Suzane

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Xavier começa cantando. Sua voz é maravilhosa, mais rouca que a de um ano atrás por causa do cigarro, mas linda. Ele canta All of me do Jhon Legend como ninguém. Eu o acompanho com minha voz baixa, apenas fazendo a base para ele. Sinto um pouco de nervosismo, mas estar com ele me deixa calma. Sua segurança me traz confiança.

Os olhos dele estão fixos na plateia, em um ponto específico que não consigo identificar. São vários olhares direcionados para nós, todos brilhando e sentindo a emoção da música, o poder do meu irmão de fazer com que qualquer pessoa que o ouça cantar se apaixone. Penso que ele pode estar buscando os olhos de Júlio, mas seria loucura porque são amigos desde criança e o brilho nos olhos do meu irmão não é do tipo que acende quando se olha para um amigo. Talvez seja para Adélia? Acho que não. Xavier não se dá muito bem com ela. Com certeza não é para Daniel. Seria para Mariana Almeida? Não consigo definir para quem seja, mas é alguém que está sentado em uma mesa no centro.

Quando seu número chega ao fim, é minha vez. Ele sabe que esse é um momento muito especial para mim, e muito delicado. Meu peito está apertado porque a única presença viva que me importa além da sua, não está aqui. Então a mão dele aperta a minha com força enquanto a melodia de sua música muda quase imperceptivelmente para a minha, já posso sentir meus olhos cheios de lágrimas. Respiro fundo e engulo em seco.

A música se chama Tudo de mim, e é por isso que Xavier escolheu cantar All of me, pois ambas são muito parecidas. As duas letras falam sobre alguém que se doou inteiramente a outra pessoa, mas a da minha mãe afirma que esse amor viveu até seu último suspiro.

Eu não consigo olhar para a platéia porque todos estão com aquela cara de pena. Aquela que diz: Coitadinhos! Tão novos e sem mãe. Sinto um bolo se formando em minha garganta e faço uma pausa que não deveria acontecer. Mas ninguém vai saber disso ou notou meu nervosismo porque meu irmão me cobre e segue cantando. Xavier me puxa para si e me abraça com força, cantando ainda que doa nele também. E antes de finalizarmos o ato as pessoas se levantam e começam a aplaudir. São tantos aplausos que se sobrepõem às nossas vozes. Há lágrimas nos olhos de algumas pessoas, emocionadas com a apresentação.

– Obrigado! – Xavier agradece.

Só consigo fingir um sorriso e quando as cortinas se fecham, eu desabo no peito do meu irmão. Ele não fala nada, porque sabe que só de estar ali é o suficiente.

Mas então Xavier sai correndo e sei que foi demais, até para ele.

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