Capítulo 2

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O caminho de volta transcorreu no mais profundo silêncio. Geralmente os peritos e a investigadora discutiam o que haviam visto na cena do crime e surgiam as primeiras teorias sobre o que havia acontecido.

Mas dessa vez foi diferente. Layla foi quem falou primeiro assim que entraram na sala compartilhada pelos três.

— É um milhão de vezes pior do que nas séries que a gente assiste — ela deixou o corpo cair sobre uma cadeira.

— Foi a primeira vez que você encontrou o cadáver de uma criança? — perguntou Samara.

— Eu já tinha visto nas aulas do laboratório de anatomia, mas é diferente pensar que até poucas horas atrás aquele menino estava jogando bola com os amigos e agora... — ela não concluiu.

— Não foi sua primeira vez? — quis saber Renato.

— Eu tinha acabado de concluir o treinamento quando precisei processar uma cena com crianças.

— No plural? — Layla desencostou as costas da cadeira.

— Foi em um parque de diversões com falta de manutenção.

Layla fez uma careta e Renato levou a mão à boca, ambos sem condições de expressar em palavras.

— Me tornar investigadora acabou sendo uma das saídas para me manter mais longe das cenas. Aparentemente falhou — Samara sorriu se servindo de uma garrafa de café sobre a mesinha ao lado da porta.

— Com quantos anos você entrou para a polícia mesmo? — perguntou Renato.

Acompanhando a ideia de Samara, ele também pegou sua xícara no armário e colocou café até a metade. Depois gesticulou com o objeto em direção à Layla que negou a oferta acenando com a cabeça.

— Eu tinha 25 quando fui aprovada no concurso.

— Quase a mesma idade que eu tenho agora.

— Você não fez 27 em Julho?

— Sim — Layla sorriu. — Por isso eu disse quase.

— Okay adolescente, aproveita a juventude e descarrega as fotos que você tirou no computador para darmos uma olhada — Samara abriu um sorriso para a amiga que retribuiu da mesma forma.

A diferença de idade nunca foi algo que atrapalhasse a amizade delas. Entre os três na verdade, pois Renato também já havia passado dos 30 e o relacionamento entre eles ocorria como tivessem a mesma idade graças aos gostos parecidos que tinham.

— Sei lá, mas estou começando a repensar minha teoria sobre essa fita...

Layla estava sentada na cadeira de frente para o computador enquanto Renato e Samara estavam de pé atrás dela.

— O que está fazendo você mudar de ideia? — perguntou Samara.

— Se esse local fosse realmente passagem de funcionário com resíduos dos velórios, deveria haver mais coisas. Restos de flores, outras fitas e laços...

— Está tudo limpo demais — Samara acompanhava o raciocínio.

O telefone interrompeu a análise dos três. Samara atendeu, disse poucas palavras, fez uma anotação e desligou.

— O depoimento do funcionário do campo de futebol não deu resultados. Ele está limpo e realmente não sabe nada do que aconteceu. Inclusive tem álibi para os horários dos crimes.

— Vamos encontrar com o legista então?

— Sim Layla, mas primeiro preciso passar na casa da família do homem para dar a notícia e ver se descobrimos alguma coisa com eles — Samara mostrou o endereço que havia anotado no papel.

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