Fumaça

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A dor de cabeça era algo comum, a dor nas juntas uma dolorosa tortura. Mas aquela falta de ar era algo novo, desconhecido, e incomodava mil vezes mais.
Se recostando ele inspirou o ar, sentindo as brasas do cigarro se acenderem, soprou lentamente e brincou com a fumaça que desaparecia.
Ele tinha péssimos hábitos, terríveis exemplos, abismos dentro de si mesmo. Mas ele acreditava na luz, acreditava com todas as suas forças.
Enquanto se rendia ao desespero e via suas esperanças indo junto a fumaça translúcida, ele quis voltar para o início, quis mudar suas palavras, quis ter sido outra pessoa.
Mas querer aquilo não mudaria nada.
Não havia mais nada a ser feito, porque tudo já havia sido. Sem despedidas, sem arrependimentos, sem tempo para voltar atrás. Tudo estava estranhamente quieto, a tempestade havia passado, mas não haveria um céu limpo esperando por ele.
Só haveriam cinzas e fuligem.
O incêndio dentro de sua alma levara tudo e o deixara apenas com seu corpo, um lugar que deveria chamar de lar, e um último cigarro para apreciar.
A ironia estava lá, a cada baforada.

Estephany C.S.A

Poesia Aos VentosOnde histórias criam vida. Descubra agora