Capítulo 17

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GRACE EDGELL

-Grace? Está acordada? - Tira o casaco e o coloca sobre a cadeira perto da porta enquanto me levanto do sofá - Você acorda cedo amanhã, deveria estar dormindo.

-Eu estou enlouquecendo, mãe. Sinto-me tão culpada.

-Querida, o que foi? - Caminha rapidamente em minha direção, dando-me um abraço apertando antes de segurar firmemente minhas mãos.

-Por que não me contou sobre seu trabalho, mãe? Eu... Céus, eu venho lhe trantando tão mal nos últimos tempos.

-Você estava sobrecarregada e estressada, eu pensei em fazer uma surpresa quando recebesse o primeiro pagamento, mas vejo que descobriu antes do previsto.

-Mãe, eu... - Volto a abraçá-la - Eu realmente sinto muito por minhas grosserias. Não sei o que está havendo comigo, eu só... Sinto muito mesmo.

-A morte do seu pai foi um choque para todas nós, Grace. - Suas mãos começam a acariciar meus cabelos e me sinto com doze anos outra vez, sendo consolada ante o terror de ir para a Escola de Damas - Eu sei que não foi fácil nos sustentar enquanto enfrentávamos o luto.

-Sinto-me fadigada.

-Eu sei, querida, eu sei. - Ela nos puxa para o sofá e mantém as mãos acariciando meus cabelos - Escute, Grace, não ganharei rios de dinheiro mas se quiser podemos economizar por um tempo e sair da cidade. O seu bem-estar e o de Mary são a minha prioridade. Se não estamos contentes aqui, vamos para longe.

-Mas e o senhor Yuth?

-Ele há de entender, eu sempre o disse que tudo dependeria de vocês.

-A senhora gosta dele?

-Ele é muito gentil, sorridente, alegre, está sempre falando e fazendo piadas. Quando seu foco está em mim sinto que não há mais ninguém além de nós. Sua presença me anima e sinto-me tão feliz, satisfeita como em anos não havia. - Solta um suspiro apaixonado - Ele é tão doce.

-Estás enamorada por ele, mãe?

-Querida, sei que ama muito o seu pai e não que pense que estou desonrando sua memória, mas as coisas já não iam bem naquela época. Então o incidente aconteceu e ficamos desamparadas. Senti-me em um poço profundo com você e Mary, sem uma única saída e com dívidas para todos os lados. O senhor Yuth foi um amigo maravilhoso e sempre me respeitou muito, em algum momento apaixonei-me por ele e quando finalmente reuni coragem para confessar meus sentimentos descobri que era recíproco. Ele não nos zombou ou excluiu como tantas outras pessoas, ele sempre nos apoiara.

-Ele sabe de toda a história do papai?

-Dos boatos ou da verdade?

-O que quer dizer com isso?

-Todos sabem que seu pai fora morto em um duelo e acreditam que o nobre em questão o flagrou com a esposa, mas a verdade é seu pai bebeu muito mais que o devido e conseguiu invadir um baile. Foi atrás de uma de suas amantes e lhe propôs que ambos fugissem, se o ato de loucura não fosse comentido no meio da pista de dança todos poderiam ter feito vista grossa.

-Papai não pensou em nós, não é mesmo?

-Nos últimos anos de sua vida? Não. Creio que você tenha presenciado a parte mais leve, viva na escola longe de nós e não viu todos os escândalos, as brigas e as confusões que seu pai causava por aqui. Pagamos uma fortuna ao dono da taberna por danos gerados graças às brigas dele.

Por que nunca contou nada disso?

-Você já havia tomado para si a responsabilidade de manter essa família sozinha, eu não podia ajudar e ainda lhe falaria tudo isso? Não, não era a hora.

-O visconde de Brightdown pediu permissão para me cortejar.

-O filho do marquês?

-Sim, Anthony D'Evill, futuro décimo quinto marquês de Brightdown. Sim, ele mesmo.

-Essa é uma notícia um tanto... Inesperada. O que respondeu?

-Na hora eu lhe disse sim, mas agora estou arrependida.

-Por qual motivo? Se aceitou o cortejo é porque estás interessada nele. Nunca a vi interessada em ninguém antes.

-Ele é tão bonito, mãe. É atencioso, amoroso com sua família, tem uma postura protetora e está sempre atento a tudo e todos. Parece conhecer profundamente as pessoas simplesmente observando-as. Eu não sei lhe dizer o que exatamente me chama a atenção, ele só é diferente de tudo o que já conheci.

-E o que está lhe impedindo de permitir que o cortejo siga seu rumo?

-Ele é um nobre, a família inteira tem grande influência. Seu cunhado é um duque, o irmão será conde, o pai é um marquês... A própria mãe é filha de um conde, o que eu tenho a oferecer?

-Uma vida não é construída por uma única pessoa, Grace. Sempre haverão outros para ajudar no processo de construção. A família D'Evill pode ter quantos títulos quiserem, mas no passado foram plebeus como nós e acredito que eles sabem disso. Já tive a oportunidade de conhecer outros nobres e posso afirmar com propriedade que eles são diferentes.

-Hoje visitei a galeria da casa, inúmeros quadros enfeitavam as paredes, retratos de seus antepassados e até mesmo do primeiro marquês de Brightdown!

-Conheço a história, ela é muito famosa por todos da região. - Solta uma pequena risadinha - Os cavaleiros da grande guerra. Dizem que fora algo quase mágico.

-Eles mantém o título a quatorze gerações.

-Eles cumprem deveres para com a Coroa a quatorze gerações. Lembre-se que são eles que tornam possíveis as melhorias da região, são nosso contato com o governo. O marquês herdou o título quando eu ainda era jovenzinha, mas lhe digo que sua administração tem sido muito bem feita, o fluxo migratório para Brightdown aumentou muito com o passar dos anos.

-E poderei fazer parte disso.

-Não se pressione, é perfeitamente normal estar assustada. Ninguém recebe um pedido de cortejo de um nobre todo dia.

-A irmã dele recebeu.

-Um excessão a regra. Eles buscam melhorias em todo o território não apenas por nós, mas por eles mesmos também. Os D'Evill vivem aqui, é justo que busque properidade para as próximas gerações, não é?

-Sim.

-Você poderá ajudá-lo nessa tarefa, Grace. Às vezes mudar é um mal necessário. Vocês são jovens, possuem mais intruções que a minha geração, mude o mundo.

-A família dele ainda não sabe, creio eu. Estão passando por um momento mui delicado.

-Você é a melhor garota que poderia entrar para aquela família e se eles não perceberem isso o prejuízo definitivamente não será nosso.

-Obrigada, mãe. - Deito minha cabeça em seu ombro e ela apoia sua cabeça na minha - Estou feliz pelo seu casamento com o senhor Yuth.

-Obrigada, também estou feliz com o seu cortejo.

-Obrigada, mas não gosto do filho do senhor Yuth.

-Oras, nem eu. Nos livraremos dele, pode confiar.

-Eu te amo.

-Eu também, meu amor.

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde histórias criam vida. Descubra agora