Capítulo 9

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ANTHONY D'EVILL

-Por que fez isso, milorde?

-Não gostou?

-Não. Não, quer dizer, eu gostei, gostei bastante. Não há como não gostar, mas veja bem eu sou a preceptora e o senhor é um visconde. Já escutei histórias sobre suas aventuras amorosas com as outras serviçais da casa. Não quero ser mais uma, milorde.

Eu não poderia responder, não há como contra-argumentar sua fala. Eu realmente tive alguns envolvimentos com uma ou outra criada, mas não era nada sério para mim ou para elas. Este é um ponto bem importante para mim, se me envolverei com alguém é sempre bom deixar tudo esclarecido. Creio que por isso estou aqui parado, como um idiota, apenas olhando-a.

Salvando o dia depois de arruiná-lo completamente, Charlie abre a porta e coloca sua cabeça para dentro da estufa com um enorme sorriso.

-Estou muito encrencada?

-Eu diria que bastante.

Levanto-me e praticamente corro na direção da porta antes que a pequena diabinha tenha a oportunidade de trancá-la outra vez. Charlotte e Mary estão completamente molhadas, minha irmã deve tê-la levado para o rio brincar nas margens.

-Senhorita Edgell, depois de tantas emoções no dia de hoje a senhorita está livre para ir mais cedo. - Volto minha visão para a pequena pestinha que me olha descaradamente, parecendo bastante contente com o próprio plano, mesmo que eu duvide muito que ela tenha visto o beijo.

-Sim, milorde. - Sua resposta não é mais alta que um sussurro quando ela passa por mim e se ajoelha diante da irmã, que apesar de tudo parece bem feliz - Mary, você não sabe nadar. Nunca mais se aproxime do rio sem supervisão, entendido?

-Sim, Grace. Foi tão divertido, você deveria estar lá. Não brincamos bastante e vimos alguns animais também, a Charlie me mostrou um monte de pássaros.

-É melhor nós irmos querida, você está encharcada.

-Posso pedir ao cocheiro que prepara a carruagem para lhes levar até em casa.

-Não! Não precisa, senhor. Estamos agradecidas pela sua gentileza, mas preferimos a discrição, milorde.

-Mas Mary está molhada e as primeiras casas do vilarejo ficam a duas milhas de distância.

-Conheço um atalho! Não levará muito tempo para chegarmos em casa. - Ela toma a mão se Mary na sua e endireita sua postura, eu até poderia acreditar, mas seus olhos vacilaram e tenho certeza que ela está mentindo.

-Chamarei o cocheiro.

-Milorde, não estamos em uma boa época. Eu realmente agradeço sua gentileza, mas chegar em casa em uma carruagem e o brasão de sua família estampado é tudo que não precisamos.

-Certo, se a senhorita acha que não precisa.

-Realmente não precisa, mas eu agradeço. Não se preocupe amanhã colocaremos as aulas atrasadas em ordem. Vamos Mary.

Foi tudo tão rápido que antes de ter a oportunidade de responder, Grace passou por nós a toda velocidade com sua irmã. Na velocidade de um raio a mulher já estava no final da estrada de cascalho, virando pela lateral da casa e desaparecendo de vista.

O que se passa com essa mulher? Do que ela tanto foge?

-Ao menos pediste Grace em casamento?

-Eu mal a conheço, como poderia me casar com ela, Charlie?

-A Vic parece tão feliz com o Isaac. Pensei que se você casasse estar feliz igual a ela. Victória não para de sorrir quando ele está por perto!

-Charlie, eu sou feliz aqui. Tenho a melhor irmãzinha que poderia ter e o que você fez foi muito errado, atrapalhou meu serviço e as aulas da senhorita Edgell.

-Sinto muito, Tony.

-Preciso da sua ajuda, pequena diabinha. - Damos nossas mãos e começamos a caminhar juntos para dentro da casa.

-Em que posso lhe ser útil?

-Quero que me ajude com a senhorita Grace. - Digo baixinho, antes de estarmos perto o suficiente da casa para que algum criado nos escutasse.

-Vai casar com ela?

-Vai me ajudar?

-Por que quer ficar a sós com Grace?

-Quero conhecê-la melhor, oras. Gostaria que eu me casasse com uma estranha?

-E o que ganharei em troca?

-Chocolate.

-De quanto chocolate estamos falando?

-Muito.

-Certo,  pode contar comigo.

-Ótimo! Sábado vamos ao vilarejo comprar seu estoque de doce, tudo bem?

-É um prazer fazer negócios com você.

Charlie correu para se secar e trocar de roupa. Já que todos os cronogramas foram consideravelmente danificados hoje, nada melhor que passar o resto da tarde com minha irmã. Preciso mesmo averiguar os arrendatários e levar Charlie comigo parece uma ótima solução.

Energizada como é, certamente amará estar entre os animais e junto comigo ajudaremos as famílias que habitam em nossas terras. Para prosperar de fato é necessária uma relação de parceria e cooperação entre o senhor e seus subordinados. Detesto o modo como outros nobres mantém seus lucros, deixando que os arrendatários se cuidem sozinhos e arcam com todo o trabalho para no final do mês receber o administrador e cobrar pela sua parte.

Quando se cultiva certa amizade com eles a visão de mundo muda completamente. É fácil buscar seu dinheiro sem preocupar-se se outros estão necessitados ou se houve algum problema com os animais e com a colheita. Quando se trabalha com a natureza imprevistos podem surgir e a quem responsabilizará?

O pastor não teve culpa se alguma ovelha sofreu um acidente ou que uma praga tenha atacado sua plantação. Em Brightdown fazemos o possível para nos manter na melhor forma. Há acordos e conversas francas com os arrendatários expondo-lhes nossas opiniões sobre alguma modernização nova que pode ser cara de início, mas no futuro facilitará a colheita e a produção.

Meus irmãos e eu fomos ensinamos a amar estas terras da forma mais verdadeira, nos preocupamos com quem está em nossa propriedade e depende de nós. Minha mãe sempre organiza um grandioso jantar ao ar livre para que todos nós comemoremos a época de colheita. Todos adoram, é uma noite para festejar e estreitar relações.

Meu pai nunca teve preguiça de nadar rio abaixo para resgatar uma ovelha ou colocar as mãos no barro para ajudar na armação de um cercado. É assim que desejo manter as coisas e sei que meu irmão seguirá os mesmos passos em Wendwood. Harry acha que não está pronto para assumir o condado, mas sei que ele consegue.

Parte meu coração saber que terei de partir de Brightdown e mudar-me para Elbenia, mas se os investimentos podem ajudar a vida todos é aqui é isso que farei. Não é uma mudança permanente, voltarei para cá assim que possível, mas por enquanto tudo seguirá em sigilo. Não sei o que de fato acontecerá ao meu avô. Só nos resta esperar e ver o que futuro nos guarda.

Visconde Indecente - Os D'Evill 02Onde histórias criam vida. Descubra agora