Dois dias depois, recebi alta. A partir de então, aprendi a dividir meu tempo entre as sessões de fisioterapia e os treinamentos. Kol e eu nos beijamos várias outras vezes, o que provocou sorrisos de Kim e comentários maldosos de Kelly e Michelle. Mas não me importei e apenas continuei a preparação.
Voltei a atirar. Algumas vezes errava o alvo, mas com a prática fui retomando a experiência. Kol me levou até a floresta, onde tive aulas de escalada em escadas de cordas; um treinamento indicado por Henry. Em outras situações, deslizava o corpo por baixo de arcos de madeiras fincados no chão, o que me fez ganhar uma série de novos uniformes.
Gaia permitiu que eu usasse a Câmara Cerebral para aprender a dirigir – tanto carros, quanto motos – e retomei as práticas na academia. Amanhã será o grande dia e posso dizer que eu estou preparada.
***
Aumento a velocidade da esteira. Kim está na esteira ao lado, limpando o suor com uma toalha branca. Ignoro o líquido que escorre por minha testa, grudando os fios, e apenas corro. Imagino que a taça do desafio coletivo está em minha frente e faço o possível para alcançá-la.
Kim diminui a velocidade e retira sua chave de segurança, parando aos poucos.
- Você está mesmo determinada.
- Eu falei que ia recuperar o tempo perdido. – eu digo, ainda correndo.
- Eu já estou indo. – diz Kim, descansando a toalha no ombro. – Dimitri me convidou para lancharmos juntos.
- É impressão minha ou vou ver um novo casal?
Kim ri, umedecendo os lábios.
- Eu não sei. Estamos tão próximos ultimamente que tenho medo de confundir amizade com outra coisa.
- Na minha opinião, você deveria ir em frente. – eu digo, diminuindo um pouco a velocidade da esteira.
- Você acha?
Concordo com um aceno, o que faz Kim sorrir. Ela se despede e aos poucos a vejo encontrar Dimitri durante uma série de levantamento de pesos. Reduzo a corrida para uma caminhada. Brendolf ocupa a esteira de Kim, porém ignoro sua existência, ou pelo menos tento ignorar.
- Você é rápida, não é? – ele diz, rindo. – O que houve? O elevador não foi com a sua cara?
Respiro fundo e paro a esteira.
- Ah, é? – eu digo, minha respiração ainda falha. – E onde você estava quando eu caí?
- É impressão minha ou você está insinuando que eu sabotei aquele elevador? – ele diz, sua expressão parecendo confusa enquanto corre. – Não tenho culpa se você não olha por onde anda.
- Sim, estou insinuando. – eu revido, impaciente. Mantenha o controle, repito para mim mesma, como uma espécie de mantra ou sei lá o quê.
- Deveria tomar cuidado. – a voz de Brendolf é desafiadora. – Incidentes assim costumam se tornar muito mais estranhos quando começam a acontecer mais vezes.
Raiva preenche meu corpo e ajo sem pensar. Puxo sua chave de segurança, interrompendo a esteira subitamente. Brendolf é arremessado da esteira, batendo com as costas na parede. Não preciso de nenhum comentário para intimidá-lo, pois os risos que preenchem a academia já falam por si só.
Brendolf pragueja até que Talula corta a multidão frenética:
- O que está havendo aqui?
Nenhuma resposta a não ser o silêncio. Brendolf levanta, passando a mão na nuca. Agi impensadamente, mas por fim não me arrependo do que fiz.
- Essa... Ela – Brendolf acena. – tirou a chave de segurança da minha esteira.
- Isso é verdade, Drummond? – a voz de Talula é fria. Ela não acredita que eu fui capaz disso.
- Sim. – eu digo, impaciente. – Mas não fiz à toa. Brendolf sempre me provoca. Sente raiva porque ganhei o desafio do Pentágono.
- Não tenho medo de garotas. – diz Brendolf. – Não tenho inveja de você.
- Já chega! – a voz de Talula corta o ar. – Drummond e Brendolf, aqui no centro.
Não entendo aonde a mentora quer chegar com isso, mas obedeço. Brendolf caminha até o centro com uma série de vaias provenientes dos demais Híbridos. Ele está um pouco manco, mas nada impede que seu olhar continue maligno.
- Drummond, mostre que é mais forte que Brendolf. – diz Talula. – Brendolf, mostre que é mais forte que Drummond.
- Vai querer que a gente lute? – pergunta Brendolf.
- Está com medo? – eu desafio.
- Silêncio! – grita Talula. – Drummond, eu quero cinquenta flexões agora. Com Brendolf em suas costas.
Há um murmúrio entre os Híbridos, mas Kol continua calado. Noto seu olhar de estímulo para provar que sou capaz disso. E eu realmente sou. Agacho-me, colocando o peso de meu corpo sobre as mãos. A mentora acena para que Brendolf deite sobre minhas costas e é o que ele faz.
Seu peso é incômodo no começo, mas sou forte o bastante para continuar. Após cerca de vinte flexões, percebo que Brendolf está depositando ainda mais seu peso em minhas costas, o que reduz minha velocidade. Ele sussurra piadas em meu ouvido, mas não dá para escutar direito devido aos gritos de incentivo dos demais.
Ultrapasso o limite, causando um silêncio mortal na academia. Gemo quando acho que vou desabar, mas o suor que cai sobre o chão serve como incentivo para continuar. A dor faz com que eu perca as contas. Não suporto e jogo Brendolf para o lado, despencando no chão.
Todos ao meu redor me fitam com um olhar atônito, como se eu estivesse morta. Mas Kol ainda sorri e é esse o motivo para que eu apenas abaixe a cabeça e reflita comigo mesma. Eu consegui.
- Drummond... – Talula sussurra ao meu ouvido. – Parabéns, garota. Vocêconseguiu mais que o dobro do limite estipulado.
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Indomável
ActieEm meio a um clima de ação, romance e mistério... Tessa Drummond nunca acreditou que pudesse ser indomável. Vivendo em um Brasil distópico, no ano 2172, Tessa deverá enfrentar desafios que exigirão muito mais daquilo que ela acredita ser capaz de co...