Prólogo
Em um futuro muito e muito distante e em um mundo desfragmentado e violento, existem duas distinções que coabitam quase isoladas, os de dentro, os de fora, humanos protegidos por seus muros e ignorâncias e os selvagens, sobrevivendo da escassez de um mundo contaminado e devastado pela última grande guerra nuclear.
Mutações aconteceram, mudanças foram necessárias e uma aliança incomum obrigatória. Em cada cidade teria um líder que saberia a realidade do mundo e cuidaria para que os muros mantivessem todos dentro e ignorantes das ações humanas passadas ou da existência dos selvagens, e os líderes de fora, de cada região de selvagens responsáveis por manter os seus longe dos muros. Humanos fora do muro só acontecia quando expulsos e então estavam entregues ao próprio destino e sorte e um selvagem dentro, apenas se seu consorte de vida o chamasse. Seus rostos não poderiam ser vistos, sua voz nunca podia ser ouvida, e sua permanência deveria ser breve como a luz do sol no inverno.
Em um mundo com poucas mulheres, cheio de humanos estéreis e tecnologia substituindo aos poucos a humanidade dentro deles, fêmeas férteis eram disputadas a unhas e poder, e ainda mais especiais eram os ômegas, homens com gene X, hermafroditas, geneticamente modificados para que a humanidade não desaparecesse e ainda mais raros que mulheres férteis, viviam em redomas longe da população e puros até a hora do primeiro cio, quando estavam férteis para procriar.
Meio humano, com sangue lycan, e ignorantes do que eram. Preciosos, raros, caríssimos, negociados a peso de ouro e criados em apenas uma cidade do mundo. Nova Xangai.
A humanidade não sabia que tinham sangue noturno em seus ômegas, afinal eles nada sabiam das raças de fora, era tabu, proibido, entretanto um ômega mudaria tudo quando por acidente e negligência de seus guardas, sairia muro a fora, pisaria do lado de fora e teria seu destino cruzado a monstros dominados pela lua cheia, instintos e atraídos pelo seu cheiro.
Um ômega, vinte e um alfas, e um mundo prestes a despertar para todos habitantes do devastado mundo pós-guerra. Um Dominum era liberto do cárcere, mas será o ômega capaz de realizar a profecia do seu destino?
Entre estrelas, borboletas e liberdade
Meus pés pisavam nus naquele chão irregular, de terra, com plantas frias e macias... Meus pés pisavam e sentiam mais do que apenas pedra lapidada, vidro e plástico bolha. Meus pés eram acarinhados pela brisa diferente, livre, sem a cúpula vitral que sempre via ao olhar para o céu. Havia azul ali, um azul quase negro pontilhado do que ouvia um dia contarem para mim antes de dormir e ainda filhote, estrelas... Eram estrelas e agora meus olhos a viam. E eu chorei, porque o mundo era real, o vento era real, a natureza era real... Uma borboleta, algo que só via em livros pousou em minha mão e eu não me movi com medo dela partir, tão linda, quase o meu tamanho, mas tão leve quanto uma pétala de flor da estufa. Ela me olhava com seus olhos grandes e suas asas imensas e brancas refletiam a luz da imensa lua cheia no céu estrelado.
Ela era linda... E então ela alçou voo e eu continuei floresta adentro entontecido pelas belezas e diferenças do meu quarto branco. Sentia outros insetos me seguirem, tão grandes e irreais como nos livros de fantasia. Mas o que era fantasia? Se tudo aquilo era real?
E então eu parei de frente a árvore dos meus sonhos, imensa, branca, com folhas vermelhas e tronco dez vezes mais largo que meu corpo esguio.
"Você está aqui, criança"
A voz conhecida soou e eu sabia que era ela, aquela árvore velha, a que me contava histórias quando eu entrava em sono profundo. Era magia de um mundo antigo, ela me dizia, um dia foi bruxa, agora era árvore que nem o mais o cruel mortal podia matar ou destruir. Ela sabia das coisas, ela o chamava para fora...
"Estou, eu vim, finalmente eu vim"
"Sim, você veio, agora me toque, você precisa saber de tudo, minha criança, você precisa se libertar, você é o novo mundo, você é o escolhido"
E então eu assenti e estendi minhas mãos... Meus dedos se aproximaram com receio de tocar tão antiga criatura contudo meu nome foi soado em brado não muito distante e eu estremeci me afastando dela assustado. Eles me encontraram? Eles descobriram?
"Fuja, Fuja agora!"
E eu corri, corri sendo seguido por insetos imensos que me cercavam me escondendo em suas asas coloridas e assustando meus perseguidores, meus guardas, meus carcereiros da cidadela do prédio negro.
"Fuja!"
A voz dela repetia, asas desceram dos céus e um pássaro vermelho gigante pousou a minha frente se curvando lento:
"Suba, meu príncipe, eu te levarei para um lugar seguro, nós o protegeremos dos humanos"
"Meus amigos! Eu não posso ir sem meus amigos!"
"Voltará em breve para libertar os ômegas, mas agora precisa libertar a si mesmo, vamos, eles estão quase aqui"
E então eu chorei silencioso pelos meus irmãos ainda aprisionados nas caixas brancas e saltei sobre a ave majestosa que alçou voo piando estridente enquanto borboletas, abelhas e libélulas nos seguiam para receber os tiros por mim. Mas quando caia uma, dez se erguia do chão no lugar e logo eu estava distante demais dos tiros e ataques.
"Eu vou te esperar criança, mas até lá descubra por si mesmo, seja o que nasceu para ser, um Dominum"
Foi a última coisa que a árvore disse em minha mente antes de se silenciar e eu fui levado da única coisa que conhecia em toda a minha vida por um pássaro vermelho chamas e para um céu lindo... Para onde eu iria? Como eu iria voltar, porque ele me chamou de príncipe?
Eu não tinha respostas, mas sabia que meus olhos não mais se negariam a não ver outra vez, eu era um ômega, e eu voltaria para buscar e libertar os outros.
Eu era um ômega...
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Dominum
FantasyUm ômega, vinte e um alfas, e um mundo prestes a despertar para uma nova era e para todos os habitantes do devastado mundo pós-guerra. Um Dominum era liberto do cárcere, mas será que o ômega capaz de realizar a profecia do seu destino?