriso quando Adélia balança a cabeça.
– Isso não conta! Minhas médias são ótimas sempre. Seria o cúmulo da falta de sorte se repetisse.
Toda sua onda de azar se resumia a uma viagem a Viena que ela não conseguiu fazer no meio do ano passado. Tive que aguentá-la falando sobre a capital austríaca e como as fotos que ela tirariam iriam render em ótimos posts, mas foi cancelada porque sua avó adoeceu. Então isso resultou em lamentações intermináveis de julho até dezembro. E pelo que vejo, ela ainda não superou.
– Tenho certeza que esse ano você consegue.
– Sinceramente? Minhas expectativas estão lá em baixo.
– Ei, nada de pessimismo aqui – dou um tapinha em sua mão. – Pensamentos positivos...
Espero ela completar a frase, mas seu olhar está fixo em algo atrás de mim. Viro-me para olhar.
Aqui no Instituto não é comum pessoas conseguirem bolsas de estudo com facilidade, tanto que todos os anos é feito um exame para algumas escolas específicas no país, seja particular ou pública, onde os alunos têm a oportunidade tentar uma vaga. São disponibilizadas vinte bolsas, mas geralmente apenas três conseguem. Um, dois ou três. Nunca mais que isso. Por esse motivo quem consegue entrar no Instituto Educacional Joaquim Morais é chamado de prodígio. E esses que vivem realidades diferentes das nossas, quando chegam aqui, normalmente causam certa curiosidade.
Eu sorrio e aceno para Joana e Eric quando os dois entram na sala. Quase me levanto para falar com eles, mas Adélia me puxa de volta.
– Por que você tem essa mania de falar com essas pessoas?
– O que quer dizer com isso?
Os olhos azuis dela vão dos dois que procuram lugares para se sentar até mim.
– Está agindo como se fosse Xavier – eu digo meio incomodada. – Só porque não fazem parte do nosso padrão social não significa que tenho que ser rude com eles.
– E quem falou em ser rude?
– Todos estão olhando para eles, Adélia – quase falo alto demais, porque a forma com estão encarando Joana e Eric está me deixando tensa.
– Olhe só para como estão vestidos!
– É o mesmo uniforme que estamos usando. O que há de errado?
– Tudo, amiga.
Eles se sentam na carteira ao lado da minha. A de Xavier e Júlio.
– Vocês não podem ficar aí – Adélia diz um pouco alto demais. – Já tem gente.
Fico boquiaberta quando ela sai da nossa carteira e se senta na mesa deles. Os olhos grandes de Joana a examinam e por um segundo eu acho que elas vão entrar em combate ali mesmo, mas o som de risadas ecoa vindo do corredor e invade a sala. Júlio e Xavier entram e cessam as risadas no momento que veem a cena.
– Por que eles estão na minha carteira?
Os olhos de Xavier encontram os meus e me vejo no meio de uma provável briga que não tenho absolutamente nada a ver.
– O que está acontecendo aqui, princesa? – Júlio abraça Amélia por trás.
– Apenas estou ressaltando aos bolsistas que estes lugares já tem dono.
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Herdeiros
Novela JuvenilSuzane é doce, simpática, calma e uma garota de coração gigante. E, embora seu coração esteja em pedaços, ela sabe que tem que ser forte, mas às vezes não consegue isso e depende do irmão para se manter de pé. Xavier é o completo oposto da irmã. Tem...