ANTHONY D'EVILL
-Foi mesmo por este caminho que eles seguiram? - Harry pergunta - Estamos certos disso?
-Sim, estamos. Eles têm certa vantagem, não há como negar, mas estão em uma carroça então estamos mais rápidos.
-E se não conseguirmos encontrá-los?
-Essa possibilidade simplesmente não existe, Isaac. Vamos encontrar Grace, levá-la de volta em segurança e dar uma boa surra no infeliz antes de entregá-lo as autoridades.
-Sabe que o processo levará tempo, certo?
-Sou um nobre. Um visconde, futuro marquês. Posso fazer alguns acordos quando colocá-lo na prisão.
-Seu senso de justiça é comovente.
-Eles estão com duas horas de vantagem, duas horas e meia se formos sinceros. - Harry fala enquanto se concentra na corrida de seu cavalo - Estamos praticamente saindo de Horkisson. Não havia nenhuma carroça na estalagem da cidade ou na taberna.
-Então continuamos procurando. As estradas do leste são praticamente linhas retas, pelo amor de Deus, onde está a dificuldade?
Sim, estou no mínimo irritado, a possibilidade de algo pior acontecer a Grace corrói minhas entranhas e me causa calafrios dolorosos na espinha. Estou clamando aos céus que estejamos no caminho certo, sabe-se lá o que ele planeja fazer a ela. Completamente louco é um bom diagnóstico.
Grace sabia sobre os roubos de Freddie na loja do pai e quando descobriu isso enlouqueceu e sequestrou-a. Não, essa explicação não acalma meus nervos. Ele não planeja "fazer mal" a ela ou teria feito quando invadiu a casa, ele estava com uma faca, certo? Se ao menos tivesse cuidado do homem antes. Pessoas somem o tempo inteiro. Poderia ter lhe dado uma boa surra e sumir com o corpo. Quem procuraria? É só o filho esquisito do padeiro.
Não posso pensar esse tipo de coisa. Não é o certo. Por mais que esteja irritada e queira mesmo matá-lo, Grace não seria feliz casada com um assassino. Que exemplo eu seria aos meus filhos? Ainda que ninguém descobrisse, minha consciência me condenaria pelo resto dos meus dias e eu não teria paz.
Melhor jogar o maldito na cadeia e cuidar para que nunca saia de lá. Posso não matá-lo com minhas próprias mãos, mas farei o impossível para mantê-lo na prisão até seu último suspiro. Inferno, a forca deveria ser aplicada nos casos de sequestro também.
-Mamãe ficaria horrorizada pela quantidade de blasfêmias que andou falando nas últimas horas. - Ao notar minha pequena confusão, tratou de esclarecer-me - Não sei o que estava pensando, mas falou a parte de jogá-lo na cadeira e mantê-lo por lá em voz alta.
-Não é hora para piadas, Harry.
-Carroças e carruagens passam por aqui todos os dias. Não há como saber se uma dessas marcas na estrada é da carroça que procuramos.
-Precisa ser, Isaac.
Sabe-se lá quanto tempo passamos na estradas, os cavalos começaram a ficar ofegantes e fomos obrigados a diminuir o passo. Cavalos cansados não são rápidos, é a lógica da vida. Passamos por uma amontoado de árvores e folhas secas, o outono está chegando e toda essa bagunça natural atrapalha um pouco a locomoção. Foi então que o alívio inundou meu peito ao avistarmos uma carroça solitária na estrada, estava carregada, mas os suprimentos estavam tampados por uma lona e o condutor estava sozinho. Paramos os cavalos apenas para observa ao longe, o homem não notou nossa presença e os animais aproveitam a oportunidade para respirar um pouco.
-O que faremos agora? Não podemos simplesmente atacar ao homem! - Isaac tenta atrair a lógica para a conversa, porém não consigo pensar direito.
-Podemos pular nele e socá-lo.
-Não sejam idiotas. - Harry revira os olhos - As pessoas podem se entregar de maneiras muito mais simples. Qual é o nome do homem mesmo?
-Freddie Yuth.
-Observem. HEY, FREDDIE! - O condutor olha em nossa direção, não deve ser muito mais velho que Grace - O SENHOR YUTH QUER A CARROÇA DE VOLTA!
Freddie arregala os olhos e acelera o passo da carruagem tentando - inutilmente - se distanciar de nós. Harry sorri de maneira convencida e ostenta um olhar arrogante como se dissesse: "Você queria saber se era o homem, acabei de mostrar a você".
Sem mais demora colocamos os cavalos para correr em sua direção, estamos em maior número e somos mais rápidos. Ele não tem chance. O alcançamos rapidamente e Freddie sabe que precisa parar a carroça ou haverá um acidente feio.
-Por que estão me seguindo? - Pergunta ao parar, posicionamos nossos cavalos diante da carroça para evitar uma fuga. Desço do cavalo e me aproximo. Meu irmão e meu cunhado permanecem montados por precaução.
-Freddie Yuth?
-Não sei do que está falando.
-Você é a porra do Freddie Yuth e está com minha noiva nessa maldita carroça?
-Não estou levando carga alguma.
-Acha que sou idiota? - Aproximo-me mais, me controlando ao máximo para não arrancá-lo do assento e socá-lo até minha mãe adormecer.
-Tudo bem, estou sim com carga, mas são apenas sacos de farinha para a loja do meu pai.
Ando até a lona e começo a puxá-la para cima. Realmente tudo o que vejo são sacos de farinha. Solto o tecido, ainda não convencido nem um pouco, e o observo. O alívio inunda seu rosto quando pensa que irei me distanciar, mas faço justamente o contrário, puxo a lona toda para fora da carroça de uma vez.
E ali estava, colocada em meio a sacos de farinha, perto o bastante para drogá-la outra vez se precisasse e longe o bastante para que ela pulasse para fora da carroça sem que ele percebesse. Os pulsos amarrados nas costas, o vestido sujo de farinha, a pele avermelhada onde as cordas prendem e o que mais me revoltou, os cortes. Sangue seco do coro cabelo até a testa e outro pequeno rastro na bochecha.
-Apenas farinha, não é? - Demoro meu olhar sobre ela por mais um instante antes de encará-lo. Que se dane a forca, estou pronto para queimar no inferno se isso significa me livrar dele - Harry, fique com Grace e cuide dela.
-Anthony. - Escuto o tom repreensor de Isaac ao fundo, mas estou ocupado demais agarrando o casaco do idiota e lhe atirando para fora da carroça, na direção do chão.
A pequena melhora que senti ao lhe dar um chute no estômago é indescritível, mas não se compara ao prazer de lhe dar o primeiro soco.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Visconde Indecente - Os D'Evill 02
RomanceEssa é uma história de minha autoria, ou seja, DIREITOS AUTORAIS. É sempre bom lembrar que plágio é CRIME! Ele é teimoso. Ela é irritante. Ele é o filho do marquês. Ela é a preceptora. Anthony D'Evill nunca fugiu tanto de casamento como nos últimos...