I - CAPÍTULONo continente perdido das águas doces, existiam apenas beija-flores azuis e amarelos, vivendo em um lindo reino no meio da floresta.
Os azuis pertenciam a classe dos nobres, os amarelos, eram os súditos.Todos os dias aconteciam os fabulosos espetáculos das aromáticas fontes de néctar jorrando abundantemente em todos os lugarejo em horários predeterminados pelo rei.
Era nas fontes que os amarelos conseguiam o alimento diário. Se não existissem as fontes, todos os amarelos corriam um sério risco de morrer de desnutrição.
Portanto, o poder de fazer as fontes jorrarem, dava ao rei a autoridade sobre todos os beija-flores, principalmente sobre os amarelos que, dependia das fontes para sobreviverem.
Em troca da benevolência o rei exigia que os amarelos trabalhassem limpando ruas e construindo casas e palacetes para os amigos e familiares dos nobres da côrte.
Usando a habilidade e esperteza matemática dos conselheiros da côrte, o rei estabelecia salários irrisórios, mantendo assim os amarelos sempre endividados e sem puderem sanar as dívidas contraídas nos posto de venda do reino.
A maioria dos amarelos moravam em ninhozinhos quebrados construídos em cima de velhos troncos e gravetos mal organizados. Os que não tinham onde morar, dormiam no chão e nos bancos da praça, embrulhados em folhas secas.
As leis do reino obrigava aos amarelos manterem as penas das asas sempre podadas, justificando que isso ajudava a diferenciar os amarelos dos azuis e trabalharem com mais eficiência.
Quando chegava um certo período do ano, os amarelos eram obrigados a trabalharem em lugares distantes do reino. Na aldeia ficava um número insuficiente de adultos para cuidar dos idosos, doentes e recém-nascidos que, não tendo quem os conduza até as fontes, sofrem com desnutrição e, alguns, morrem de fome. Esse situação era motivo da revolta e tristeza da maioria dos amarelos.
Mas eles não podiam reclamar das injustiças cometidas pelos nobres, se o fizessem, eram punidos severamente.Muitos amarelos viviam inconformados com essa situação e descarregavam a revolta embriagando-se com néctar fermentado e brigando entre si. E o rei, em nome da ordem e dos bons costumes, mandava os trancafiarem nos calabouços imundos construidos nos arredores do reino.
Todos os anos acontecia uma grande festa promovida pelo rei.
Durante esses dias, azuis e amarelos se fantasiavam e misturava-se nas ruas para brincar, cantar e dançar ao ar livre.A festa era aguardada com muita ansiedade pelos amarelos que, durante esses dias, esqueciam um pouco a vida sofrida e experimentavam a ilusão de viverem e se divertirem em liberdade; com todos dividindo a alegria de igual para igual, longe do cotidiano de servidão humilhante que lhes era imposta pelos nobres azuis.
Por esse motivo, o rei fazia questão de manter a tradição dos festejos anuais no reino.Mas também existia uma outra razão que ajudava a manter a chama da esperança dos amarelos sempre acesa e os fazendo sonhar com chegada de dias melhores.
Essa esperança era alimentada por uma lenda que era passada de pai para filho.
A lenda narra que, num passado não muito distante, todos os beija-flores viviam sob as orientações do grande beija-flor branco e que, nele se moviam e compartilhavam saberes e conhecimentos que garantiam a liberdade, igualdade e direito a todos.
Mas com o passar do tempo, esses conhecimentos e saberes foram manipulados e findaram por ficar nas mãos de alguns poucos que, espertamente, passaram a usa-los para dominar e escravizar os outros, gerando assim a desigualdade em que viviam os beija-flores.
A lenda era conhecida como sendo: "A mais bela historia do reino". E narra que, um dia, em meio a uma grande confusão, gerada pelos beija-flores que detinham os saberes e conhecimentos, o grande e sábio beija-flor branco sumiu.
Mas antes de desaparecer deixou a esperança de um dia voltar quando todos estivessem dispostos a ouvi-lo e relembrar as coisas esquecidas.A maioria dos amarelos tinham a lenda como sendo uma profecia deixada pelos seus ancestrais, e, acreditavam que, um dia se realizaria. Por isso, reuniam-se em lugares espaçosos nos finais de semana para contá-la e refletirem sobre os belos ensinamentos nela contidos.
Resumidamente, a lenda é uma estória de incentivo ao cultivo do amor entre os semelhantes. Por isso, mesmo os que não a cultuam, costumam narra-la para os filhotes.
Mas existiam também os que questionavam o culto que a grande maioria faziam entorno da lenda e, a todo custo, tentavam convence-los que a narrativa era um fruto da imaginação fértil e esperteza do rei e seus conselheiros; que tudo não passava de roteiro de um sonho idiota criado pelos nobres azuis para iludi-los e fazerem alimentar a esperança em dias melhores que nunca chegariam, neutralizando assim, o instinto guerreiro dos amarelos, os ensinando a cultivar humildade e, se conformarem com a vida sofrida que tinham e não se levantarem em luta contra as injustiças cometidas pelos nobres do reino.
Mas de nada adiantava os argumentos e polêmicas geradas. A lenda parecia ter vida própria. Sobrevivia a tudo e a todos.
O tempo passou e, um belo dia, a jovem filha do rei, que nunca ultrapassará os limites dos muros do castelo, resolveu participar dos festejos anuais do reino.
Mesmo sabendo ser proibido aos membros da família real brincarem entre os súditos, resolveu satisfazer a curiosidade de ver de perto os artistas amarelos que eram bastante conhecidos e admirados pelas jovens beija-flores do reino.Para realizar seu sonho, a princesa foi a casa de um amigo da família real e membro da equipe de pintores do reino e pediu a ele que produzisse uma tinta amarela e tingisse suas penas para ir se divertir entre os súditos e satisfazer o desejo de ver de perto os artistas que animavam os dias de festas.
O pintor, mesmo sabendo dos problemas que isso podia gerar, atendeu ao pedido da princesa.
Ela foi brincar entre os súditos e logo fez novas amizades. Sentia-se realizada ao ver de perto os artistas amarelos pelos quais os corações das jovens do reino suspiravam.
Uma de suas novas amigas, sabendo de suas intenções, aproveitou um intervalo da festa e apresentou a ela um jovem artista que era venerado por amarelos e e azuis como, o rei dos artistas do reino. Foi amor a primeira vista, ficaram perdidamente apaixonados.
Mas o romance entre azuis e amarelos era terminantemente proibido pelos nobres da corte. Mas a princesa não resistiu aos apelos do coração e deu início ao romance, tomando os devidos cuidados em manter em segredo sua identidade.
Foram dias de festas inesquecíveis. A princesa estava encantada com as brincadeiras e travessuras artísticas que o jovem amarelo fazia para destacá-la em meio aos que assistiam suas apresentações.
Chegou o último dia dos festejos. A princesa, temendo perder o seu primeiro grande amor, procurou encontrar uma maneira de seguir com o romance com ele sem levantar a suspeita sobre sua identidade.
Com sutileza e inteligência, conseguiu convenceu o jovem a continuar com o relação, mas, inicialmente, com a condição de que o jovem não perguntasse nada sobre sua vida e que seus encontros acontecessem às escondidas no meio da floresta.Para Justificar esse cuidado, argumentou que seus pais não queria vê-la namorando antes de alcançar a maturidade.
A princípio o jovem estranhou as condições dadas por ela. Mas, o amor falou mais alto e ele cedeu.
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A LENDA DO REINO DOS BEIJA-FLORES.
Kurt AdamVoce sabia que os Beija-flores não andam? A Lenda do Reino dos Beija-flores é uma história mágica. Seu primeiro narrador foi e é, o imemorial Rei de Maracá, imperador da lendária aldeia dos contadores de histórias da floresta. Essa lenda revela uma...