A pequena sereia e o reino das ilusões

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SINOPSE:
Esqueça as histórias sobre sereias que você conhece. Esta é uma história diferente ― e necessária. E tudo começa no fundo do mar. Com uma garota chamada Gaia, que sonha em ser livre de seu pai controlador, fugir de um casamento arranjado e descobrir o que realmente aconteceu à sua mãe desaparecida. Em seu aniversário de quinze anos, quando finalmente sobe à superfície para conhecer o mundo de cima, Gaia avista um rapaz em um naufrágio e se convence de que precisa conhecê-lo. Mas do que ela precisa abrir mão para transformar seu sonho em realidade? E será que vale a pena? A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões chega para trazer um pouco mais de contos de fadas para a linha DarkLove, da DarkSide® Books. Mas não do jeito que você espera; aqui, a história original de Hans Christian Andersen ― e também suas versões coloridas e afáveis em desenhos animados ― é reimaginada através de lentes feministas e ambientada em um mundo aquático em que mulheres são silenciadas diariamente ― um mundo que não difere tanto assim da sociedade em que vivemos. No reino de ilusões comandado pelo Rei dos Mares, as sereias não recebem educação, não têm direito de fala, devem se encaixar em um padrão de beleza impossível e sempre sorrir. É neste cenário que a autora irlandesa Louise O’Neill apresenta uma história sobre empoderamento e força feminina. Com narrativa e olhar afiados, a autora ainda desenvolve aspectos do conto original que passaram batido, como o relacionamento de Gaia com as irmãs e as camadas complexas da Bruxa do Mar. A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões, que chega ao mundo acima da superfície da água com o padrão de qualidade que virou marca registrada da DarkSide® Books, mostra como, em um reino comandado pelo patriarcado, ter uma voz é arriscado. Mas também como querer usá-la é uma atitude extremamente poderosa e valiosa. Ainda mais em tempos tão sombrios.

O QUE EU ACHEI?
  Louise O'Neill nos trouxe uma história que eu não esperava, cheia de reviravoltas, mistérios e personagens complexos.
  É muito interessante acompanhar a evolução de Gaia durante sua trajetória. Em um primeiro momento, nos é apresentada Muirgen, a sereia obediente e bonita que seu pai, o Rei dos Mares, espera que ela seja. Mais para o meio da história, ela se transforma em Grace, a garota misteriosa que foi encontrada na praia. Somente no final que Gaia realmente surge, uma mulher forte e independente, totalmente diferente do que o seu pai a treinou para ser, e bem mais autêntica do que Grace era. A personagem se redescobriu ao longo do livro e isso foi totalmente delicioso de se ler.
  Um aspecto muito presente nesse livro é o machismo, tanto no fundo do mar quanto em terra firme. Nos dois lugares, se os homens/tritões fazem o que bem querem, inclusive negociar a sua filha de 16 anos para que ela se case com um tritão que tem idade para ser o avô dela (eu sei, é repulsivo).
  O'Neill construiu muito bem seus personagens. Uma sereia obediente, um Rei impiedoso, uma Bruxa empoderada, uma mulher traumatizada... são tantos personagens tão diferentes que é difícil acreditar que todos eles tenham saído de uma só mente.
  É um livro bem fácil de se ler e com um enredo bem desenvolvido. Gostei bastante.

É IGUAL AO DESENHO DA DISNEY OU AO CONTO ORIGINAL?
  Ao longo do livro percebemos várias referências ao conto original e ao desenho que a Disney produziu, porém não é igual a nenhum dos dois. Essas foram algumas das referências que eu percebi:
  Ao conto original: quando as sereias morrem, sua alma vira espuma do mar; sempre que a Gaia pisasse no chão, sentiria uma dor lancinante, como se estivesse andando sobre objetos pontiagudos; se o príncipe não se apaixonar pela Gaia até o fim do prazo, ela morrerá.
  Ao desenho da Disney: um tubarão, que aparece no início do desenho, também aparece no início do livro (mas não da mesma forma); a personagem é chamada de pequena sereia diversas vezes e por pessoas diferentes; Gaia erguendo a sua mão direita em direção a superfície, que faz referência a cena em que Ariel está cantando Part of Your Wolrd de dentro da sua caverna, onde ela guarda as coisas da superfície que encontra.

QUANTO TEMPO EU LEVEI PARA LER?
  Uma semana.

RECOMENDO?
  Sim. Essa releitura da história que conhecemos é simplesmente genial.

AS FRASES QUE EU MAIS GOSTEI:

"Eu sou o diamante da coroa do meu pai, e ele está determinado a me ostentar como tal."- página 17.

"Eu sou um troféu a ser conquistado  e Zale adora o gostinho da vitória."- página 33.

"Nós estamos enterrados vivos aqui embaixo."- página 40.

"Mesmo aqui, os humanos olham para cima, procurando por algo mais."- página 46.

"Eu não sabia que, enquanto eu arrumava meus brinquedos no quarto, meu corpo estava sendo vendido pelo maior lance."- página 55.

"Isso é tudo que sereias como eu podem esperar, sereias que deveriam se contentar com a beleza, a riqueza e o status. Talvez seja ganancioso da minha parte querer ser feliz também."- página 71.

"Pode ser um tanto desgastante fingir que você é algo que não é."- página 153.

"Uma mulher precisa ser forte para sobreviver."- página 155.

"Temos que ser duplamente melhores do que os homens para minimamente conseguir empatar com eles."- página 171.

"Começo a me questionar se quando chamamos uma mulher de louca não devemos também avaliar a pessoa ao seu lado e ver o que o sujeito andou fazendo para levá-la à insanidade."- página 172.

"O amor nunca é anormal, não importa a quem você decida entregá-lo."- página 188.

"Eu moro na escuridão porque lá posso ser genuína, e viver genuinamente é a coisa mais importante que qualquer mulher pode fazer."- página 197.

"Mulheres poderosas frequentemente ameaçam os homens inseguros."- página 198.

"Aquilo que consideramos garantido pode facilmente ser tirado de nós se não permanecermos vigilantes."- página 201.

"O não de uma mulher pode ser facilmente transformado num sim por homens que não querem levá-lo a sério."- página 203.

"Somos mulheres, e mulheres são guerreiras, afinal."- página 211.

"Ser genuína é a coisa mais importante que qualquer mulher pode fazer."- página 213.

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