Indomável

6. A CIDADE VIRTUAL

Não demora muito até que Gaia retorne. Ela traz uma série de uniformes nas mãos, conferindo os nomes como se nos conhecesse. Eu já vi roupas como essas em vídeos sobre a Terceira Guerra na escola. Vários tons de verde, alguns em formato de casca por cima dos outros, como nas roupas dos soldados.

- Seus uniformes. – diz Gaia, atirando-os ao chão. – Eles têm seus nomes e as medidas exatas conforme recebemos da avaliação.

Pego o uniforme que tem meu nome cosido no peito e sorrio quando leio TESSA ao invés de TERESA. Fico feliz por Clarabelle ter sido generosa neste quesito.

Kim sobrepõe o uniforme no peito, alongando o pescoço como se provasse um vestido de casamento. KIMBERLEY.

- Não sei como meu avaliador fez isso, mas as medidas estão mesmo certas. – diz Kim.

Gaia vai à porta entreaberta, seus olhos girando através do quarto.

- Quero que estejam prontas em dez minutos. Vocês conhecerão a Imperium.

Um frio percorre minha espinha quando Kim me puxa para o banheiro, que fica em uma porta no canto da parede. É pequeno, repleto de pias de mármore e espelhos retangulares fixos à parede. Há vários boxes com portas riscadas, provavelmente pelos Híbridos anteriores.

Kim retira suas roupas, mostrando seu corpo belo e esguio. Coro um pouco, mas tiro a roupa e fico apenas de calcinha e sutiã. As peças de roupas são pretas, por isso demarcam minha pele pálida. Nunca gostei do tom de minha pele, sem a cor bronzeada de outras garotas. Tateio o uniforme, como se buscasse encontrar identidade, grudando-o ao peito enquanto me olho no espelho. É, o verde não foi feito para mim.

Visto o uniforme rapidamente. Ele se ajusta ao meu copo de maneira perfeita, encaixando-se como a peça correta de um quebra-cabeça. É confortável e dá uma aparência madura.

- Tessa, me dá uma ajudinha aqui? – diz Kim, apontando para o sutiã.

Abotôo o sutiã de Kim, que está prestes a soltar e ela me agradece, em seguida vestindo o seu uniforme. Sento em um banco de madeira e calço um par de botas de couro tamanho 36 que retiro de uma prateleira organizada por números de 33 a 42. Enquanto afivelo o cinto, noto o tom de deboche de algumas garotas do 1º Eixo ao observar o ambiente. Elas são mesquinhas, acostumadas às mansões de luxo e sapatos de saltos tão altos quanto sua arrogância. Balanço a cabeça em reprovação e levanto, afagando as mãos nas coxas.

Em poucos minutos, todas as garotas estão prontas. Nem percebo que meu cabelo está em um rabo de cavalo desde que cheguei aqui, mas opto por permanecer com ele.

- Vamos. – digo, enquanto Kim passa seu gloss.

Acompanhamos Gaia até o elevador e continuamos a segui-la através de vários corredores. Paramos em uma sala repleta de máquinas para fazer exercícios físicos, distribuídos de maneira organizada.

- Esta é a academia. – diz Gaia. – Vocês treinarão três vezes por semana, para manter a rigidez dos músculos e se prepararem para as provas.

Em todas as salas que entramos, Kim e eu nos olhamos, relutantes. Atravessamos o refeitório, onde há incontáveis mesas de quatro lugares e passamos por uma sala de controle, onde, segundo Gaia, as informações sobre nosso material genético são enviadas para os governantes.

Por último, entramos em um elevador que desce para o térreo. Encontramos uma sala enorme e metálica, onde há um Aviax, um avião de caça, assim como os que costumo ver sobre as barreiras entre os Eixos, está estacionado.

- Este é o avião que os levará para as provas. – Gaia fala. – É de uso total e absoluto dos mentores, portanto nem pensem em tentar usá-los. Entenderam?