AnastasiaO caminho para a casa dos meus pais era extremamente curto, infelizmente. Em outras circunstâncias eu acharia isso maravilhoso, mas agora, na atual conjectura é um desastre. Não eram mais que dez minutos de carro pelas ruas tranquilas até o Queen Anne Hill, o bairro chique e tranquilo que meus pais vivem desde sempre.
Quando eu era criança sonhava com uma vida igual a deles; casamento estável, casa grande de estilo francês com vista para a Elliott Bay e jardim de inverno invejável.
Como eu era estúpida.
A construção enorme era avistada logo no início da rua. Com seus três andares ela se sobressaía sem grandes esforços. As casas da vizinhança não era menos impressionantes, mas minha mãe sempre teve que se impor, em todos os aspectos.
Diminuo um pouco a velocidade e respiro fundo, debatendo comigo mesma o quê eu devo falar para eles. Fazem semanas que eu desapareci sem maiores explicações, dando notícias somente através de telefonemas rápidos e informações pela metade. Eu posso ser sincera e contar sobre o meu relacionamento com Christian, omitindo as partes mais pesadas ou continuar com a mentira até que eu consiga localizá-lo.
Não pensei muito, Anastasia. A mentira é mais confortável.
Com um suspiro eu volto a acelerar e viro na entrada de pedras da garagem, agarrando a minha bolsa e saltando para fora do carro.
- Você desaparece por um mês e volta com uma BMW? Acho que o setor hoteleiro italiano paga melhor que o americano. - ouvi a voz divertida do meu pai e meus olhos se encheram de lágrimas. - Olá, querida. Sentimos a sua falta.
Corro até ele e envolvo meus braços ao redor da sua cintura, o abraçando com força. Eu senti tanta saudade e também tive tanto medo.
Deus, isso é uma merda.
- Que saudade, papai. - ele levanta a minha cabeça e limpa minhas lágrimas, beijando a minha testa. - E é um carro executivo. - ele olha para mim com sobrancelhas franzidas, mas dou um sorriso aberto e volto a abraçá-lo. - Eu senti tanto a sua falta.
Ele voltou a me abraçar, murmurando palavras doces. Eu me senti uma garotinha novamente, correndo para os braços do meu pai sempre que tinha medo de alguma coisa.
Raymond Steele sempre foi um empresário de sucesso, marido dedicado e pai amoroso. Apesar da construtora dele exigir muita atenção e ser a mais requisitada da cidade ele sempre soube conciliar suas obrigações para estar em casa na hora do jantar, nos levar para jogos de beisebol nos fins de semana e cortar o assado nas noites de ação de graças e natal.
- Ana, querida. Eu não sei o que aconteceu para você mudar de ares tão abruptamente, mas saiba que eu estou aqui e vou sempre te apoiar, acolher e ouvir. Fale comigo sempre que quiser. Eu sou seu pai e te amo muito, não se esqueça.
Papai sempre foi compreensivo, me dando espaço e privacidade sempre que eu precisava. Mesmo que as vezes meu humor estivesse terrível ou desejos de morte povoassem a minha mente ele simplesmente me dava palavras amorosas e respeitava o meu tempo.
- Deus, como você está bonita.
Tirei meu rosto do peito do meu pai e olhei para a varanda. Mamãe estava parada lá, perfeitamente vestida e maquiada, sorrindo para mim de braços abertos.
Eu não me parecia em nada com ela.
Carla Steele era a definição de perfeição. Com os cabelos loiros e olhos verdes ela foi a rainha do baile de formatura, apresentada com honra pelos meus avós em bailes de debutantes e desejada por mais garotos que eu sou capaz de imaginar. Papai acabou por ser o grande vencedor, tanto pela beleza vibrante como pelo sobrenome de peso.