Siga os trevos

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  Marye achava aquilo tudo muito estranho, principalmente aquele lobo com cheiro doce cuidando dos seus machucados com cuidado, mas nada disse.

  A vampira tinha feito ela e sua princesa beberem seu sangue e aquilo diminuiu a dor e as feridas, mas sabia que precisavam de tratamento humano para que curassem... Tinham sido atacadas por criaturas estranhas daquela floresta e depois pelo humano barbudo. Nunca tinha visto humanos antes, mas sabia que eles comiam os da sua espécie. Viviam isoladas entre seu pequeno povo nas altas montanhas distantes.  Ao menos o frio daquela região ali não a machucava tanto, afinal vinham de um lugar gelado, de neve eterna...

  Porque aquela águia a roubou e sua princesa no palácio e as jogou ali? Elas nada tinham feito as águias das montanhas vizinhas, então porquê?

  Sua princesa achava que fizeram aquilo como algum castigo ao seu povo, por isso arrancaram o símbolo de poder da sua orelha, mas Marye tinha dúvidas, não sentiu ódio vindo da águia, sentiu... Preocupação, e determinação. Podia sentir alguns animais quando em sua forma humana...

  Dessa vez sua princesa fez a suposição errada.

  Mas qual era certa?

  A vampira disse que era seu destino, o destino dela e da sua princesa e ao ver seus olhos via a mesma determinação da águia, mas via coisas a mais, coisas que não conseguia dar nome e que eram desconhecidas. Imediatamente se lembrou das histórias da avó sobre encontros que resultavam em mudanças de destino:

"Houve um tempo em que todas as raças não humanas desse mundo obedeciam a único rei, Um alfa dos alfas, um lobo que tornou o mundo seguro para todos os ômegas de todos os povos. Ele tinha quatro consortes, quatro pares ligados ao seu coração pela marca..."

" E o que é a marca, vovó?"

"É algo tão mágico e poderoso que quando ela acontece muda todo o seu destino, para lobos é uma troca de olhar, para os da nossa raça é um beijo dado com o coração, para os demônios era uma noite de amor intensa... Não importa como, se ela surge, seu mundo muda, seu olhar irá mudar..."

  Sua avó não falou sobre vampiros...

  Como poderia saber se aquele era o caso? E agora sabia que lobos desse mundo não eram mais como os lobos dos contos da avó, o mundo tinha mudado, as raças se tornaram selvagens, os humanos loucos, sair da montanha era perigoso...

  Fechou os olhos e voltou a se lembrar da última conversa delas antes da avó viajar para a tal floresta da grande árvore branca onde deveria morrer.

"O que é uma noite de amor?"

  Sua avó sorriu e a encarou com aqueles velhos olhos sábios:

" É quando sua alma, seu corpo e seu coração se fundem com outra alma, corpo e coração tornando-se um só, dentro de dois corpos, mas também pode ser divido em mais partes, a alma gêmea as vezes é tão bela e intensa que precisa de mais corpos para existir por completo... Lembra da história do início dos tempos entre o nômade e a árvore de laranjeira?"

" ... E nesta ilha distante vivia um jovem espírito de laranjeira que uma vez a cada ano, na primeira lua cheia, se libertava de sua casca de madeira e assumia sua forma humana para cantar para a lua e nadar com os animais marinhos. O guerreiro amava o belo jovem, mas para sua tristeza, não sabia nadar, assim apenas se sentava na praia e assistia a diversão de seu belo amado do outro lado... Sim, eu me lembro"

DominumOnde histórias criam vida. Descubra agora