16. EDGAR FISCHER

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Hoje fomos solicitados para uma reunião na Sala de Conferências. Ainda estou abalada por minha última conversa com Kol. Onde eu estava com a cabeça ao pensar que poderia gostar de alguém como ele? Kol é bonito e há várias garotas mais bonitas que eu para escolher. Garotas como Kim.

Não mudei meu relacionamento com ela. Achar que ela poderia ser a culpada por alguma coisa a qual não tinha probabilidade de acontecer é certamente um caminho sem volta. Por outro lado, tenho tentado evitar Kol. Sei que não devo entregar o jogo, por isso quero ser quem comanda as cartas.

Tenho tentado fingir que nossa conversa não teve outro caráter a não ser um desabafo, tentando parecer uma garota despreocupada – sei que deveria – e buscando uma forma de tratá-lo normalmente, mesmo sendo muito difícil.

- Aconteceu alguma coisa? – Kim pergunta quando nos aproximamos da sala.

- Ahn? Não, nada. – eu digo, fugindo-me as palavras. – Kim... V-você gosta do Kol?

Kim franze o cenho, como se não tivesse entendido a pergunta. Não sei o que me levou a tal, mas agora que disparo, não posso voltar atrás.

- Sim. – ela fala. – É um ótimo amigo. Chega a ser irritante às vezes, mas...

- Não, não. – eu interrompo. – Estou falando... de gostar. De outra forma. Se você quer ficar com ele.

Kim ri histericamente, pondo um braço ao redor de meus ombros.

- De onde você tirou essa ideia? Afinal, ele tem tudo para ficar com você. – ela fala, dando-me um empurrãozinho.

Não consigo sorrir, por isso entro em silêncio. A Sala de Conferências é enorme e circular, com uma arquibancada alta, já contendo alguns Híbridos. Kol levanta o braço para que nos sentemos ao seu lado e é isso o que fazemos.

Kim senta-se ao lado de Dimitri. Eles parecem bem próximos ultimamente, o que deve estar sendo um choque para Kol. Ele guardou o meu lugar, então dou pequenas batidas para retirar qualquer poeira e sento.

- É impressão minha ou você anda me evitando? – ele pergunta, erguendo uma sobrancelha.

- Eu... Não estou te evitando. – digo. – Só estou tentando facilitar as coisas com a Kim.

Kol desvia seu olhar para Kim, que ri de uma piada que Dimitri acaba de contar. Mantenho meus olhos em uma linha reta. Há um palanque no centro da sala, que fica em frente a um enorme telão.

Um homem vestido em um terno elegante adentra e a multidão se desfaz em aplausos. Aplaudo junto com ela, mesmo não o conhecendo. Juntamente com ele, vários mentores se alinham ao seu lado, com as mãos postas atrás dos corpos, tão frios quanto uma geleira.

O homem de terno, que Kol diz ser Edgard Fischer, braço direito de Celine, dirige-se ao palanque com uma expressão séria e ao dar duas batidinhas no microfone, provoca um silêncio mortal na sala.

- Quero parabenizá-los por mais uma conquista que celebram hoje. – diz Edgard. – Em cinco meses, milhares de medicamentos foram fabricados graças a vocês. Os Híbridos têm um papel crucial em nossa luta contra as doenças e demais problemas econômicos e sociais no mundo.

Edgard retira um Infomax de seu bolso e aponta para a tela, que é ligada instantaneamente. Um vídeo é exibido na tela, demonstrando todo o trabalho que vem sendo feito pelos Eixos. Reconheço a Imporium, a reconstrução de alguns locais abandonados no meu Eixo e até mesmo a distribuição de remédios ao 3º Eixo.

Sinto um aperto em meu peito e deixo que uma lágrima escape. Por mais que eu tenha me descoberto uma pessoa forte e indomável, ainda há um pouco da eterna garotinha que sempre fui para meu pai. Onde há força em meu coração, também há saudade, e essas duas vertentes estão disputando uma única vaga.

- Como podem perceber – Edgard pigarreia antes de continuar. –, inúmeros trabalhos voluntários estão sendo realizados em todos os setores sociais. É também com muito gosto que venho informar que o centro de pesquisas Imporium anuncia a solicitação de dez Híbridos para participarem do desafio coletivo, que será realizado em duas semanas.

A plateia começa a cochichar baixo, murmurando a respeito de ser ou não escolhido. Sinceramente, tudo o que quero agora é ser convocada. Cumprir o meu papel aqui. Edgard ergue o Infomax, pigarreando novamente antes de falar.

- Os que forem chamados ponham-se aqui na frente. – ele diz, ajustando os ombros. – Teresa Drummond.

Eu me levanto, fabricando um sorriso. Olho para Kol uma última vez, que pisca seus olhos azuis para mim. Caminho entre a multidão que aplaude, mesmo os que aparentemente estão sem vontade. Minha foto aparece na tela e Gaia me indica para ficar à frente do palanque.

- Ataulfo Lopez. – Edgard prossegue. – Clarissa Novais. – Clarissa, a frágil, mas corajosa Clarissa. Toco seu ombro quando ela caminha para meu lado. – Kimberley Castelli. – é a vez de Kim. Aplaudo e abraço-a. – Jorge Vianna. Dimitri Biagi – Dimitri desce com um vinco entre suas sobrancelhas. – Brenda Salazar. Michael Hoffman. – Kol desce graciosamente, um sorriso formado em seus lábios rosados. Amanda Simonal. E por último, Noah Brendolf.

Brendolf ergue-se com um ar imponente, porém sem expressões em seu rosto. Noto seu olhar desafiador para Sequela e tento imaginar o que ele deve estar cogitando agora.

De todas as possibilidades, acho que a primeira coisa que vem à minha mente é um disparo de sua arma de fogo.

***

Quando a seleção acaba, Kim, Kol, Dimitri e eu caminhamos para o refeitório. Enquanto eles comentam sobre a tensão que estão tendo e da probabilidade de falharem, permaneço em silêncio, apenas fitando o vazio. Não consegui encontrar nada a respeito das informações no pen drive. Nem mesmo consegui encontrar ele. Quem sabe na sala de controle, mas pensar nisso já me coloca a um passo da morte.

Levanto e guardo minha bandeja, indo em direção ao dormitório.

- Você não vai ficar aqui com a gente? – indaga Kim.

- Eu estou cansada. – eu digo. – Preciso dormir um pouco.

Caminho sem olhar para trás, apenas presa em meus próprios pensamentos. Tudo isso vai acabar logo, eu penso. Quando entro no elevador e as portas se fecham, clico no botão que leva para os dormitórios, mas sinto algo estranho acontecer.

Sinto como se houvesse um vazio em minhas pernas, fazendo-me cair. Tento abrir as portas, mas elas parecem estar emperradas. Caio com o corpo para o lado e ouço um ranger de metal contra metal, ensurdecendo-me. Grito por socorro, mas não há como me ouvirem daqui.

Sei que o elevador está caindo.

A velocidade de queda aumenta e minha garganta parece inchada. Bato com as costas na parede e tombo para frente novamente. Entre gritos abafados, luzes falhando e material rangente, ouço um último estrondo. Maior e mais grave.

Caio mais uma vez eapago.

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