Cap. 4

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Estava na sala de espera junto de outros candidatos a vaga, que por sinal eram todos homens. Me senti meio deslocada, mas essa era uma boa oportunidade de alavancar minha carreira. E mesmo que ainda tivessem outras opções, tinha que dar duro em todas elas.
Depois de alguns minutos vi que um dos candidatos estava olhando pra mim, ele era lindo de mais... Ei, o que eu tô dizendo? Foco Bella!

- Signorina Tribbiani? - finalmente a secretária me chamou, pelo menos não vou ter mais distrações.
- Pode entrar.- ela me acompanhou até uma sala e foi embora.

Havia um senhor na sala sentado que imaginei ser o meu futuro chefe ( se tiver sorte).

- Sente-se por favor - o senhor Bianchi me apontou a cadeira em frente a sua mesa.

Pra minha sorte, era uma empresa bem aclamada no exterior, então eles falavam inglês.

- Eu tenho que dizer, senhorita Tribbiani, seu currículo é bem satisfatório e inclui várias cartas de recomendação. Tenho certeza que a senhorita se mostra bem competente para o emprego.
- Que bom que pensa assim, senhor.
- Entretanto - vixi, lá vem-, é bom que saiba que essa empresa está em ação há quase 50 anos, portanto somos bastante ligados as nossas diretrizes antigas.
- O que o senhor quer dizer?
- Que, talvez, a senhorita demore para se encaixar aqui, por causa de alguns fatores.
- Que fatores? - perguntei e ele suspirou antes de responder.
- Pelo fato de ter experiência só em seu país de origem, eu suponho que não esteja acostumada a nossa carga horária mais exigente e pode acabar atrapalhando os outros funcionários.
- Está dizendo que não vai me contratar por ser estrangeira? - ele ficou visivelmente incomodado e parecia querer encontrar as palavras certas.
- Por que não fazemos assim? Como deve saber, a maioria de nossos empregados são homens, então quando uma mulher se candidata fazemos uma experiência com ela para se adaptar aos modos e padrões da empresa e a colocamos no cargo de secretária temporariamente para aprender.

Já tinha ouvido o suficiente, isso foi tão ridículo que só me liguei no piloto automático para não perder a compostura.

- Deixa eu ver se entendi, sua carga horária é complicada demais para alguém que é estrangeiro e por ser diferente da maioria tenho que aprender através da observação enquanto sirvo cafés e sou rebaixada a algo que não me candidatei? Sinto muito, mas eu mereço mais, qualquer um merece.

Levantei e saí sem olhar para trás. Fiquei pensando na moça que me levou até a sala, se ela também estava em uma "experiência" e se um dia ia sair de lá.

***

Fiquei no térreo esperando a Eliza vir me buscar enquanto tomava um café, até que um homem se sentou na cadeira na minha frente, mas não era qualquer homem, era um dos candidatos que estavam esperando junto de mim, mais especificamente o que estava me encarando e era muito bonito.

– Signorina Tribbiani? – Ele pergunta com o sotaque italiano.

- Sì, ma non parlo italiano.

- Ah, nesse caso, – ele diz em inglês – me chamo Nicolas. - ele estendeu a mão pra mim, mas só conseguia olhar para os seus olhos azuis.

- Sou Bella. - voltei a realidade e apertei a mão dele.

- Combina com você.

Nem tive tempo de revirar os olhos pela cantada barata já que estava muito concentrada nele pra isso.
Ele tinha a pele bem clara, com cabelos negros bem cortados, olhos azuis penetrantes e um sorriso que destabiliza qualquer um (se é que me entendem).

- Então,  de onde você é?

- Sou brasileira, mas tenho família aqui. - um enorme sorriso se estampou no rosto dele.

- Sério? Eu sempre quis conhecer o Brasil, as praias são tão bonitas.

- É, são mesmo. - falei sorrindo e sentindo falta de casa.

- De que parte você é?

- Rio de Janeiro.

- Fala sério, todos os brasileiros que já conheci ou são do Rio ou de São Paulo. Parece até que só tem esses lugares lá.

- É, a maioria dos gringos pensa assim mesmo.

– Aliás, – ele balança a cabeça como se lembrasse de algo. – eu vim aqui pra perguntar como foi sua entrevista.

– Responde você primeiro. - podia apostar que só pelo fato de ser homem já devia ter sido ótima.

- Foi ótima - não falei? - e a sua?

- Não muito boa, ele era meio...

- Machista? Xenofóbico?

- Na verdade sim.

- Não é surpresa, essa é uma empresa tradicional, portanto tem muita gente errada que só finge ser moderna, mas na verdade não quer mudar nada.- ele tirou as palavras da minha boca.

- Uau! Se você pensa assim por que está aqui?

- Eles pagam bem. - ele respondeu como se fosse óbvio - Não pretendo trabalhar aqui pra sempre, só até entrar pro currículo e poder ir para uma empresa maior.

- Bom, eu acho que se você não concorda com algo então não devia cooperar com isso, mesmo que "pague bem".- fiz aspas com os dedos.

- Faz sentido- ele disse depois de me analisar por um tempo e sorrir - ,quer uma carona?

- Eu nem te conheço, até onde eu sei você pode ser um psicopata.

Ele gargalhou e estendeu a mão novamente.

- Prometo que não sou.

– É o que um psicopata diria. – ele ri novamente.

– Ok, quer que eu te dê meu currículo pra me conhecer melhor?

– É uma boa idéia. – Ele pega um envelope e abre na primeira página pra mim.

Eu, é claro, não fico fuçando as informações pessoais dele, apenas noto que ele se chama Nicolas Ferrari, tem 28 anos e nasceu em Napoles.

Humm, adoro sorvete napolitano.
Acho que tô com fome.

– É o suficiente. – entrego de volta pra ele.

– Você vem então?

Ele era uma gracinha, mas ainda assim não posso entrar no carro de qualquer quase estranho por aí.

- Eu agradeço, - digo soltando a mão dele- mas a minha prima já vem me buscar, talvez em outra ocasião.

- Já que está procurando emprego imagino que vai ficar um tempo aqui?

- Sim. - acho que sei o que ele vai pedir.

- Então com certeza vai haver outra ocasião, qual o seu telefone?

Nenhuma surpresa, homens são muito previsíveis, mas gostei dele então não me importei, dei meu número á ele. Segundos depois recebi uma mensagem da Eliza dizendo que tinha chegado.

- Eu tenho que ir, - me levantei enquanto pegava minha bolsa- até outra ocasião, Nicolas.

- Até outra ocasião, Bell. - ele se despede com um beijo na minha bochecha.

Ele me chamou de Bell? Abusadinho.

Que dia produtivo, sem emprego, mas consegui dois telefones de caras aleatórios. Sinceramente, pra algumas pessoas isso ia ser incrível, mas no meu caso só me deixa mais estressada.

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