Capítulo 1

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ANTHONY D'EVILL

-Querido, mantenha-me informada, por favor.

-Mãe, não preocupe-se tanto. - Deposito um beijo em sua cabeça - Tenho certeza que meu avô segue firme como uma rocha.

-Isso não me impede de ficar preocupada. - Abraça-me forte - Por ele e por vocês. Longas viagens podem ser perigosas. Acaso não escutaste as histórias sobre assaltantes de estrada? Parece-me que a quantidade de roubos está aumentando.

-Mãe, levaremos as pistolas. Não se preocupe. - Beijo-lhe outra vez - Harry está supervisionando os últimos ajustes na carruagem. Mal perceberá nossa ausência.

-Como ousa insinuar algo assim? - Coloca as mãos na cintura e flexiona os olhos castanhos para mim - Eu sinto falta de cada um dos meus filhos. O tempo inteiro.

-Victoria está casada a um ano, mãe.

-E sinto mais ainda sua falta. - Solta um suspiro exagerado - Não estou pronta para vê-los partir, por mais que eu deseje que me deem netos logo.

-É mais seguro que deposite suas esperanças na única filha casada.

-Não será a única por muito tempo. - Me dá um sorriso ardiloso, idêntico ao de Charlotte quando está prestes a aprontar algo grande e terrível.

Sempre há boatos correndo sobre minha família, especialmente o casamento de meus pais e como ambos acabaram juntos. Sendo verdade ou mentira não nos importa, o certo é que estão casados e felizes faz muitos anos e com a chegada dos filhos suas personalidades para conosco tornaram-se opostas e complementares.

Olívia D'Evill é uma sonhadora e casamenteira, eu adorava o fato de ser tão discreta em suas eleições para noras, mas desde que Victoria adotou o sobrenome Hinxtone, minha mãe vem esquecendo da discrição. Thomas D'Evill é serio, centrado e -  ao contrario da esposa - prefere estar sempre à parte, não apressando nenhum dos filhos.

-Não quero me casar agora, mãe.

-Ora, Tony, não seja tolo. Não estou expulsando-o de casa, desejo apenas que encontre uma nora e dê netos a esta pobre senhora.

-A marquesa de Brightdown não tem absolutamente nada de pobre vítima.

-Menino petulante. - Ri e dá um leve tapinha em meu braço antes de abraçar-me com força outra vez.

Meus pais nunca criaram os filhos - e se levarmos em conta minha irmã adolescente e a outra que ainda é uma criança - não criam os filhos para serem prisioneiros dos deveres sociais. Eles nos criaram/criam para que busquemos o mundo e sejamos felizes.

E felicidade é um ponto muito importante para nossa família, pergunte à minha irmã Victoria. É um verdadeiro milagre que tenhamos permitido que ela casasse com o marido, um homem que definitivamente não a merece, mas ela o ama e aparentemente ele a ama também.

Sou o mais velho dos cinco filho do marquês de Brightdown, por isso ganhei o título honorário de Visconde de Brightdown. Logo em seguida temos a pequena lista de proles: Victoria - atual duquesa de Brandford -, Harry - barão de Wendwood -, Elizabeth e por fim, nossa pequena diabinha, Charlotte.

-Mamãe, estou em perigo! - Sua voz infantil ecoa por toda a sala de visitas antes que a espertinha entre correndo e se jogue sobre a cintura de mamãe, abraçando-lhe como se sua vida dependesse disso.

-Charlie, por que está molhada? Onde está a senhora Hardy?

-Houve um incidente, eu juro que não foi minha intenção. - Lágrimas começam a escorrer por seu rosto e minha mãe se ajoelha para limpá-las - Eu estava saindo mamãe, eu juro. Isso não devia ter acontecido.

Aos onze anos de idade Charlotte colecionava preceptoras mais que o país inteiro. Ela não é uma garota má, apenas sofre em excesso por ter um espírito muito livre. É uma moça do campo, detesta ir à cidade por longos períodos e ama ter seu contato com a natureza, por isso passa seus dias brincando no bosque que cerca a propriedade. Charlie é uma boa aluna, aprende tudo rápido e possui inteligência demais para sua tão pouca idade, mas sua impulsividade e paixão por travessuras afastaram todas as instrutoras do país.

A senhora Hardy foi a última que a última agência nos indicou. É conhecida por ser dura e muito disciplinada, mas sua relação com nossa pequena diabinha não estabeleceu-se entre as melhores desde que chegou à casa, três meses atrás.

Meus pais estão esperando que Charlie fique um pouco mais velha para tentar enviá-la a escola de damas. Considerando que seja uma escola para damas, questiono-me se é uma boa ideia enviá-la.

Ouvimos passos pesados pelo corredor e poucos segundos depois uma senhora de meia idade, completamente encharcada, aparece na porta. Ao menos ela não entrou e pisou no carpete, certamente deixaria nossa governanta muito irritadiça.

Os cabelos negros com alguns fios grisalhos estavam com algumas mechas grudadas a sua face vermelha. Uma bola peluda no topo de sua cabeça foi um dia um penteado elaborado. O vestido vinho pingava muito e havia pequenas manchas pretas derretidas sobre seus olhos e recuso-me a perguntar o que é aquilo.

-Sua Graça, eu tive o prazer de tornar as mais levadas garotinhas em perfeitas damas para a sociedade, mas o que estou fazendo aqui é uma completa loucura! Sua filha é uma selvagem sem modos que não consegue ao menos se concentrar em um lição, foge das aulas para correr pela vegetação, prega peças como um garoto e usa calças para montar à cavalo.

-Eu realmente sinto muito por tudo isso, senhora Hardy. - Minha mãe tenta parecer desolada, mas já se acostumara tanto com esses incidentes que passou a agir sempre da mesma forma.

-Estou de partida, senhora e se ainda deseja salvar sua filha da completa selvageria recomendo que a mande para a mais rígida das escolas ou a aliste no exército.

Ok, essa sugestão sobre o exército é nova para mim. Entendo a raiva sobre o espírito livre de Charlie, pois a pobre garota não nasceu para passar longas horas em salões de baile lotados conversando sobre o clima ou quaisquer banalidades. Charlie também é um pouco desatenta, já tentando entender o que há de errado com ela, mas a menina simplesmente não consegue se manter tão focada por muito tempo.

Acreditamos que seja algo que melhore com o tempo, por isso não a pressionamos muito. Por Deus, ela é apenas uma criança. Quer brincar, sorrir e guardar boas memórias para a vida adulta, ainda não entende a "seriedade" e a "importância" de certas lições como Elizabeth.

-Compreendo, senhora Hardy. Disponibilizarei uma carruagem para levá-la até o vilarejo.

-Obrigada, milady. - Sai pisando duro para longe da sala e mamãe cai sobre o sofá soltando um longo suspiro e acariciando gentilmente os cabelos molhados da filha.

-O que faremos agora? - Pergunto.

-Encontrar alguém que dure mais que três meses.


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Anthony Louis D'Evill - Visconde de Brightdown

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Anthony Louis D'Evill - Visconde de Brightdown

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde histórias criam vida. Descubra agora