Ísis lia um diário de sua ancestral, havia passado de geração em geração e contava algo ruim que acontecia na família era a maldição da primogênita Slovel.
Acontecia com todas as primogênitas de cada geração, em torno de dez anos falavam de um amigo imaginário e depois aos quinze anos desapareciam misteriosamente, Ísis já havia presenciado isso, a primogênita de sua geração foi sua própria Irma Daisy, e agora sua filha falava de um amigo imaginário.
Diário de April Slovel
15/09/1420
Querido Diário,
Meu maior sonho é ter um filho, mas não consigo realizar essa simples tarefa, estou desde o ano passado tentando engravidar e todas as tentativas foram em vão, já estou desesperada e não sei mais o que fazer, mas vou fazer tudo que está ao meu alcance para ter meu filho, meu marido, Matthew, disse que se eu não for capaz de ser mãe ele vai se separar de mim, só Deus sabe o quanto eu o amo, não posso deixar que isso aconteça.
16/12/1420
Querido Diário,
Hoje eu descobri um jeito para eu engravidar, os médicos não conseguiram me ajudar, mas encontrei uma mulher que meche com essas coisas de invocação e comunicação com seres de outro mundo, ela me ensinou o que eu preciso saber para eu engravidar através desse método, amanhã saberei se isso dá certo ou não.
Ísis leu a pagina do dia 17/12/1420 atordoada com o que seus olhos estavam lendo, era realmente surpreendente o que estava escrito ali.
Com isso vemos até onde uma mulher é capaz de ir para não ser deixada pela pessoa que ama. Ela conseguiu engravidar? Bem, ela era a única Slovel e sua linha familiar prevalece até os dias de hoje... Seu marido continuou com ela? Matthew disse que se separaria dela somente se ela não fosse capaz de ser mãe...
[...]
De acordo com o que a mulher havia lido tinha uma maneira de invocar o “amigo imaginário” de sua filha, era só pronunciar o sobrenome dele três vezes, era fácil, ela podia fazer isso, mas o que iria dizer exatamente a ele? Isso era algo que nem havia planejado, se ele aparecesse só ia pedir para se afastar de sua garota.
_Pólemos, Pólemos, Pólemos – disse com os olhos fechados, sentiu uma brisa batendo em seu corpo e um arrepio passando pela espinha.
_O que queres? – a mulher abriu os olhos rapidamente assim que ouviu a voz rouca, tentou falar, mas estava estática, não conseguia nem se mover – Diga o que queres. Não me invocou à toa não é?
_É... Sabe quem eu sou?
_Sim – falou com uma cara confusa pela pergunta – Ísis Slovel, irmã de Daisy, filha de Abby... Mãe de Violet – sussurrou as ultimas palavras, provocando raiva na mais nova.
_Sim, ainda bem que sabe quem eu sou assim me poupa de apresentações – cuspiu as palavras fazendo o demônio arquear uma sobrancelha.
_Cuidado com as palavras Slovel, me diga logo o que quer para que eu possa aproveitar minha noite – o tom malicioso em sua voz não passou despercebido pela mulher.
_Não é óbvio? Quero que se afaste de minha filha.
_É... Oi? – a confusão em seu semblante era notável.
_Não se faça de desentendido.
_Olha, você já esta começando a me irritar e tenho certeza que não vai querer me ver bravo.
_Você sabe do que estou falando – disse cruzando os braços abaixo dos seios.
_Ah que coisa mais chata – falou sentando em uma poltrona – Como pode uma menina tão legal como Violet ser filha de uma mulher tão rabugenta? Se sua filha não gostasse da minha companhia ela já teria reclamado para você, não é? Mas ao invés de reclamar ela só sabe falar de como o amigo dela é legal, não precisa ter medo de mim.
_Não tenho medo de você.
_Não? – soltou uma risada baixa e diabólica – Eu consigo sentir o seu medo, então não minta pra mim.
_Você quer que eu não tenha medo do homem que levou minha irmã embora e agora que levar minha filha?
_Olha, se isso te tranquiliza, eu não pretendo matar Violet como fiz com sua irmã – Ísis olhou para baixo, a tristeza estampada em seu rosto – Entenda, não é nada pessoal, mas Daisy era chata – disse fazendo uma careta.
_O que pretende fazer com minha filha então? – perguntou baixo, mas o suficiente para ele escutar e o mesmo deu um sorriso cafajeste com direito a covinhas e língua entre os dentes.
_Bom – passou o dedo indicador pelo queixo, pensando sobre o assunto – Se ela cumprir com o dever dela eu a deixo viver – gesticulou com as mãos.
_Cumprir com o dever?
_Ah, você não leu o diário de April?
_Li, mas lá não estava escrito sobre algum “dever” – disse fazendo sinal de aspas no ar.
Por um momento Áris ficou pensativo, esse tempo todo e a família Slovel não sabia o que tinha que fazer para agradá-lo? Ele nunca leu o diário da tal humana, mas pensou que no mínimo eles soubessem. Bom, mas se seu pai não havia contado à April o que tinham que fazer era porque ele tinha um motivo para não fazer isso.
_Esquece, não é importante agora, o fato é que eu não posso fazer o que me pediu.
_E porque não? – o desespero voltando a tomar conta de seu corpo.
_Como você já leu naquele diário inútil, foi um pacto e pactos não devem ser quebrados – falou se levantando e jogando uma piscadela na direção da mulher, ele olhou para cima e voltou a dar atenção à mulher com um sorriso cafajeste brincando nos lábios, logo ele desapareceu.
Ísis demorou um pouco para raciocinar, mas logo entendeu para onde ele estava olhando “Violet”, subiu as escadas correndo e abriu cuidadosamente a porta do quarto de sua filha, estava tudo calmo, tranquilo e normal como sempre esteve, fechou a porta silenciosamente e foi em direção a cozinha, depois disso tudo precisava tomar um chá para acalmar os nervos, logo em seguida foi para o seu quarto, necessitava de um bom sono.
Violet dormia feito um anjo até que sentiu uma mão em sua boca e acordou desesperada, viu o moreno de olhos azuis fazendo um sinal com o dedo indicando para fazer silencio. . .