Nada de dor.
Nada de caminho cheio de luzes.
Apenas abro os olhos e estou acordada. Quer dizer, estou dormindo, mas ao mesmo tempo estou acordada em minha mente. Ou será que realmente estou dormindo? É muito confuso, mas é o que estou presenciando. Uma confusão em minha cabeça. Não sei que lugar é esse e não consigo observar nada com clareza devido a pouca luz no local.
Estou em uma espécie de elevador iluminado por um holofote acima de mim. Não encaro a luz com medo de que ela possa ferir minha retina e então tateio as paredes do elevador. Ele é cilíndrico e de vidro, como um tubo, descendo para algum lugar que não conheço. Através do vidro, vejo apenas cinco centímetros que me separam de um metal sufocante. Estou trancada?
Não sei ao certo, mas sei que estou descendo. Posso identificar isso pelo barulho que continua rangendo enquanto o elevador se move. Quando a porta finalmente abre, encontro uma sala pequena onde uma esteira enorme está em movimento, dando passagem para uma porta no fim do aposento.
A sala é fria, me fazendo afagar os braços e agradecer por estar usando um casaco. Olho para o teto e vejo que fileiras luzes de LED refletem as paredes feitas de um material moderno. Vasculho o ambiente, tocando as paredes como um cego decifrando uma placa em braile. Sinto o material que reveste uma das paredes. É tão concreto que parece real. Aliás, sob hipótese alguma parece que estou dormindo.
Subo na esteira à minha frente, cambaleando um pouco até que consigo me equilibrar e deixo que meu corpo seja levado através dela, atravessando a porta. Adentro em uma nova sala, onde há mais jovens selecionados na Classificatória.
Diferentemente da outra, estou em uma sala espaçosa, com maquinários bastante modernos que exibem projeções magníficas que parecem surgir do nada. Os Híbridos aplaudem quando desço da esteira e rezo para que não percebam o rubor em minhas bochechas.
Observo uma das projeções e vejo o corredor de macas da Imporium. E lá estou eu. Dormindo. Por um momento, esqueço todos os olhares que me observam e encaro a projeção. Como posso estar em dois locais ao mesmo tempo?
- Tessa!
Giro em meus calcanhares e vejo Kim. Não sei o porquê, mas eu a abraço. O calor que seus braços me propiciam traz um conforto que parece ser a melhor maneira de me acalmar diante do estado em que estou.
- Você está bem? – ela pergunta.
- Estou. – eu digo, esfregando as costas das mãos nos olhos, para saber se é realmente um sonho. – Eu acho.
- Prestem atenção!
Uma voz se sobressai em meio à multidão. Um homem vestido em um uniforme preto fala. Ele possui cabelos ruivos e volumosos, penteados de maneira lambida para trás. Ele deve ter a idade do meu pai, porém não há marcas notórias em seu rosto a não ser por uma cicatriz fina e rosada no canto da bochecha esquerda. Em seu peito, há uma tarjeta com seu nome costurado. HENRY.
- Sejam bem-vindos à Imperium, a cidade virtual de estudos da Imporium. – Henry fala, as mãos postas nas costas. – Alguns de vocês ainda estão confusos a respeito do sistema, mas fiquem calmos, pois vocês estão sob total segurança.
- E sob total controle. – Kim sussurra para mim.
- Estamos numa sala restrita e muitos ainda não acreditam que estão em coma induzido. – ele adiciona. – Vocês serão treinados e avaliados para servirem de base para uma série de estudos que vai contribuir com a produção de medicamentos para as populações que ainda sofrem com os danos da Guerra.
Desloco o peso para uma das pernas. Já sabemos toda a ladainha. Não podemos partir logo? Evito não pensar demais, pois posso acabar falando o que penso. Estou tão aturdida que tenho certeza que eles não gostariam de ouvir insultos.
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Indomável
ActionEm meio a um clima de ação, romance e mistério... Tessa Drummond nunca acreditou que pudesse ser indomável. Vivendo em um Brasil distópico, no ano 2172, Tessa deverá enfrentar desafios que exigirão muito mais daquilo que ela acredita ser capaz de co...