Acordo com um barulho nas grades de minha cela. A mulher que me trouxe para a cela ontem a noite, que se autodenominou Felícia, desliza um caneco através das barras, produzindo um ruído metálico e incômodo.
- Hora de acordar, princesa. – Felícia ironiza. – Precisa de um banho de sol.
Lavo o rosto em uma pia e noto o quanto meus cabelos estão desgrenhados. Felícia me leva até o pátio, um grande bloco retangular cercado por enormes muros de pedra com cercas elétricas. Não há possibilidade nenhuma de fugir daqui.
Ela entrega meu café da manhã: barras de cereal e duas caixas de suco de uva.
- Esse é o seu café. – diz. – É tudo o que tem pela manhã. O almoço será servido à uma da tarde e o jantar às seis. Entendeu?
Concordo com um aceno de cabeça. Caminho em direção a um banco, onde como uma barra e a digiro com suco. As outras detentas estão sentadas em bancos de concreto, algumas conversando próximas ao muro, provavelmente cogitando uma possibilidade de pulá-lo.
Uma mulher com um moicano colorido se aproxima de mim, junto com mais duas presidiárias corpulentas e de olhar frustrado.
- Carne nova no pedaço? – diz a mulher com cabelo moicano. – O que acham dela, meninas?
- Não sei, Dru. – uma das mulheres fala à outra mulher com cabelo moicano. – Ela é pequena e baixinha e magrela, não sei se aguenta mais de uma semana aqui.
Dru e a outra mulher, que tem cabelos curtos e assanhados, riem de maneira eufórica, como se tivessem escutado uma piada hilária. Mantenho a cabeça baixa, ignorando a presença indesejada.
- Qual o seu nome, magrela? – pergunta Dru.
Permaneço em silêncio. Não posso perder a paciência, mas não vou aturar desaforos estando calada. Detesto esse tipo de submissão.
- Não escutou o que eu disse, magrela? – Dru toma as barras de cereal de minhas mãos, jogando-as no chão. – Por que não olha para mim, hein?
Mais um empurrão em meu ombro e a raiva ferve em minhas veias.
- Ela deve ser cega ou surda. – diz a mulher que me chamou de baixinha e magrela.
- Você é cega ou surda, magrela?
E desta vez a raiva explode de minhas veias, invadindo todo o meu corpo. Rapidamente, atiro o restante do suco que tenho na roupa de Dru. Ela revida, socando meu rosto de maneira brusca, quase me fazendo cair.
Soco seu rosto de volta, provocando sangramento em seu nariz. As demais presidiárias ecoam em gritos, algumas delas até mesmo me apoiando. Chuto o estômago de Dru, que por sua vez joga o corpo sobre mim.
Rolamos no chão por um instante até que ela fica por cima de mim. Uma de suas amigas lhe entrega um canivete aberto, que possui uma lâmina cintilante sob o sol.
- Vai se arrepender, garota.
Dru investe o canivete contra mim, porém viro o rosto, livrando-me de uma perfuração. Seguro sua mão e chuto entre suas pernas, fazendo-a largar o canivete. Fico por cima e toco seu pescoço com a lâmina, provocando um filete de sangue.
Não pretendo causar danos maiores, mas quando me preparo para esbofeteá-la, sou atingida na cabeça por um soco. Uma das amigas de Dru tenta puxar o canivete de minha mão, mas sou mais ágil e atiro-o para dentro de uma grade de escoamento no chão, ouvindo o som de metal na água quando o objeto atinge o esgoto.
Duas presidiárias seguram meus braços, facilitando o soco de Dru. Meu lábio inferior parte e sinto o gosto de ferro quando umedeço a região com a língua.
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Indomável
Hành độngEm meio a um clima de ação, romance e mistério... Tessa Drummond nunca acreditou que pudesse ser indomável. Vivendo em um Brasil distópico, no ano 2172, Tessa deverá enfrentar desafios que exigirão muito mais daquilo que ela acredita ser capaz de co...