- Diana, tenha misericórdia de nós! Deus sabe por quanto tempo eu e as meninas temos remoído cada passo que demos, cada palavra que falamos e até as nossas respirações e não encontramos nenhum motivo para isto! – Disse Anne, ajoelhada ao pé da cama de amiga, que estava deitada e enrolada com a coberta de forma que só o seu rosto estava de fora.
A jovem se queixava do grande desânimo que arrebatara Diana desde que se passaram as primeiras semanas em Queens College e a nova rotina se estabeleceu na vida delas. Ela malmente ia para as aulas, não demonstrava disposição com nada e nem se animava em acompanhar as amigas nos passeios da tarde que elas faziam.
- Sinceramente, Diana, acho que você não está feliz de vir para cá. Porque então fez a prova, e sabe-se lá o que mais para convencer os seus pais a finalmente deixar você vir? Para ficar com essa cara horrível do nosso lado? – Jane Andrews falou, cruzando os braços ao redor do peito e ficando de frente para a amiga, que pelo ângulo que estava, só conseguia fitar parte do vestido verde vômito dela e não a sua cara enfurecida.
- Não fala assim com ela! – tentou defender Ruby Gillis, que estava no canto do quarto – mas, por favor nos deixe entender o que aconteceu.
Diante daquele ultimato, com os cinco rostos de suas amigas lhe encarando, Diana resolveu expor tudo o que vinha sentindo e antes mesmo de abrir a boca, sentia seu rosto corar de vergonha. E começou a falar, baixinho:
- Bom, vocês lembram do Jerry Baynard, não é mesmo?
- Aquele menino loiro e com a cara esquisita da aula de literatura? – indagou Tillie Boulter.
- Não! – bufou Anne – É o menino que trabalha em Green Gables com o Matthew.
- Ahh, o francês – assentiu Ruby – Uh, o francês – ela repetiu quando se deu conta de para onde a conversa estava indo.
E como se estivessem prevendo que ouviriam uma história de amor, sentaram-se no chão formando um semi círculo próximo a cama de Diana.
- Anne sabe de uma parte, na verdade ela descobriu. Então não me culpem, mas era tão confuso – Diana choramingou – Eu não sei exatamente onde começou, mas, a partir de algum momento eu comecei a enxergar Jerry de uma forma que eu não via antes. E meu coração palpitava só de vê-lo. Por vezes inventei de ir à casa de Anne só para me fazer ser notada por ele.
As meninas se entreolharam, Diana continuou:
- Certo dia, fui à cidade com uma das empregadas da minha casa, e passamos no que ela chamou de abatedouro, lá fui atacada por um cachorro e caí no chão. Quando foram me ajudar, percebi que Jerry estava lá. E então, como tinha torcido o tornozelo e fingi que estava sem conseguir andar, acabei ficando na casa dele. - NA CASA DELE?! – Ruby exclamou embasbacada.
- Sim, mas bem, não do jeito que vocês estão imaginando. Porque na verdade o abatedouro é na casa dele. – A jovem prontamente corrigiu os olhares maldosos das amigas – Jantei com a família dele e durante o jantar eu percebi que o Jerry finalmente tinha me notado.
- Está bem. Então você só está com saudade de vê-lo? – palpitou secamente Josie Pye, com seus olhos de peixe morto e lábios retorcidos, desdenhando da melhor forma que sabia fazer.
- Deixa ela terminar a história! – Implorou Anne, encantada com o romance trágico da amiga. Já que ela nunca soube de tantos detalhes da história antes do fim triste que havia levado e da briga homérica que tivera com Diana por não ter contado nada para ela sobre o caso.
- Ficamos cantando e dançando, eu e toda a família do Jerry, após o jantar. Conversamos um pouco aquele dia, mas não muito porque não dormi lá. Meus pais acabaram indo me buscar. Acharam um grande absurdo eu estar na casa dos Baynard.
