Dominum

A chave

  Isa olhou atenta para a fada estranha diante de um caldeirão e suspirou. Tinha ouvido tanto falar delas, que elas devoravam humanos, que eram perigosas, que deviam se manter bem longe delas e agora... Só via três criaturas menores do que ela, com asas fantasmagóricas e olhares misteriosos...

— Decepcionada, viúva?

  Uma delas sorriu e Isa deu de ombros:

— Um pouco.

— Não se preocupe, quem vai vingá-la em troca da alma dos seus filhos não somos nós, é ele...

— Ele?

  Ela estranhou embora tenha sentido um aperto no peito ao falarem sobre as almas dos seus filhos... Iam mesmo matá-los... Iam...

— Não vamos matar os gêmeos, eles são os futuros humanos que esse mundo terá – A fada do gelo que lhe trouxe disse tocando a borda do imenso caldeirão – O casal de humanos com direito a subir na arca.

  Ela completou a encarando sorrindo.

  Isa sentiu um calafrio, do que elas estavam falando?

— Mas antes um lobo e um dragão devem entrar no corpo dos seus fetos. Um lobo e dragão que ainda guardam a magia ancestral em suas essências, ambos tirados do corpo do rei dos homens, purificados por um bruxo antigo, o rei dos bruxos e só então trocados pelas almas dos seus bebês. Em troca, você terá Nova Seul reduzida a cinzas... E todos os humanos de lá, mortos, como deseja.

  Isa perdeu um pulso e quase ofegou. Aquilo era um plano... elas tinham um plano para os seus bebês e não parecia algo de súbito...

— Vocês sabiam da morte dos meus consortes!

— Elas sabiam, porque eu as chamei para essa tarefa – Uma voz masculina disse e logo ela viu um homem vestido todo de negro, dos pés à cabeça vir para ela das sombras da cabana... Ele era alto, tinha os cabelos negros quase até os pés e um rosto familiar...

  Ela ofegou:

— Kris!?

— Não sou a cópia que um dia foi seu macho, viúva. Eu sou Yifan Júnior, filho do rei dos homens, rei dos bruxos, o primeiro do meu clã, primogênito da grande bruxa dessa Terra, consorte real da deusa dos mortos Hela, aquele que pode atravessar todos os véus e todos os mundos. Bruxo do espírito e último dragão vermelho.  Eu vim para realizar a sua vingança e depois trocar a alma dos seus fetos. Essa é a nossa troca e nosso acordo, se ainda tem algo a dizer ou fugir, deve dizer agora. Se estiver de acordo, deve entregar seu corpo as fadas que lhe colocarão em sono profundo enquanto eu destruo sua antiga casa. Tens a minha palavra de que nenhum humano sairá de lá vivo. Temos um acordo?

  Isa mentiria se não sentisse medo daquele homem estranho, se não titubeasse, contudo queria e desejava sua vingança mais do que tudo e a teria!

— Muito bem, cara estranho, eu topo.

  E então ele sorriu e ela desmaiou.