3. IMPORIUM

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Não me sinto bem no dia seguinte. Minha cabeça parece processar todas as informações para um único dia, o que parece deixá-la pesada. Quando abro os olhos, o peso ainda está lá. Latejando, trazendo de volta tudo o que quero esquecer. Levanto e me olho no espelho. Meu rosto parece mais pálido, e meus olhos, mais fundos, talvez por ter passado a noite em claro.

Após tomar banho e escovar os dentes, visto jeans escuros e uma camiseta cinza encoberta com um casaco, buscando ficar o mais simples possível. Não sei exatamente o que fazer com meus cabelos, mas tenho que manter uma boa aparência para meu avaliador ter noção de que tenho um estado de saúde favorável. Prendo-os em um rabo de cavalo e passo um pouco de gloss para evitar que meus lábios ressequem.

Hoje será o dia de avaliação, onde seremos selecionados por nossa condição física e psicológica. Uma vez saudáveis, estaremos prontos para nos tornarmos Híbridos.

Quando desço para o café, Sally parece bem melhor que eu, porém, noto sua expressão aflita ao levar a mão ao nariz para abafar um espirro, o que a faz xingar alto.

Por outro lado, ela está tão produzida com jeans claros rasgados nos joelhos e uma jaqueta de couro sobre uma camiseta branca. Seus cabelos estão em um coque preso no alto da cabeça e a maquiagem em seu rosto lhe dá uma bela aparência.

- Sally, Tessa, vamos, não podemos nos atrasar. – meu pai buzina do lado de fora. – A avaliação será às 10h, esqueceram?

Belisco as bochechas uma última vez, trazendo um pouco de cor ao rosto. Quando Sally e eu entramos no carro, desta vez pego o banco do carona.

- Nervosas? – ele pergunta.

- Precisa perguntar? – Sally grita.

- E você, Tessa?

Sim, eu quero gritar.

- Não. – minto. – Estou mais calma agora.

Algumas horas depois, encontramos as barreiras que levam ao 1º Eixo. Meu pai desce e põe sua mão no painel, que lê suas impressões. Quando a barreira abre, dividindo o número 1 ao meio, fico boquiaberta.

Não sei ao certo o que estou esperando, mas todas as aflições se esvaem quando observo o local. O 1º Eixo é super moderno, com centros de pesquisa e mansões com a arquitetura atual, além de edifícios enormes e espelhados que quase alcançam os balões dirigíveis que contornam o Cristo Redentor no céu; um monumento que eu somente via em fotos agora está diante de meus olhos.

É um pouco intrigante observar um pássaro voando como se estivesse repleto de alegria. Eles não são tão comuns quanto antigamente, quando o clima ainda tinha uma época definida para se destacar. Devido às alterações causadas durante a emissão de gases poluentes durante a Grande Guerra, hoje em dia não temos previsões de quando fará calor, frio, muito menos sobre quando irá nevar. Ao mesmo tempo, é incrível o quanto as árvores continuam exibindo uma aura de folhas esverdeadas mesmo com os poucos indícios de chuva.

Sally quase gruda a bochecha no vidro do carro quando passamos por um rio tão cristalino que reflete os edifícios na água. A cada metro, há árvores milimetricamente espalhadas em parques com gramados esverdeados e reluzentes.

- O que acham? – meu pai pergunta.

- É incrível. – eu digo.

- Acho que vou gastar meus créditos em uma mansão aqui. – diz Sally, sorrindo.

- Calma aí, mocinha. – ele diz. – Tenho certeza que você esconderia muito bem o seu cartão se descobrisse quanto custa uma dessas.

Rio quando Sally dá língua.

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