Quando voltamos para a caminhonete, Sally grita tão alto que algumas pessoas do lado de fora da Imporium param para observar o que está acontecendo. Não imaginava o quão histérica ela poderia ficar por não ser aprovada na Classificatória.
- Eu não acredito. – ela diz. – Se eles estão reunindo Híbridos, acho que deveriam reunir todos os Híbridos.
Depois que passamos pela barreira que leva ao nosso Eixo, tento não olhar para trás. A beleza do 1º Eixo dá lugar à monotonia de minha rua, que mesmo com sua fama de direitos e deveres, traz uma sensação bastante familiar para acalmar meus instintos.
- Nós avisamos, Sally. – eu digo. – Além do mais, não vejo o porquê de ficar assim. Você pode entrar na Segunda Chamada na metade do processo.
- É, mas já imaginou o olhar de julgamento das pessoas? – diz Sally. – Nem pensar!
- Tudo bem, querida. – meu pai interrompe. – São só três meses de diferença. Sei que você vai ficar melhor e eles até podem te dar uma segunda chance se você explicar a situação.
- E entrar quando todos já estiverem bem na minha frente? Avançados? – ela grita. – Não, muito obrigada. Quer saber, eu nem queria mesmo.
Caímos na gargalhada quando entramos em casa. Depois de tomar banho e jantar, volto para o meu quarto e deito, afundando minha cabeça no travesseiro. Pressiono dois dedos nas têmporas e massageio suavemente, a fim de tentar deixar a mente vazia. Foi um dia exaustivo e preciso descansar. Reviro-me várias vezes e, quando cochilo, sou interrompida por uma batida na porta.
- Posso entrar? – meu pai entreabre a porta.
- Você já está dentro. – eu digo, sorrindo.
Meu pai fecha a porta com o maior cuidado possível, como se pudesse acordar mais alguém no quarto. Ele senta ao meu lado, de frente para meu rosto. Basta um único olhar para que ele entenda o que está se passando dentro de mim. Ele afasta uma mecha do meu cabelo para trás da orelha e quando deixo a cabeça descansar no toque de sua mão, percebo que ele trouxe um copo de leite.
- Você está me tratando como se eu fosse uma garotinha. – eu digo.
Meu pai ri e umedece os lábios. Levo o copo à boca e deixo o calor do líquido esquentar meu corpo, descendo através de minha garganta, esôfago, até chegar ao estômago. Consigo notar o sabor do mel que ele sempre usa para adocicar a bebida.
- Você é e sempre será a minha garotinha. – ele fala, baixando os olhos distraidamente.
- Como a Sally está?
- Ela já se conformou em tentar se inscrever novamente, em meio às "criancinhas", como ela diz. – ele adiciona. – Sabe, Tessa, amanhã será um dia longo.
- E põe longo nisso!
- Olha, quero que saiba que você é muito importante para mim e não é nenhum Eixo que vai definir isso. Estou orgulhoso de você e pelo resultado de sua avaliação.
- Está? – franzo o cenho.
- Estou. – ele diz. – Você precisa descansar agora. Já chega por hoje.
Ele levanta e apaga a luz do abajur em forma de roda gigante que ganhei em um concurso de soletrar na quarta série. Meu pai me deixa sozinha com meus pensamentos, que começam a pesar sobre meus cílios, fazendo-me esquecer por um breve – realmente breve – instante de que amanhã é o grande dia, e eu estou minúscula esperando que ele chegue.
***
Acordo com o despertador alarmando ao lado de minha mesa de cabeceira. Segundo algumas informações contidas na pasta, não precisamos levar roupas nem acessórios. Durante o banho, deixo a água fria escorrer pelo meu corpo e levar todas as impurezas que puder. Queria que ela fosse capaz de levar embora o nervosismo.
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Indomável
ActionEm meio a um clima de ação, romance e mistério... Tessa Drummond nunca acreditou que pudesse ser indomável. Vivendo em um Brasil distópico, no ano 2172, Tessa deverá enfrentar desafios que exigirão muito mais daquilo que ela acredita ser capaz de co...