ANTHONY D'EVILL
-Deveríamos estar trabalhando. Por que viemos aqui?
-Grace não apareceu para o trabalho hoje, há algo de errado.
Continuamos andando a cavalo pela via principal do vilarejo. Todos nos olham com curiosidade e muitos nos cumprimentam com movimentos de cabeça, que prontamente respondemos. Minha preocupação com Grace falou alto como nunca pensei ser possível.
Ela está duas horas atrasada para o trabalho e não enviou mensagem alguma relatando sobre um imprevisto. Por isso estamos aqui, por mais que Harry esteja reclamando. O lado de bom de ser uma região relativamente pequena é que todos sabem onde os outros moram.
-Precisaste da desculpa de um atraso para visitar sua noiva?
-Grace não quer divulgar nossa enlace e causar toda uma comoção por aqui, não quando nosso avô está tão doente.
-Pergunto-me como nossa mãe suporta tudo isso. Você não entende, Tony. É como se a própria casa estivesse doente, tenho a impressão de que por dentro o ar é úmido, não há muito acesso da luz solar ao interior. As janelas não são abertas para evitar que vovô tenha calafrios.
-É o pai dela. Mamãe faria o que precisasse para estar com ele.
-Papai parece tão ou mais perdido do que eu, mas ele consegue se ocupar. Sempre supervisionando as terras e os trabalhos, tendo reuniões esporádicas com o administrador. As pessoas o respeitam, o título dele é importante.
-E você acha que elas não lhe dão atenção porque ainda não assumiu o condado.
-Elas me veem como uma criança tola e perdida por ali. Como se eu estivesse passando as férias do colégio e não tentando ajudar. O povo de Wendwood é diferente de Brightdown.
-É por isso que precisa continuar insistindo. O respeito é conquistado, não herdado, Harry. Precisará lutar pela confiança dos seus subordinados. Não é porque será o novo conde que todos se entregarão a você em bandejas de pratas.
-Fala a língua dos trabalhadores.
-Exatamente. Eles não têm tempo para sentar e tomar chá ao final da tarde. Preferem conversar enquanto trabalham e é por isso que nosso pai está sempre sujo de terra.
-Aquele é o padeiro? - Direciona o queixo para o homem.
-Sim.
-Pelo que me contou do filho eu esperava um homem completamente diferente. Não há carroça ali. Que tipo de padeiro não tem uma carroça para transportar todos os suprimentos?
-Não faço ideia.
Seguimos calados por mais alguns instantes até chegar a casa de Grace. Desmontamos dos cavalos e não hesitei ao bater a porta. Harry continua com a expressão de tédio ao meu lado enquanto insisto mais uma vez, porém ninguém nos atende.
-Elas devem ter saído.
-A mãe trabalha e uma jovem fica com a filha caçula. Não há atividade para ser feita hoje.
-Claro.
-Escutou isso?
-Não. O que?
-Um ruído abafado. - Pressiono o ouvido e escuto outra vez - Há algo de errado lá. Destrua a porta, Harry.
-O que as pessoas pensarão ao ver os dois filhos do marquês invadindo uma casa no vilarejo?
-Pouco me importa o que pensarão, apenas faça ou eu farei.
Meu irmão revira os olhos antes de fazer o que lhe pedi. Assim que a madeira vem abaixo encontro Mary e a senhora Edgell amarradas uma a outra com cordas grossas e mordaças na boca. Ambas presas a um dos pé grosso de uma mesa de madeira.
-Meu Deus! - Corro na direção das duas e tiro suas mordaças antes de soltar as malditas cordas - Vocês estão bem? Onde está a Grace?
-Ele a levou. - Minha sogra responde e toma Mary em seus braços, tentando acalmar a menina enquanto verifica se ela foi machucada.
-Como isso aconteceu? - Harry pergunta.
-Alguém estava batendo à porta hoje cedo e quando abri Freddie estava lá com uma faca grande, não tive tempo para reagir, fiquei assustada. Quando dei por mim já estava amarrada aqui. Ele subiu para o andar de cima e voltou com minhas filhas amarradas. As duas estavam desacordadas.
-Ele levou a Grace. - A voz de Mary não sai mais alta que um sussurro.
-Encontre minha filha, Anthony. É tudo o que eu lhe peço.
Assinto e olho para Harry, que continuava estático na entrada da casa. Aproximo-me para falar baixo em seu ouvido.
-Vamos caçar hoje.
-Quem é Freddie?
-O filho do padeiro ao qual lhe falei.
-O que faremos com elas?
-Levá-las para Bright Hall. Aqui não é seguro.
-Há quanto tempo ele se foi? - Harry pergunta para a pobre mulher, ainda em estado de choque.
-Pouco mais que um par de horas.
-Já devem estar longe o bastante para encontrarmos pelas redondezas. - Meu irmão constata baixo, apenas para que eu escute.
-Daremos um jeito.
-Oh, eu sei que daremos.
Não sei ao certo como conseguimos, mas em tempo recorde estávamos no hall de entrada da minha casa enquanto eu gritava por minhas irmãs e os criados corriam de um lado para o outro providenciando quartos e comida para a mulher e sua pequena filha. Ainda não pensei em um plano, eles podem estar em qualquer lugar e estamos ao menos duas horas atrasados.
-E a garota que cuida de Mary? Onde ela está?
-Layla nos enviou um recado ontem à noite, pouco depois de ir embora ela retornou e nos disse que a mãe está doente e ficaria com ela hoje, mas poderíamos deixar Mary em sua casa.
Tudo o que faço é concordar antes de gritar por minhas irmãs. Essas mulheres estão sempre atrás de mim, como sombras e quando eu realmente preciso nenhuma aparece?
-Por Deus, Anthony. Precisa gritar como um louco? Onde estão seus modos? - Victoria finalmente aparece descendo as escadas em nossa direção - Oh! Senhora Edgell, é ótimo revê-la.
-Onde está seu marido?
-Na biblioteca, por quê?
-Conte a ela. - Digo para Harry antes de correr na direção do cômodo. Não surpreendendo-me ao encontrar Isaac sentado a mesa, fazendo anotações enquanto bebe o que imagino ser conhaque - Levante daí, temos uma caçada a fazer.
-Não estamos na temporada de caça. - O maldito não deu-se ao trabalho de desviar os olhos de suas anotações - Pensei que soubesse disso, D'Evill.
-Minha noiva foi sequestrada essa manhã então sim, estamos em temporada de caça. Levante dessa maldita cadeira, monte seu cavalo e me ajude a procurá-la. Harry está esperando por nós.
-Há quanto tempo ela foi levada?
-Pouco mais de duas horas.
-Eles podem estar em qualquer lugar, Anthony. Como saberemos para onde seguir?
-Para chegar a Brightdown sair de Brightdown há quatros possíveis caminhos. Por Zidenville; pelas montanhas e para isso precisaria invadir nossas terras; pelo sul atravessando o vilarejo, o que acho pouco provável pois já havia pessoas em circulação no horário do rapto. A última opção é pelo leste, até o baronato de Horkisson.
-São oito quilômetros de estrada até Horkisson.
-A senhora Edgell disse que Grace estava desacordada quando foi levada, Harry acha que eles devem estar em uma carroça para que Grace seja transportada sem levantar suspeitas. Ela estava amarrada.
-Então sabemos que caminho devemos seguir.
-Ótimo, agora mexa-se.
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Visconde Indecente - Os D'Evill 02
RomanceEssa é uma história de minha autoria, ou seja, DIREITOS AUTORAIS. É sempre bom lembrar que plágio é CRIME! Ele é teimoso. Ela é irritante. Ele é o filho do marquês. Ela é a preceptora. Anthony D'Evill nunca fugiu tanto de casamento como nos últimos...