Capítulo 18

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ANTHONY D'EVILL

Os horários não estão coincidindo.

A dois dias Grace me concedeu a permissão de cortejo e eu não consigo ao menos vê-la. A época de colheita está se aproximando e os trabalhos triplicaram. Estou saindo mais cedo que o normal e voltando muito tarde, ou seja, antes de Grace chegar e depois de Grace sair.

Não que eu fosse um sonhador com a ideia de cortejo, mas agora que finalmente encontrei alguém interessante espera-se que eu ao menos veja a donzela, não?

Desço as escadas soltando um longo suspiro enquanto arrumo o colarinho da camisa. Eu tenho um valete, mas não me sinto confortável com a ideia de outra pessoa me vestindo a todo instante, meu valete mantém as roupas lavadas e organizadas, para mim é o suficiente.

Estou cansado, dormindo pouco mais de três horas por dia, meu corpo sente a necessidade de dormir porém o trabalho precisa ser feio e como há somente eu, os serviços aglomeram-se sobre mim.

Hoje estranhamente os criados estão bem acordados e agitados, os primeiros raios de sol surgem ao horizonte enquanto a casa mantém-se na escuridão, com as velas ajudando na iluminação dos cômodos.

Chego ao pé da escada enquanto termino de dobrar minhas mangas, alguns criados movimentam-se de um lado para o outro com lençóis, comida, pratarias e outras utilidades. Decidindo não intervir faço meu percurso tradicional até a cozinha para apanhar qualquer coisa antes de sair.

-Bom dia, milorde.

-Bom dia, senhor Donald. - Atento-me na outra manga da blusa, sem olhar mais para toda a agitação.

-Bom dia, Tony.

-Bom dia. Victoria. - Ando mais alguns passos antes de dar-me conta do que falei. Bom dia Victória? Giro meus calcanhares encontrando minha irmã sorridente parada na porta da sala de visitas.

-Vic? O que está fazendo aqui?

-Mamãe nos mandou vir. - Elizabeth coloca a cabeça para fora da porta e sorri, ela deveria estar na escola, o que diabos faz aqui?

Abri a boca para lhes perguntar, mas meu cunhado entrou pela porta principal limpando a terra de seu casaco. Marcamos uma reunião familiar e não fui avisado.

-Bom dia, Anthony.

-Bom dia, Isaac. Por que estão aqui? Deveríamos nos encontrar na casa do vovô!

-Mamãe mandou uma mensagem bem clara pedindo para estarmos aqui. Será cômodo para aguardar novas instruções. - Vic caminha até mim, depositando um beijo em meu rosto - E eu morei aqui, tenho todo o direito de vir quando quando quiser.

-Eu moro aqui. - Lilibeth responde.

-Eu estou aqui porque minha esposa precisou vir. - Isaac dá de ombros.

Complicaram meus planos de falar com Grace hoje. Seria fácil subornar Charlie para me ajudar, mas desviar as atenções de minhas outras duas irmãs? Impossível. Eu sei que a ideia é ridícula, o cortejo foi aceito e tornar-se público não seria estranho. Todavia imagino que Grace não se sentiria confortável com a ciência de todos com nossa relação.

-Certo, precisamos esclarecer algumas coisas antes que eu me vá. - Mudo meu caminho da cozinha para a sala de visitas. Assim que os outros três entraram, fecho as portas atrás de mim e solto um suspiro antes de começar - Logo a preceptora de Charlie estará aqui e pelo amor de Deus, não a assustem.

-Não somos monstros, Anthony. Sabemos como recepcionar uma senhora.

-Grace não é uma senhora, Vic. Eu pedi permissão para cortejá-la dois dias atrás e a mulher ainda me olha como se eu estivesse a caçando.

-Você pediu permissão de cortejo? Você está bem? - Lilibeth corre até mim e apoia a mão em minha testa, verificando minha temperatura - Anthony, nunca pensei que pediria alguém em cortejo. Você está bem? Sente-se mal?

-Estou perfeitamente bem. Sei que não é o mais apropriado dos momentos com tudo isso que está acontecendo, a doença do vovô, os medos de Harry... Mas realmente quero conhecê-la melhor.

-O que Charlie acha disso?

-Charlie está... De acordo, ela vem me ajudando com tudo.

-Quanto de chocolate pagou a ela? - Vic cruza os braços sobre o peito, olhando-me de maneira avaliadora.

-Mais do que qualquer criança deveria comer, sem contar os pagamentos em dinheiro que foram feitos a parte. Charlotte é uma mercenária de pior espécie.

-Está mesmo interessado na moça?

-Pretendo falar com a mãe dela esse fim de semana, pedir permissão oficialmente.

-Com a mãe? Ela não tem pai?

-É uma história complicada, o pai dela era o antigo médico na região.

-Doutor Edgell, o que morreu em um duelo. Lembro-me dele, estava acabado pelos vícios.

-Sim, sim, mas Grace sente-se incomodada em falar sobre isso. Preciso trabalhar agora e mais uma vez eu lhes peço, não assustem a mulher!

-Mamãe já sabe desse cortejo?

-Céus, não. Se soubesse abandonaria tudo e voltaria para acompanhar todo o cortejo de perto.

-Ela ficará brilhante como uma estrela quando souber que se casará.

-Um passo por vez, sim? Não desonrei Grace e acabei de pedir permissão para cortejá-la, creio que o casamento assuste tanto a ela quanto a mim.

-Mais a você, nós sabemos disso. - Elizabeth brinca com uma linha solta de uma saia - Prometemos nos comportar.

-Ótimo, agora deixe-me trabalhar. - Caminho até as portas duplas.

-Irei apenas me limpar e o encontro nos estábulos. - Isaac, que até então estava calado, diz ao me alcançar.

-Não deveria descansar da longa viagem? - Pergunto baixo.

-Céus, não. Victoria está maluca com essa situação deu seu avô e assim que juntou-se a Elizabeth começaram a me enlouquecer. Preciso sair daqui e recuperar a lucidez.

-Minha irmã sabe que sairá?

-Eu já a tinha avisado assim que chegamos.

-Vou preparar os cavalos, não demore.

-Não irei. - Então dispara escadas acima, pulando os degraus de dois em dois.

Duques não correm assim. Céus, Victoria está casada com o homem há um ano e o está tornando um selvagem como nós. O pobre homem está casado com minha irmã, quem poderia culpá-lo? Eu as amo, mas também estou louco para me livrar de cada uma delas e recuperar a paz que tive nos meus primeiros quatro anos de vida, antes da primeira delas chegar. Quatro anos depois veio outro e aos meus quatorze anos fui presenteado com a pior de todas, a pequena diaba mercenária.

Há sempre o lado bom de tudo. Grace terá a oportunidade de conhecer minhas irmãs e decidir se realmente quer continuar com o cortejo, minha família é importante para mim e eles sempre estarão presentes, quando eu estiver casado ou não.


Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde histórias criam vida. Descubra agora